O Evangelho de S. Lucas conta a subida de Jesus a Jerusalém, quando, deixada a Galileia, Jesus quer iniciar a sua missão na Judeia. Passar pela Samaria não é apenas uma exigência geográfica, é uma oportunidade para viver uma experiência única, a primeira vez que é frontalmente recusado por alguém. De facto, os samaritanos não se davam com os judeus. Eles adoravam Deus no Monte Garizim enquanto os judeus adoravam o mesmo Deus em Jerusalém (cf Jo 4, 21). Por isso os samaritanos recusaram acolher Jesus. Os filhos de Zebedeu chegaram mesmo a querer que fogo descido do céu caisse sobre aquela terra. Apesar de tudo isto, Jesus toma a decisão de subir à Cidade Santa onde será condenado. Não são só os samaritanos que impedem a sua ida a Jerusalém, são também os discípulos que chegam a pedir-lhe que não vá, e o próprio Jesus, sente por antecipação a oração que fará mais tarde: “Pai afasta de Mim este cálice” (Lc 22, 42). Apesar de tudo leva a sua decisão até ao fim.
Esta atitude radical será proposta também aos que seguirem Jesus, uma vez que vão ser convidados a uma atitude de radical liberdade: liberdade perante as coisas, porque o filho do homem não tem uma pedra onde reclinar a cabeça; liberdade perante as pessoas, porque não se pode perder tempo com os mortos, que se sepultem uns aos outros; liberdade perante as situações, porque “quem mete a mão ao arado e olha para trás não é digno de ser seu discípulo” (cf Lc 9, 62). Este desafio da radicalidade na decisão é a grande proposta que é feita aos cristãos, que não podem ficar na mediocridade de uma hesitação frustrante que os impeça de seguir Jesus até ao fim.
É esta radicalidade que se encontra em todas as vocações ao longo da Sagrada Escritura. A Liturgia de hoje traz o exemplo de Eliseu que, chamado por Elias se decidiu a ir com ele a anunciar mensagens de esperança para o povo. Numa decisão radical acabou por ser o continuador do profeta (cf. 1Rs 19, 21). Também Paulo na sua Carta aos Gálatas convida a ser radical na liberdade. Não a liberdade dos instintos, mas a liberdade do espírito aquela que é superior à lei. O Apóstolo descreve depois os resultados de uma escravidão e os frutos da verdadeira liberdade (cf Gl 5, 19-23).
Ser radical nas decisões cristãs é um desafio feito por Jesus Cristo a todos os que O seguem. Não é fácil viver como cristão na família, no trabalho, nos vários ambientes, mas o apelo de Cristo é exactamente esse, decidir ir com Ele até ao fim, em todas as circunstâncias.
Monsenhor Feytor Pinto *********************************************************
«QUEM TIVER LANÇADO AS MÃOS AO ARADO E OLHAR PARA TRÁS NÃO SERVE PARA O REINO DE DEUS.»
(Lc 9, 62)
I LEITURA – 1 Reis 19, 16b.19-21
A vocação de Eliseu.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Naqueles dias, disse o Senhor a Elias: «Ungirás Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meola, como profeta em teu lugar». Elias pôs-se a caminho e encontrou Eliseu, filho de Safat, que andava a lavrar com doze juntas de bois e guiava a décima segunda. Elias passou junto dele e lançou sobre ele a sua capa. Então Eliseu abandonou os bois, correu atrás de Elias e disse-lhe: «Deixa-me ir abraçar meu pai e minha mãe; depois irei contigo». Elias respondeu: «Vai e volta, porque eu já fiz o que devia». Eliseu afastou-se, tomou uma junta de bois e matou-a; com a madeira do arado assou a carne, que deu a comer à sua gente. Depois levantou-se e seguiu Elias, ficando ao seu serviço.
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 15 (16), 1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. cf. 5a)
Refrão: O Senhor é a minha herança. Repete-se
Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio.
Digo ao Senhor: «Vós sois o meu Deus».
Senhor, porção da minha herança e do meu cálice,
está nas vossas mãos o meu destino. Refrão
Bendigo o Senhor por me ter aconselhado,
até de noite me inspira interiormente.
O Senhor está sempre na minha presença,
com Ele a meu lado não vacilarei. Refrão
Por isso o meu coração se alegra
e a minha alma exulta
e até o meu corpo descansa tranquilo.
Vós não abandonareis a minha alma
na mansão dos mortos,
nem deixareis o vosso fiel sofrer a corrupção. Refrão
Dar-me-eis a conhecer os caminhos da vida,
alegria plena na vossa presença,
delícias eternas à vossa direita. Refrão
II LEITURA – Gal 5, 1.13-18
Deus é livre e enviou o Filho a chamar-nos à liberdade. Isto não significa, evidentemente, que o cristianismo seja um convite à licença. Mais do que ninguém, o cristão está vocacionado para fugir do mal e para realizar a justiça.
Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Gálatas
Irmãos: Foi para a verdadeira liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não torneis a sujeitar-vos ao jugo da escravidão. Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Contudo, não abuseis da liberdade como pretexto para viverdes segundo a carne; mas, pela caridade, colocai-vos ao serviço uns dos outros, porque toda a Lei se resume nesta palavra: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». Se vós, porém, vos mordeis e devorais mutuamente, tende cuidado, que acabareis por destruir-vos uns aos outros. Por isso vos digo: Deixai-vos conduzir pelo Espírito e não satisfareis os desejos da carne. Na verdade, a carne tem desejos contrários aos do Espírito e o Espírito desejos contrários aos da carne. São dois princípios antagónicos e por isso não fazeis o que quereis. Mas se vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sujeitos à Lei de Moisés.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – 1 Sam 3, 9; Jo 6, 68c
Refrão: Aleluia. Repete-se
Falai, Senhor, que o vosso servo escuta.
Vós tendes palavras de vida eterna. Refrão
EVANGELHO – Lc 9, 51-62
Radicalidade nas decisões cristãs é o desafio feito por Jesus Cristo a todos os que O seguem.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça». Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o reino de Deus». Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus».
Palavra da salvação.