1. A gratidão não faz parte do vocabulário de muitos dos contemporâneos deste século. O jogo das relações humanas é muito mais o dos interesses que cada um tem e que procura fazer valer. A maior parte das pessoas está preocupada com o “ganhar”: ganhar poder, ganhar prestígio, ganhar dinheiro, ganhar sempre mais. É interessante recordar algumas das expressões frequentes que se ouvem por todo o lado.
.“Afinal, quem manda aqui?” É um dito que se ouve na relação entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre colaboradores do mesmo trabalho e, até, na vida social e política.
.“Eu sou mais velho, tenho prioridade”. Invoca-se a idade para passar à frente dos outros, para se sentar nos melhores lugares, para ter direitos acrescidos nas relações sociais.
.“Eu é que sei, tenho mais conhecimentos e mais experiência”. Invocam-se os títulos adquiridos nas escolas ou o currículo vasto que revela uma vida já longa ou com muitas relações, sejam culturais, sociais ou políticas.
“O senhor tem muito que aprender”. Esta é uma afirmação de quem se sente sempre superior ao outro, não lhe dando espaço nem para opiniões, nem para decisões, mesmo num diálogo aparentemente responsável.
.“Estes são os meus direitos”. Repete-se nas manifestações, nas reivindicações sociais, nas greves, em todos os momentos de conflito laboral ou de outra natureza.
De facto, vive-se num mundo onde predomina o egoísmo, o egocentrismo. O culto da importância pessoal, a afirmação da qualidade de vida apenas material, indicam que cada pessoa está centrada em si mesma. Fala-se do diálogo, mas não se aceita a verdade do outro. Fala-se da cidadania, mas cada homem e cada mulher reclama a cidadania para si, sem a necessária atenção ao bem comum.
2. Os cristãos não podem ser assim. Caracterizam-se pelo amor fraterno que deverá levá-los a dar prioridade ao outro, sempre e em todas as suas tarefas. É desde pequenino que se deve aprender a agradecer. O Papa Francisco diz que há três palavras fundamentais nas relações humanas: “perdão”, “com licença” e “obrigado”. “Perdão”, se se molesta alguém, “com licença” se tem de passar-se à frente do outro e “obrigado” quando recebemos do outro qualquer benefício. O cristão deve saber agradecer sempre:
.A Deus que lhe deu a vida, a inteligência, a liberdade, a sensibilidade, a capacidade de amar, a natureza inteira que lhe foi dada para respeitar e transformar.
.Aos pais que lhe proporcionaram as maiores atenções em criança e, depois, o ajudaram a crescer, a desenvolver-se, a construir um ideal e a atingir objectivos maravilhosos.
.À comunidade cristã que o levou a nascer para a fé, a crescer nos valores da vida, a escutar a Palavra de Deus, Palavra que renova e salva, a celebrar os Sacramentos, sobretudo a Eucaristia, sinais de um amor incalculável de Jesus Cristo por cada um.
.Aos colegas de trabalho com quem partilha a actividade de cada dia, um serviço a prestar para o desenvolvimento da comunidade e para a felicidade de toda a gente.
.Ao grupo de amigos com quem partilha a alegria e o sofrimento, o grupo que dá conforto, para se não estar só, na difícil caminhada do dia a dia.
.E, ainda, aos pobres e aos que sofrem porque constituem uma oportunidade para se sair de si e ir ao encontro de quantos precisam de ajuda para serem felizes.
Quantas mais razões de gratidão se poderiam referir. S. Paulo, numa das suas Cartas dizia: “Sou o que sou, pela graça de Deus que, em mim não foi vã” (1Cor 15, 10) e o escritor Bernanos, no seu livro Le journal d’un curé de campagne, termina dizendo: “Tudo é graça”. De facto, Deus está presente em toda a vida do ser humano e todo o bem recebido é um maravilhoso dom de Deus. A oração tem de ser sempre “Acção de Graças”
3. A Paróquia do Campo Grande acaba de celebrar um acontecimento extraordinário, a visita Pastoral do Bispo da Diocese. O Senhor Patriarca e um dos seus Bispos Auxiliares, o sr. D. Joaquim, foram presença na vida dos cristãos, inseridos na Comunidade Paroquial dos Santos Reis Magos. É hora de gratidão, a tal palavra que quase não cabe no dicionário deste terceiro milénio. Os cristãos, aqui, querem agradecer:
.Agradecer ao Senhor Patriarca e ao senhor D. Joaquim que estiveram com toda a comunidade, nas diversas iniciativas que aconteceram. A visita pastoral foi marcada por um tema: “Com Cristo Bom Pastor, ao encontro de todos”. Os Bispos da Diocese, bons pastores, quiseram ir ao encontro de todos.
.Agradecer a todos os responsáveis da comunidade paroquial que trabalham na acção profética, na actividade litúrgica e nos gestos concrectos de caridade. Cada departamento pastoral “mostrou” o que faz e como o faz, merecendo a alegria do nosso Bispo, pelo trabalho realizado com competência e extraordinária exigência pastoral.
.Agradecer a todos os trabalhadores e responsáveis do Centro Social Paroquial, “fábrica da caridade” entre nós, lugar onde se acolhem crianças, adolescentes, jovens e idosos, para os ajudar a transpor as dificuldades e a descobrirem, cada vez melhor, o sentido da vida.
.Agradecer aos voluntários dos vários sectores que não se pouparam na colaboração constante de toda a acção pastoral que aqui se desenvolve. Sem o voluntariado não se chegava tão longe.
.Agradecer aos trabalhadores dos serviços mais simples, os porteiros, os motoristas, as senhoras que cuidam da arrumação da casa. Sem estas pessoas, o nosso ambiente não era saudável, nem feliz.
.Agradecer a tantas pessoas anónimas que discretamente nos foram ajudando para que a Visita Pastoral à Paróquia do Campo Grande fosse um êxito.
.Agradecer, finalmente, ao nosso prior, o mentor de toda a acção que aqui se desenvolveu e a toda a equipa sacerdotal que com ele trabalha.
Uma única palavra se tem para dizer, e essa palavra é “obrigado”. Transformar esta gratidão em hino de acção de graças, é o que a todos é pedido, enquanto a Visita Pastoral à Vigararia continua
4. Durante a Visita Pastoral houve quatro momentos altos que não podem deixar de sublinhar-se, pela sua importância, numa Igreja “em saída” que vai ao encontro de todos.
.O Concerto na Aula Magna da Universidade de Lisboa, com a intervenção brilhante do “Lisboa Cantat” e 4 solistas do S. Carlos, foi um tempo de arte e de beleza que deu à Visita Pastoral a expressão de abertura ao mundo. A parceria com a Junta de Freguesia de Alvalade foi gratificante. Não se pode deixar de agradecer.
.A visita à Universidade Lusófona que acolheu o Bispo e os sacerdotes da paróquia, foi expressão de abertura da Igreja à cultura e à ciência. Também estes campos são essenciais à Nova Evangelização.
.A ida às periferias, ao Bairro das Murtas e ao Bairro das Fonsecas e Calçada, sinal de uma comunidade preocupada com os mais pobres e que mais sofrem. Nestes bairros sente-se o amor vivo da caridade para com os pobres.
.Os encontros com os jovens e as crianças foram um sinal de que a comunidade tem futuro e a formação cristã dos mais novos, envolvendo as famílias, são razão de esperança para hoje e para amanhã, neste mundo novo que está a nascer.
Cumpre-se aqui o tema da Visita Pastoral “Com Cristo, Bom Pastor, ao encontro de todos”. Agora, resta-nos continuar a trabalhar cada vez com mais entusiasmo e entrega. Assim “somos Igreja”.
P. Vítor Feytor Pinto