I Domingo do Advento – Celebração transmitida em directo

 

Começamos hoje o tempo de Advento.

São quatro domingos em que mergulhamos na tensão da espera, em que aguardamos essa luz que vem do futuro, em que aceitamos entrar na aventura de ser outra coisa.

É uma oportunidade para recomeçar, para continuar a construção do inacabado, para correr na esperança de sermos alcançados.

“Oh, se rasgásses os céus e descêsses!”, podemos dizer hoje com Isaías. Se viesses ao nosso encontro para que não nos desviemos do caminho, como um bom amigo a caminhar ao nosso lado… Se as nuvens fizessem chover sobre nós a certeza do futuro…

Mas Tu já vieste e caminhaste connosco todos os passos decisivos! É agora tempo de Te reconhecermos no nosso caminho, de estarmos vigilantes pressentindo a Tua chegada, de erguermos os olhos vislumbrando-Te por entre o pó do caminho.

É bem diferente o nosso deserto daqueles que Tu caminhaste. Hoje vivemos o deserto do isolamento, do confinamento, do recolher obrigatório; os nossos desertos são casas vazias, a mesa sem o riso da família e dos amigos, as camas de hospital sem os rostos familiares para nos animarem a cada dia.

Os nossos desertos são o medo e a insegurança de não sabermos o que vai ser de nós e dos nossos. São a insegurança do desemprego e da precaridade dos sonhos e projectos adiados, dos abraços que agora não podemos dar…

Numa passagem do Evangelho de Marcos, o cego curado por Jesus, ao recuperar a visão, afirma: “Vejo os homens que são como árvores que andam”. Quando a primeira luz lhe invade os olhos, é o que ele é capaz de ver. E o que vemos nós no nosso deserto? No meio de todas as realidades que podem ser duras de atravessar, o que vemos nós?

A vigilância que Jesus nos chama a ter não é aquela de quem vigia com medo, não é a daquele que receia ser apanhado no erro. É a vigilância da prontidão, daquele que aguarda com alegria no coração, como a mãe espera o filho, como a amada espera o amado, como o amigo espera a carta do amigo que está longe…

Retomemos hoje esta aventura de ser outra coisa. Procuremos por entre a poeira e a cegueira deste deserto em que vivemos, e que nos parece duro, e seco, e inóspito, observar a vida na sua surpresa, descobrir a beleza que há em cada pessoa e sonhemos! Sonhemos com a aurora de um dia novo!

29 Novembro 2020