- Celebra-se até ao dia 22 de Abril mais uma semana de oração pelas vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Esta oração constitui uma urgência para a Igreja de uma maneira muito especial para as comunidades cristãs do Patriarcado de Lisboa. O Senhor Patriarca tem aceite a participação na vida da Diocese de muitos sacerdotes vindos de África, da Índia, e também de muitas outras dioceses de Portugal e dos países lusófonos. Reconhece, portanto, que é muito grave a falta de sacerdotes e de religiosos para a acção pastoral que o Patriarcado exige. Esta realidade teve sem dúvida origem em várias situações da sociedade, mas também se agravou com a dificuldade na adaptação às orientações do Concílio Vaticano II e aos movimentos sociais nascidos do 25 de Abril. Por tudo isto, identificadas com o pensamento de Jesus as vocações são uma urgência, respondem a uma chamada, exigem uma missão e supõem o envio expresso para a evangelização de toda a cidade.
-A urgência – foi o próprio Jesus que no-lo disse ao referir que a messe é grande e os operários são poucos. Deve-se por isso pedir ao Senhor da messe que envie operários para a messe (cf. Lc 10, 2). Nunca como hoje se sentiu a verdade das palavras de Jesus. É grande o mundo a evangelizar. São muito poucos os mensageiros que levam a Boa Nova a todos os lugares. A oração torna-se por isso uma urgência.
-A chamada – é notável a maneira como Jesus chama os apóstolos e os discípulos. Surpreende-os com a sua presença, dirige-se a cada um pessoalmente, deseja que eles venham a ser pescadores de homens. A este convite de Jesus, todos os seguiram, aceitando estar com Ele na construção do Reino de Deus. Foi assim com Pedro, Tiago, João, André e tantos outros (Mt 4, 18). Jesus continua hoje a chamar. A resposta, com um cunho profundo de generosidade, leva a que alguns aceitem ser sacerdotes ou religiosos, com o objectivo de levar a Boa Nova a toda a gente, numa Igreja verdadeiramente “em saída”.
-A missão – Jesus foi muito claro na missão que pedia aos seus discípulos: a qualquer casa levar a paz, curar os doentes que ali houver e, finalmente, ajudar cada um a libertar-se de toda a maldade (cf Lc 10, 5). Estes objectivos, propostos por Jesus a quem é chamado, mantêm extraordinária actualidade. No mundo marcado pela violência é essencial proclamar a paz. Num tempo carregado de enfermidades, físicas ou espirituais, cuidar, quando se não pode curar, é imperativo. Libertar de qualquer mal pode ser difícil, mas é imprescindível. Que bela a missão do consagrado.
-O envio – quando Jesus se despedia dos Apóstolos e dos Discípulos, no Monte da Ascensão, soube dizer-lhes: “Ide por todo o mundo, anunciai a Boa Nova a todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Eu estarei convosco até ao fim dos tempos” (Mc 16, 19-20). Qualquer cristão, a partir do próprio Baptismo, é enviado por Jesus. Os sacerdotes, os religiosos e os missionários recebem, porém, o envio explícito para se consagrarem ao anúncio do Evangelho.
Esta semana das vocações termina com o Domingo do Bom Pastor, aquele que dá a vida pelas suas ovelhas, que as conhece pelo seu nome, que as acolhe quando tresmalhadas, que as mantém no conforto do aprisco, onde são recebidas mesmo em tempos difíceis. Qualquer consagrado se torna também como Jesus o verdadeiro Bom Pastor. Levar até às últimas consequências a sua entrega aos outros constitui a maior beleza da vocação a que se é chamado.
2. Não é nada fácil viver a consagração no sacerdócio ou na vida religiosa com a verdade que Jesus pede. Quem responde com um sim à vocação a que é chamado, rapidamente compreende que há características específicas para quem se entrega à missão de Bom Pastor. Jesus foi muito claro sobretudo ao pedir aos discípulos o desprendimento total. Senão vejamos o que é pedido a quem se consagra no sacerdócio:
-A pobreza e a simplicidade – quando Jesus enviou os 72 discípulos a todas as cidades e aldeias soube dizer-lhes: “Mando-vos como cordeiros para o meio de lobos. Não levem bolsa, nem saco, nem sandálias, e não parem a cumprimentar ninguém pelo caminho” (Lc 10, 3-4). Este é um convite à simplicidade, ao despreendimento de todas as coisas, à liberdade interior que conduz a não estar preso a nada nem a ninguém.
-A santidade e o testemunho – o Concílio Vaticano II diz claramente que ser santo é viver em plena e perfeita comunhão com Cristo (LG 50). Também Jesus pediu para se ser perfeito como o Pai do Céu é perfeito. Neste ser santo a que o consagrado é chamado exigirá, então, um testemunho constante de fé e caridade que permita a cada um poder dizer: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Cor 4, 16).
-A total disponibilidade – como Jesus estava sempre atento às necessidades dos outros, fossem justos ou pecadores, assim também o consagrado está disponível para acolher quem quer que seja. Para consegui-lo, vai escutar cada um nas suas inúmeras dificuldades; tentará promovê-lo nas suas capacidades, para a sua realização plena; e, finalmente, não deixará de acompanhá-lo para que consiga de algum modo ser feliz.
-A alegria pascal – qualquer consagrado, revestido da Ressurreição de Cristo, não deixará de transmitir a alegria que vai no seu coração, revelada em cada gesto, em cada atitude, em cada palavra. Felizes todos aqueles que são capazes de construir a paz (cf Mt 5, 9).
O padre, bem como o religioso ou missionário tem como compromisso identificar-se completamente com a pessoa de Jesus Cristo, para se tornar mensageiro da Boa Nova do Evangelho e simultaneamente conseguir ser à sua maneira profeta, sacerdote e pastor.
3. As comunidades cristãs, também a Comunidade Paroquial do Campo Grande, têm o dever de desenvolver intensamente a Pastoral Vocacional. As comunidades não podem limitar-se a usufruir da acção pastoral dos consagrados. Têm o dever de trabalhar intensamente para que nelas nasçam vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Perguntar-se-á de que forma estas vocações podem surgir?
-Nas famílias cristãs para quem ter um filho sacerdote ou religioso será indiscutivelmente uma graça de Deus. Irão alegrar-se quando algum filho seu faz estas opções de vida.
-As catequeses deverão ter em mente não apenas a educação da fé e a prática da vida religiosa, mas poderão ir muito mais longe abrindo a porta à vocação de consagrados.
-Os grupos de jovens são campos extraordinários para confirmar muitos na vocação sacerdotal. Só uma comunidade que gera sacerdotes tem assegurada a continuidade do ministério na sua casa.
-Os ambientes cristãos geram servidores da Igreja e do mundo. Esse ambiente sente-se na oração, no culto, e de maneira muito especial na caridade, e na preocupação pelos mais pobres, o que levará muitos a quererem ser servidores da Igreja, autênticos pastores, como Cristo foi Pastor.
No Domingo do Bom Pastor acaba a semana de oração pelas vocações. A oração, no entanto, é insuficiente: é preciso criar dinamismos de generosidade que levem os jovens a abraçar o sacerdócio ou a vida religiosa para a renovação constante da Igreja e a conversão do mundo.
4. Os sacerdotes da Paróquia e as comunidades religiosas que nos frequentam não podem deixar de agradecer a generosidade de todos pela oração com que os entregam a Deus, mas também pelo carinho que os envolve na nossa comunidade. Apraz-me dizer como rezava um velho Bispo de Portalegre, onde as vocações sacerdotais rareavam: “Senhor dai-nos sacerdotes, Senhor dai-nos muitos sacerdotes, Senhor dai-nos muitos e santos sacerdotes”.
P. Vítor Feytor Pinto