A ALEGORIA DO PERDÃO – A originalidade do Evangelho conduz-nos nas relações com Deus e nas relações fraternas para a importância do perdão. Durante milénios, Deus foi considerado capaz de irar-se contra o homem e de aplicar-lhe castigos violentos. Na relação humana imperava a lei de Talião, olho por olho, dente por dente. Numa certa cultura, mais benigna ainda, se aceitava perdoar duas vezes. Quem perdoasse três vezes era considerado incapaz de afirmar-se. Jesus Cristo, ao entrar na história humana, trouxe consigo o convite ao perdão sem condições. Quando Pedro lhe pergunta quantas vezes deve perdoar-se, se sete vezes, Jesus responde que se deve perdoar setenta vezes sete vezes (Mt 18, 21-22). No discurso da montanha Jesus chega a afirmar que o perdão é mais importante que o sacrifício (cf Mt 5, 21). Ele mesmo, Jesus, não veio para os justos, mas para os pecadores. Disse mesmo que os sãos não precisam de médico, mas os que estão doentes. Jesus, na Boa Nova que anuncia, convida a perdoar sempre sem condições.

A liturgia de hoje, com três exemplos maravilhosos, descreve a alegria do perdão. É o pastor que recupera a ovelha perdida, é a dona de casa que reencontra a dracma caída no chão, é o pai que recebe o filho pródigo de braços abertos. Nas três histórias faz-se sempre uma festa revelando que a comunidade acolhe sem condições aqueles que pelas razões mais diversas se extraviaram. Sem dúvida, que a alegoria do perdão está mais representada na parábola do pai que perdoa. Conhecem-se os motivos da partida do filho mais novo, sabem-se as razões pelas quais o filho mais velho não quer participar na alegria de todos. Para ambos, o pai só tem uma atitude, a de perdoar sem condições. Contra todos os critérios do mundo, o filho, que esbanjou parte da fortuna, passará a ser o administrador da casa, por isso lhe é posto o anel do brasão no dedo. Ao mais velho, o pai reafirma todo o seu carinho, a sua ternura, numa comunhão de vida que, de forma alguma, pode ser perturbada. Fora do contexto do Evangelho, o perdão nestas dimensões é humanamente incompreensível.

O sinal de que todo o perdão é possível está no exemplo de um Deus rico em misericórdia. Ele deu à Humanidade o seu Filho Unigénito, para que, reconciliados, todos tenham vida e vida em abundância. Jesus Cristo deu a maior prova de amor, oferecendo o perdão de Deus através do grande sacrifício da cruz. Como nota final, não pode deixar de referir-se que aos hebreus, que tinham substituído Javé por um bezerro de ouro, o Senhor acaba por perdoar, continuando a acompanhar o seu povo até à Terra Prometida onde corria leite e mel.

Neste conjunto de símbolos, qualquer cristão compreende que onde abundou o pecado e a culpa, superabunda a dádiva do perdão, só porque Deus é amor.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto
********************************************************

«HAVERÁ ALEGRIA ENTRE OS ANJOS DE DEUS

POR UM SÓ PECADOR QUE SE ARREPENDA».

(Lc 15, 10)

I LEITURA – Ex 32, 7-11.13-14

O bezerro de ouro.

Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, o Senhor falou a Moisés, dizendo: «Desce depressa, porque o teu povo, que tiraste da terra do Egipto, corrompeu-se. Não tardaram em desviar-se do caminho que lhes tracei. Fizeram um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele, ofereceram-lhe sacrifícios e disseram: ‘Este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egipto’». O Senhor disse ainda a Moisés: «Tenho observado este povo: é um povo de dura cerviz. Agora deixa que a minha indignação se inflame contra eles e os destrua. De ti farei uma grande nação». Então Moisés procurou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo: «Por que razão, Senhor, se há-de inflamar a vossa indignação contra o vosso povo, que libertastes da terra do Egipto com tão grande força e mão tão poderosa? Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome, dizendo: ‘Farei a vossa descendência tão numerosa como as estrelas do céu e dar-lhe-ei para sempre em herança toda a terra que vos prometi’». Então o Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo.
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 50 (51), 3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15, 18)

Refrão: Vou partir e vou ter com meu pai. Repete-se

Compadecei-Vos de mim, ó Deus,
pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas. Refrão

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade. Refrão

Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca anunciará o vosso louvor.
Sacrifício agradável a Deus
é um espírito arrependido:
não desprezeis, Senhor,
um espírito humilhado e contrito. Refrão

II LEITURA – 1 Tim 1, 12-17

S. Paulo dá graças a Deus porque, tendo sido «blasfemo, perseguidor e violento», alcançou misericórdia.

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo: Dou graças Àquele que me deu força, Jesus Cristo, Nosso Senhor, que me julgou digno de confiança e me chamou ao seu serviço, a mim que tinha sido blasfemo, perseguidor e violento. Mas alcancei misericórdia, porque agi por ignorância, quando ainda era descrente. A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus. É digna de fé esta palavra e merecedora de toda a aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores e eu sou o primeiro deles. Mas alcancei misericórdia, para que, em mim primeiramente, Jesus Cristo manifestasse toda a sua magnanimidade, como exemplo para os que hão-de acreditar n’Ele, para a vida eterna. Ao Rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amen.
Palavra do Senhor.

ALELUIA — 2 Cor 5, 19

Refrão: Aleluia. Repete-se

Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação. Refrão

EVANGELHO – Forma longa – Lc 15, 1-32

As parábolas da misericórdia.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa». Jesus disse-lhes ainda: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».
Palavra da salvação.

EVANGELHO – Forma breve – Lc 15, 1-10

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Eu vos digo: Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Eu vos digo: Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».
Palavra da salvação.