- Com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos na manhã de Pentecostes nasceu a Igreja e, com ela, a comunidade de Jerusalém, a primeira de todas as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo. Em Jerusalém, os cristãos estavam unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão, nas orações e punham tudo em comum, de tal forma que não havia necessitados entre eles (cf. Act 2, 42-47). Desde a primeira hora, a profissão de fé estava ligada profundamente à caridade, à partilha de bens com os mais pobres e mais necessitados. No decorrer dos séculos, esta solicitude pelos mais carenciados foi-se organizando melhor e hoje poderá dizer-se que não há vida cristã sem a atitude de serviço aos mais pobres. Os últimos 3 Papas: S. João Paulo II, Bento XVI e Francisco referem com toda a clareza que a expressão da fé está no exercício da caridade.
. Bento XVI, na Carta Apostólica Porta Fidei, a Porta da Fé, diz expressamente que a fé sem obras é morta e, citando a Carta de São Tiago, acrescenta o seu fundamento ao dizer: “a fé sem caridade é espiritualismo desencarnado e a caridade sem fé é exibicionismo que levanta muitas dúvidas” (cf. P.F. 14).
. O Papa Francisco, na Exortação Pastoral Evangelii Gaudium, a Alegria do Evangelho, declara que a afirmação da fé se faz pela acção social. Quem tem fé deverá revelá-la na atenção organizada aos mais pobres e que mais sofrem. Isto é, mais do que a caridade, é a organização do amor e do serviço aos pobres.
. A Conferência Episcopal Portuguesa, em documento sobre a intervenção social dos cristãos, chega a dizer que a comunidade cristã tem o dever de ter uma acção social organizada, tendo em conta o Centro Social, as Conferências Vicentinas e muitas outras iniciativas da comunidade para com os que estão em condições precárias muito relevantes.
. Finalmente, na sociedade actual, deve ter-se em conta que a visibilidade da Igreja está na acção social que ela desenvolve. Com estruturas sociais, a comunidade cristã responde a problemas concretos e todos se apercebem que a vida da Igreja é também intervenção nos problemas mais graves da cidade.
Fique, então, claro que os cristãos manifestam a sua fé pela acção social e que o Centro Social é instrumento da Paróquia para ir ao encontro dos mais pobres, suavizando quando possível, os seus problemas económicos e sociais.
2. Toda a vida de uma comunidade paroquial se desenvolve com três dinamismos: o profético, o sacerdotal e o sócio caritativo. O que é certo é que o social se fundamenta no profético, respondendo à Palavra de Deus que fala expressamente do cuidado a ter com os mais pobres. Foi o próprio Jesus que o afirmou, ao dizer: “O que fizeres ao mais pequenino dos teus irmãos é a Mim que o fazes” (Mt 25, 40). Por outro lado, a caridade implica uma atitude orante que permite a acção de serviço ao outro. É esta luta pela justiça que, iluminada pela Palavra e pela oração, se torna esperança na relação com o outro. Assim sendo, toda a vida da Paróquia se desenvolve na acção social e todo o apoio aos seus pobres é elemento crucial na vida da comunidade.
. O Centro Social Paroquial faz parte integrante da comunidade cristã. Toda a acção de apoio social aos mais pobres é elemento constitutivo da pastoral socio-caritativa da Paróquia. A Paróquia e o Centro Social servem as mesmas pessoas mais carenciadas que procuram a comunidade cristã.
. Os profissionais e os voluntários do Centro Social Paroquial são elementos activos de evangelização. Se evangelizar é salvar por Cristo e em Cristo, então os nossos colaboradores sociais são anunciadores da Boa Nova que Cristo quis levar aos mais pobres.
. Todas as pessoas que frequentam o Centro de Dia são membros activos da comunidade cristã. Daí, o cuidado a ter no seu acompanhamento espiritual. Doentes ou idosos precisam de sentir a assistência social que tem em atenção o apoio clínico, a ajuda material e o acompanhamento espiritual.
. A acção social de uma comunidade cristã exerce-se de uma maneira organizada. Torna-se essencial criar uma relação estreita entre todas as actividades sociais que se desenvolvem na Paróquia. É por isso que em muitos lugares ao Centro Social se dá o nome de Centro Comunitário, o que significa que todos os agentes sociais estão de mãos dadas para responder com oportunidade às pessoas que consideram que só na Igreja conseguem resposta para os seus problemas.
Só esta relação estreita entre o Centro Social Paroquial e a Comunidade cristã permite uma acção que seja complemento lógico da evangelização. Longe de serem instituições autónomas, estão relacionadas entre si para servirem as mesmas pessoas na sua realização própria, superando as suas fragilidades.
3. A Comunidade Paroquial do Campo Grande, para desenvolver toda a sua acção, tem 88 profissionais (80 no Centro Social e mais oito no apoio directo à Paróquia), e algumas centenas de voluntários. Há características a definir para os colaboradores desta grande comunidade cristã viverem como profissionais ou como voluntários, trabalhando no Centro Social ou nas estruturas da Paróquia. O que se pede a todos estes membros activos da vida paroquial?
. A sua formação integral, tendo em conta os valores cristãos a viver: a verdade, a justiça, a liberdade, o amor e a harmonia na paz. Numa comunidade cristã, como a Paróquia do Campo Grande, os profissionais do Centro Social ou da Paróquia têm de pautar-se pelo “ser cristão”.
. A sua vida marcada pela espiritualidade, superando o materialismo que compromete a acção de muitos trabalhadores. Falar de espiritualidade é falar de cultura, de relações humanas e da procura do transcendente. Estas são características dos que trabalham no Centro Social e na Comunidade Paroquial.
. O acompanhamento permanente destes profissionais e voluntários, essencial à continuação da acção com qualidade. Sem acompanhamento, facilmente surgem tensões no trabalho e, sobretudo, o “Burnout” na vida profissional. Tal não pode acontecer.
. A integração de toda esta comunidade na Paróquia do Campo Grande. Ninguém está de fora, todos concorremos para o sucesso da acção, a superação das normais dificuldades pela reconciliação, a unidade e comunhão, características de uma comunidade cristã.
Finalmente, a participação permanente na vida da comunidade cristã. Razão de ser de todas as organizações que trabalham nela e para ela, ao nível da profecia, da liturgia e da socio-caridade. Não há acção social cristã sem a Paróquia onde esta se realiza numa comunhão total.
Esta unidade entre a vida da Paróquia e a vida do Centro Social é fundamental para compreender a missão de ambos. A pessoa humana a quem servimos não é só corpo, com carências relativas, é também espírito, com valores a defender e a promover sempre. Paróquia e Centro Social são um só na comunidade cristã.
4. Assim sendo, sacerdotes, catequistas, animadores de grupos de jovens e adultos, leitores e ministros extraordinários da comunhão, profissionais do Centro Social e voluntários, todos, em trabalho comum, somos a Paróquia dos Santos Reis Magos, ao Campo Grande.
Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior