1. Quando nas comunidades cristãs se fala das vocações, é muito importante saber o que está em questão. Toda a vocação é uma chamada de Deus. Já no Antigo Testamento, Deus chamou Abraão para se lhe revelar como o Deus único. Assim nasceu o monoteísmo. Depois, Deus chamou Isaac e Jacob e deles fez nascer o Povo de Israel. A certa altura, este Povo de Deus estava num longo cativeiro no Egipto e Deus viu o sofrimento do seu povo e decidiu libertá-lo. Chamou, então, Moisés que se tornou o libertador de Israel. São chamadas de Deus, para dar a alguns crentes missões específicas, em benefício das comunidades de que fazem parte: ainda no Antigo Testamento Deus chamou Reis e Profetas e, através deles, cuidou sempre do seu Povo. No Novo Testamento, o cumprimento das profecias deu-se através de chamadas muito claras. Deus chamou Maria para ser a Mãe do Salvador. No começo da vida pública, Jesus chamou os Apóstolos e os Discípulos para levarem a Boa Nova a toda a parte. Também chamou Paulo, que era um perseguidor, e tantos outros que ajudaram a nascer e a desenvolver a Igreja. Novo Povo de Deus. Todos estes receberam uma vocação e foram-lhe fiéis na missão que o Senhor lhes confiou. Então, para haver uma vocação para o serviço da comunidade exigem-se sempre 3 coisas: a chamada, a resposta pessoal e a missão muito clara que o chamado por Deus vai realizar. Este torna-se um evangelizador. Há, então, hoje várias formas de responder à chamada de Deus numa vocação. O Papa Francisco enumera assim as vocações de serviço à Igreja e ao mundo.
. Os que experimentam a evangelização das periferias com uma comunidade religiosa. Esta missão está voltada para dar a Boa Nova aos mais pobres e excluídos.
. Os que descobrem o tesouro da contemplação, partilhando a vocação de clausura. A missão de oração, no silêncio do claustro, é suporte para a vida coerente de muitos outros cristãos, no meio do mundo.
. Os que conhecem melhor a missão “ad gentes”, em contacto com os missionários. Estes vão pelo mundo fora anunciar o Kerigma, a verdade de Jesus Salvador e Redentor.
. E finalmente, os sacerdotes diocesanos que aprofundam a experiência pastoral na paróquia e na Diocese. São estes os animadores das comunidades cristãs que, na cidade ou no campo, tornam presente Cristo e a Igreja através da sua comunidade.
É por todas estas vocações que a Igreja inteira celebra a 53ª Semana Mundial da Oração pelas Vocações. É mesmo importante forçar o Espírito Santo, para que nasçam muitas vocações a que jovens e adultos possam dar resposta com total generosidade. Serão servidores na Igreja com a consciência plena de que Ela é a Mãe de vocações, como diz o Papa Francisco.
2. Numa expressão muito feliz, o Papa Francisco vem dizer-nos, na sua mensagem para este dia que “A Igreja é Mãe de vocações”. No decurso do Jubileu da Misericórdia, é preciso experimentar a alegria de pertencer à Igreja. Pode então redescobrir-se que a vocação cristã e todas as vocações particulares nascem no meio do Povo de Deus e são dons da misericórdia divina. “A Igreja, diz o Papa, é a casa da Misericórdia e também a “terra” onde a vocação germina, cresce e dá fruto”. A oração que toda a Igreja faz neste Dia Mundial da Oração pelas Vocações tem como grande objectivo multiplicar as vocações de serviço à Igreja. Os cristãos, em qualquer etapa do seu caminho na fé e na caridade, não podem ter medo de se colocar perante uma missão de serviço. É claro que há vocação laical, de extraordinária beleza na transformação do mundo, mas é um desafio exigente a vocação de serviço pela entrega exclusiva ao anúncio da Boa Nova do Evangelho. A vocação sacerdotal, religiosa ou missionária insere-se na Igreja onde nasce, cresce, actua e se realiza ao serviço de uma comunidade. Se a Igreja é Mãe de vocações, só quem ame muito a Igreja é capaz de responder à vocação eclesial, no sacerdócio, ou noutra forma de consagração. O Vaticano II definiu assim a Igreja “Povo de Deus centrado na Pessoa de Jesus, lutando pela dignidade e liberdade humanas dos Filhos de Deus, seguindo sempre o mandamento do Amor, para a felicidade de todos no tempo e na eternidade” (cf LG 9). Assim sendo, quem segue uma vocação de serviço, vive em Igreja.
. Centra toda a sua vida na Pessoa de Jesus Cristo, referência constante em todas as decisões e atitudes.
. Respeita e promove sempre a dignidade e a liberdade humanas de cada um, sobretudo dos mais pobres e que mais sofrem, tornando-se um promotor do desenvolvimento humano a partir da dignidade de cada um.
. Tem como mandamento único o amor, o novo paradigma, uma vez que é por isso que o reconhecem como discípulo de Cristo. A chama do amor fraterno é o processo de toda a evangelização porque é a dinâmica que todos entendem.
. Procura para todos, no tempo, a felicidade que se vai construindo dia-a-dia, no cumprimento dos padrões de vida que se recebem do Evangelho. Esta felicidade continuar-se-á, depois, ao chegar à plenitude da vida, na casa do Pai.
Se a vocação nasce na vida da Igreja, na sua profecia, na sua socio-caridade e até na sua liturgia, ela alimenta-se e desenvolve-se, agora, nos serviços que fazem parte do grande mistério da Igreja, Povo de Deus.
3. O mundo contemporâneo tem sentido uma enorme crise vocacional. A perda de fé em tantas regiões cristãs, o desaparecimento da cultura cristã nos povos desenvolvidos, a desorganização das famílias com roturas frequentes, a par das propostas conciliares do Vaticano II dificilmente aceites, de uma certa impreparação nos responsáveis das comunidades e do mau testemunho de alguns, tudo isto leva a uma quebra profunda nas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Muito poucos querem consagrar-se a esta missão de serviço. Torna-se urgente a oração intensa ao Espírito Santo, para que muitos jovens abram o coração a estas missões de serviço à Igreja e ao mundo. Há um compromisso a assumir por todos:
. Pelos jovens, para que não tenham medo de se pôr perante a vocação sacerdotal, religiosa ou missionária;
. Pelas famílias, para que, através de um ambiente familiar cristão, estimulem alguns dos seus filhos a seguir o caminho da consagração;
. Pelas catequeses de crianças e jovens, para que faça parte da formação cristã o campo da vocação no sacerdócio ou na vida religiosa;
. Por toda a comunidade cristã, para que seja alfobre de vocações sacerdotais e religiosas.
4. Durante estes dias é tempo de forçar o céu para que venham sacerdotes novos substituir os que, já cansados, esperam alguém que continue com alegria a sua missão.
Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior