1. Para qualquer mulher, ao longo de todos os séculos, ser mãe foi sempre motivo de plena realização. Quando criança, brincar com as bonecas constituía uma quase antecipação desse momento que lhe estava reservado, o de ter um filho. Quando adolescente, a abertura do coração, ao jogo dos afectos, era já premonição para essa grande aventura, a de poder gerar um filho. Jovem, começava a concretizar o sonho, ao encontrar um par a quem confiava o futuro, na construção de uma família, berço natural das crianças por nascer. Finalmente, tendo aceite uma fecundidade responsável, a mulher e o seu par realizavam uma missão de rara beleza, ao serviço da vida, ao serviço da felicidade. Estranhamente, com a evolução da sociedade no último século, à realização da mulher foram dadas outras prioridades. Se é importante tirar um curso e uma especialização, se é indispensável ter uma carreira profissional plenamente conseguida, se não pode a mulher deixar de participar na vida social e política da comunidade de que faz parte, a sociedade, na sua organização, não pode ter da maternidade uma visão redutora. Sendo indispensável a igualdade de géneros, há que privilegiar a originalidade da missão que à mulher cabe, a de ser mãe. Por não se ter dado atenção a este “pequenino” pormenor, há situações que empobrecem profundamente a humanidade: a diminuição brutal da natalidade nos países desenvolvidos, a falta de tempo para a educação dos filhos, a indisponibilidade para acompanhar na família os mais velhos e, até, a desestruturação da família, cada vez mais acentuada. Quando se julgava que, para a mulher, a maternidade deixara de ter magia antiga, até pela infecundidade agravada por razões diversas, surgiram através da ciência várias formas de ser mãe. Contradições estranhas que põem hoje à sociedade inúmeros problemas: 

.  Ser mãe constitui, para muitas mulheres, a última etapa de um projecto de vida, tudo o resto tem prioridade. 

. A interrupção voluntária da gravidez: se o filho a nascer foi surpresa, por isso é indesejado. 

. A procriação medicamente assistida, consequência frequente da infertilidade provocada pelos estilos de vida, também é uma situação em que tantas vezes o pai é desconhecido. 

. A gravidez de substituição, que torna difícil identificar a mãe da criança que nasceu: as barrigas de aluguer geram conflitos entre duas mães possíveis. 

.  A adopção de crianças, por casais homossexuais masculinos, exclui definitivamente a figura da mãe. 

. As soluções estruturais, em que o papel de mãe é substituído por instituições de assistência, onde o amor de mãe é necessariamente mais pobre.

Compreende-se que, perante este universo carregado de problemas, o Papa Francisco tenha escrito uma Exortação Pastoral em que convida a humanidade a reflectir sobre o mistério da vida, a importância da família, o dom da maternidade, a alegria do amor. É também nesse sentido que a Igreja instituiu, para este dia 8 de Maio, o Dia da Festa da Vida e da Família.

2. Ser mãe é o título mais nobre a atribuir a qualquer mulher. Num belo abraço de amor, dois gâmetas encontram-se e começam uma peregrinação que irá terminar 9 meses depois. Um e outro iguais em  quantidade de genes, diferentes na carga biológica que transportam, vão continuar este abraço inicial, que a cada momento faz crescer uma vida sempre mais bela. É este o maravilhoso dom de Deus, que no princípio dissera ao ser humano, homem e mulher, “crescei, multiplicai-vos e dominai a terra”. Deus, Senhor da vida, quis que o ser humano colaborasse no Seu poder criador. Neste processo de participar na criação cabe, porém, à mulher, uma missão única e extraordinária: guardar no seu seio o fruto do grande amor original. É assim, por vontade de Deus, que a mulher assume ser mãe e fica, para sempre, ao serviço da vida que trouxe no seu seio. A mulher identifica-se e realiza-se pela maternidade. 

.  Acolhe a vida: pelo abraço de amor, torna-se disponível para receber a vida como dom de Deus. 

.  Protege a vida: durante o tempo de gravidez, nove longos meses, tem todos os cuidados para que o menino, que cresce no seu seio, chegue a nascer em segurança. 

. Serve a vida: no processo evolutivo de uma criança, a mãe está sempre presente, para que se desenvolva física, psicológica e socialmente. 

. Acompanha a vida: mesmo nas crises da infância, da adolescência, da juventude, a mãe constitui uma referência permanente; ao seu colo, jogam-se todos os afectos e encontram-se a serenidade e a paz. 

.  Educa a vida: em qualquer idade do seu desenvolvimento, é sobretudo a mãe que ajuda o seu filho a crescer em idade, em sabedoria e em graça, diante de Deus e de todos os homens. 

. Está presente à vida do filho: escutando, sugerindo, criticando, apoiando, com o discernimento e com a sensibilidade que só uma mãe pode ter.

É grande a missão da mulher-mãe. Tantas vezes mulher-coragem, ela sabe sorrir e sabe chorar, sabe falar e fazer silêncios, sabe indicar caminhos ou deixar que o filho os encontre, sabe esperar e sabe intervir com sabedoria e sabe também confiar o seu filho a Deus na oração de todos os dias. É esta a mulher-mãe.

3. Neste ano de 2016, o Dia da Festa da Vida e da Família é celebrado na data em que a minha Mãe faria 110 anos. É motivo para evocar a sua presença constante na minha vida. Também por isso, quero que se recordem, na nossa paróquia, as mães de todos os que costumamos vir aqui ao Campo Grande. Na oitava do Dia da Mãe, que celebrámos no dia 1 de Maio, recordamos: 

.  as mães dos meninos da catequese, que os acompanham na sua formação cristã: o dia da catequese e o domingo são momentos únicos, em que as mães ajudam os seus filhos a serem cristãos; 

.  as mães dos nossos jovens dos grupos fraternos, que têm na Paróquia um apoio constante: educar um adolescente, acompanhar um jovem, entender as suas opções de vida, ajudar a superar as suas crises, não são tarefas fáceis, mas quando o diálogo se mantém e a relação cresce, todo o mistério da vida se refaz e é temperado com uma palavra simples, o amor; 

. as mães dos casais de namorados e de noivos que, a pouco e pouco, preparam caminhos novos de vida: acompanhar o entusiasmo, escutar os desabafos em tempos de crise, ajudar a reorientar a vida, em todas as situações, alimentar a esperança: é trabalho que só um coração de mãe é capaz de realizar; 

. as mães que se convertem em avós, constituem na família, uma nova etapa de vida: é de rara beleza ver que as avós substituíram as fotografias de papel pelas imagens vivas dos iPad ou dos telemóveis: guardar os retratos dos filhos e dos netos é também uma manifestação de amor; 

.  as mães dos filhos-problema ou de homens e mulheres já marcados pelo sofrimento ou pela proximidade do fim: até nessas horas, a mãe é a presença viva que dá sentido a tudo.

Na nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande, não queremos que o Dia da Festa da Vida e da Família esteja apenas marcado pelos jogos dos afectos. Preferimos que este dia seja um tempo forte de oração pelas famílias, para que a mãe de cada um esteja sempre ao serviço da vida e continue presente, em todos os caminhos de amor, como expressão de toda a ternura e gratidão que a nossa família nos sugere.

4. As grandes festas costumavam prolongar-se por oito dias. É por isso que o dia 1 de Maio e o dia 8 de Maio continuarão a ser datas marcantes no viver da nossa fé.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior