1. Na vida da igreja Católica, há um tempo que tem a maior importância, quer na liturgia em todas as comunidades, quer nas pessoas, com a riqueza espiritual que contém. Esse tempo é o Tríduo Pascal. Depois de seis semanas de Quaresma, consagradas à penitência e à oração, os cristãos reúnem-se em assembleias lindíssimas, que evocam os momentos mais importantes da vida de Jesus, no seu caminhar pela Terra. A Semana Santa ou Semana Maior começa com o Domingo de Ramos, prolonga-se com as grandes celebrações de Quinta-feira e de Sexta-feira Santa e termina com a Vigília Pascal, em que se vive a alegria da Ressurreição do Senhor.

. Domingo de Ramos – recorda-se a entrada solene de Jesus em Jerusalém. Vêm os “meninos hebreus”, com palmas e ramos de oliveira, aclamar Jesus, o homem que passou na Terra fazendo o bem. Cantam-se hossanas e propõe-se a paz. Na segunda parte da liturgia, lê-se a Paixão segundo S. Mateus e compreende-se que o Reino de Jesus não é deste mundo, é um reino para a reconciliação universal.

. Quinta-feira Santa – afirma-se o extraordinário amor de Jesus pela Humanidade. Se pela manhã se recorda a salvação através da missa Crismal celebrada pelo Bispo na Catedral da Diocese, à tarde, nas comunidades cristãs, celebra-se a missa da Ceia do Senhor. Neste primeiro dia do Tríduo Pascal, respira-se o amor de Jesus por todos os homens. Pelo sacerdócio serve-se a humanidade inteira e, sobretudo, os mais pobres; pela Ceia do Senhor alimenta-se toda a vida cristã, uma vez que a Eucaristia é remédio, sobretudo para os mais frágeis que se assumem como cristãos.

. Sexta-feira Santa – adora-se a Cruz de Cristo, que neste dia tem o primeiro lugar. Não há Eucaristias. Proclama-se a Paixão de Cristo e recorda-se o Senhor condenado à morte e crucificado. A adoração da Cruz tem extraordinárias dimensões de amor. É que não há maior amor do que dar a vida por aqueles que se amam. Foi o que fez Jesus. Ele próprio o disse: “se é possível, afasta de mim este cálice; não se faça, porém, a minha vontade mas a tua, ó Pai”. E Jesus morreu na Cruz.

. Vigília Pascal – vive-se o momento mais alto de toda a liturgia da Igreja. Nela celebramos a Luz que é Jesus Cristo; nela recordamos o nosso Baptismo pela água purificadora; mas, sobretudo, nela se celebra a Ressurreição de Jesus. Através da Palavra de Deus, do Génesis, do Êxodo, de Isaías e de Ezequiel, compreende-se que a Redenção operada por Cristo se realiza pela promessa de Deus. O Evangelho de Mateus faz a narrativa do sepulcro vazio e a Carta aos Romanos compromete os cristãos a viverem como ressuscitados.

As celebrações do Tríduo Pascal são de uma beleza extraordinária, mas são sobretudo um desafio a viver-se como cristão. Celebra-se o amor na Última Ceia, acompanha-se a Paixão e Morte de Jesus recordando o Calvário, participa-se na alegria da Ressurreição na aurora do primeiro dia da semana, tem-se, então, a certeza de que a vida é mais forte do que a morte. Cristo Ressuscitado celebra a vida.

  1. No início da Quaresma o Papa Francisco propunha uma série de atitudes, que são já o sinal da ressurreição. Seria interessante que cada cristão assumisse estas atitudes na Semana Santa. Tudo à sua volta seria diferente, antecipando-se assim a Ressurreição de Cristo. É esta a grande proposta. Diz o Papa que prefere a misericórdia ao sacrifício e que há gestos de caridade que são verdadeiros sinais de amor. São gestos tão simples, gratuitos e que tornam a nossa vida muito mais rica e feliz:

. sorrir, ser alegre e agradecer;

. lembrar ao outro quanto se gosta dele; cumprimentar com alegria as pessoas que se vêem todos os dias;

. ouvir a história do outro, sem julgamento, com amor;

. parar para ajudar; estar atento a quem precisa de si; animar alguém que se sinta triste;

. reconhecer os sucessos e as qualidades do outro; corrigir com amor e não calar por medo; ter delicadeza com os que estão perto de si;

. separar o que não se usa e dá-lo a quem precisa;

. ajudar os outros a superar os obstáculos;

. substituir alguém para que essa pessoa possa descansar;

. telefonar aos familiares e a outras pessoas que se encontrem sozinhos.

Lição de simplicidade que o Papa Francisco está a dar aos cristãos e a toda a humanidade. Se se conseguir viver cada uma destas atitudes, a Semana Santa torna-se de verdade a Semana Maior.

  1. Poderá perguntar-se como viver estes dias da Semana Santa. Para muitos é apenas uma semana de descanso, para outros uma oportunidade de diversão porque se está livre dos trabalhos quotidianos. Alguns aproveitam mesmo a oportunidade para fazer uma viagem, sem grande sentido religioso, apenas por uma razão cultural. Para um cristão, tudo isto sendo bom, é insuficiente para viver o Tríduo Pascal. Na nossa comunidade Paroquial do Campo Grande sugere-se:

. Participar nas cerimónias litúrgicas. Mesmo que se esteja longe, vale a pena procurar uma igreja e acompanhar a Ceia do Senhor, a Adoração da Cruz e a Vigília Pascal.

. Criar tempos de silêncio para contemplação do mistério de Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Que todos os dias, alimentados com a Palavra de Deus, seja possível fazer silêncio e adorar Cristo, Filho do homem e Filho de Deus.

. Provocar a maior unidade em família, com palavras e gestos de reconciliação se necessário, com atitudes de amor que dêem à família o sentido profundo da ressurreição.

. Ir ao encontro de alguém que está doente, que está só, que está triste, que precisa de um sorriso, de um beijo, de um abraço, de um gesto de paz.

Quando se regressar, já no tempo da Páscoa, à vida quotidiana, tudo vai ser diferente, porque a experiência da Semana Santa recriou a relação com Deus e a relação com os irmãos.Que o caminho para a Páscoa antecipe a Ressurreição. 

Pe. Vítor Feytor Pinto –  Prior