REPARTIR COM OS POBRES – A Palavra do rico avarento domina a liturgia deste domingo. Estão frente a frente um pedinte, cheio de sofrimento, que se senta à porta de um grande senhor na esperança de receber alguma dádiva, lenitivo para o seu tormento. Este mendigo é Lázaro. Da mesa do rico não lhe vem o mínimo que ao menos lhe pudesse matar a fome. Ao contrário, o grande senhor tem tudo. Além de uma mesa opulenta, uma casa com todo o conforto, tem ainda a arrogância que lhe permite tratar Lázaro com desprezo. A parábola de que fala Jesus tem um toque de beleza: o pobre Lázaro é recebido em festa no seio de Abraão, enquanto o rico avarento é atirado para a solidão mais extrema. Parece repor-se a justiça nesta relação entre dois homens com a salvação de Lázaro e a condenação do avarento. O senhor que teve tudo, pensa que poderá ter influência junto de Abraão. Pede-lhe clemência, mas Abraão responde que o fosso que os separa não permite que uma simples gota de água, trazida por Lázaro, possa servir de lenitivo para tal condenação. O rico julga ter ainda influência e pede ao menos pelos irmãos, que venham a ser avisados para não cairem no mesmo tormento. Porém, este aparente gesto de solidariedade fraterna, não pode ser conseguido, porque salvação e condenação, passam pela atitude pessoal de cada um. Se os que se dizem ricos, não são capazes de ouvir os profetas que os convidam a praticar o amor, também não serão capazes de ouvir os mensageiros que Abraão lhes enviaria. Esta parábola é quase violenta, mas convida a que todos se sintam iguais perante Deus e todos criem laços de igualdade e entreajuda na relação fraterna.

Esta figura do rico avarento está bem descrita na violência com que Amós condena os ricos sem coração que vivem comodamente, se banqueteiam, são indiferentes perante os problemas do povo. Todos eles são, como o rico avarento, insensíveis ao sofrimento dos Lázaros.

Na Carta a Timóteo, por isso, Paulo fala das virtudes essenciais para quem se diz cristão: a justiça, dando a cada um aquilo a que ele tem direito; a fé, projectada na caridade, porque sem as obras, a fé é morta; a perseverança essencial à continuidade do amor; e a mansidão que é o contrário da arrogância. Aliás, Paulo recomenda guardar o mandamento do Senhor, porque só pelo amor se reconhece em Deus glória e poder.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto
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«RECEBESTE OS TEUS BENS EM VIDA E LÁZARO APENAS OS MALES.

AGORA ELE ENCONTRA-SE AQUI CONSOLADO,

ENQUANTO TU ÉS ATORMENTADO.»

(Lc 16, 25)

I LEITURA – Am 6, 1a.4-7

O profeta denuncia a injustiça social que se instalou «no reino do Norte» judeu, no séc. VII a.C.: uma vida requintada para os ricos, uma miséria extrema para os pobres. E «os notáveis … não se inquietam com o descalabro» iminente.

Leitura da Profecia de Amós
Eis o que diz o Senhor omnipotente: «Ai daqueles que vivem comodamente em Sião e dos que se sentem tranquilos no monte da Samaria. Deitados em leitos de marfim, estendidos nos seus divãs, comem os cordeiros do rebanho e os vitelos do estábulo. Improvisam ao som da lira e cantam como David as suas próprias melodias. Bebem o vinho em grandes taças e perfumam-se com finos unguentos, mas não os aflige a ruína de José. Por isso, agora partirão para o exílio à frente dos deportados e acabará esse bando de voluptuosos».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 145 (146), 7-10 (R.1b)

Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor. Repete-se

Ou: Aleluia. Repete-se

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos. Refrão

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos. Refrão

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores. Refrão

O Senhor reina eternamente.
O teu Deus, ó Sião,
é Rei por todas as gerações. Refrão

II LEITURA – 1 Tim 6, 11-16

S. Paulo, que colocou Timóteo à frente da comunidade de Éfeso, dá-lhe conselhos: «combate o bom combate, … guarda a Palavra». E recorda~lhe que, para o cristão, a vida é uma caminhada ao encontro do Senhor Jesus, que há-de vir. 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo a Timóteo
Caríssimo: Tu, homem de Deus, pratica a justiça e a piedade, a fé e a caridade, a perseverança e a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e sobre a qual fizeste tão bela profissão de fé perante numerosas testemunhas. Ordeno-te na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Cristo Jesus, que deu testemunho da verdade diante de Pôncio Pilatos: Guarda o mandamento do Senhor, sem mancha e acima de toda a censura, até à aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual manifestará a seu tempo o venturoso e único soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores, o único que possui a imortalidade e habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu nem pode ver. A Ele a honra e o poder eterno. Amen.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – 2 Cor 8, 9

Refrão: Aleluia. Repete-se

Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre,
para nos enriquecer na sua pobreza. Refrão

EVANGELHO – Lc 16, 19-31

O rico que dava esplêndidas festas e o pobre chamado Lázaro.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de púrpura e linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias. Um pobre, chamado Lázaro, jazia junto do seu portão, coberto de chagas. Bem desejava saciar-se do que caía da mesa do rico, mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas. Ora sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado. Então ergueu a voz e disse: ‘Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas’. Abraão respondeu-lhe: ‘Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, ou daí para junto de nós, não poderia fazê-lo’. O rico insistiu: ‘Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna – pois tenho cinco irmãos – para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento’. Disse-lhe Abraão: ‘Eles têm Moisés e os Profetas: que os oiçam’. Mas ele insistiu: ‘Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão’. Abraão respondeu-lhe: ‘Se não dão ouvidos a Moisés nem aos Profetas, também não se deixarão convencer, se alguém ressuscitar dos mortos’».
Palavra da salvação.