1. Durante esta quadra festiva do Natal, os cristãos não podem ficar indiferentes perante as pessoas que, ao seu lado, vivem em sofrimento. Foi isso mesmo que o Papa Francisco, o nosso Patriarca e outros Pastores nos quiseram lembrar. Se vivemos a consoada no aconchego da família, se viemos à Missa do Galo no calor da alegria litúrgica, se passamos o dia de Natal com muitos amigos, há no entanto quem tenha estado naquela noite ao relento, fugindo da aragem fria, sem qualquer calor humano, nem celebração litúrgica. Houve mães e pais que na noite de Natal não tiveram possibilidade de oferecer aos pequeninos os tradicionais presentes do Menino Jesus, nem tiveram as guloseimas que tanta alegria lhes dariam. Neste tempo de Natal há muitos homens e mulheres sem futuro, nem esperança. 

. Na mensagem de Natal, o Papa Francisco lembrou as crianças Sírias, no meio da guerra, e tantas outras com a sua vida sempre em risco, ameaçadas com a fome e com tantas doenças que podem provocar-lhes a morte.  

.  Na homilia da missa de Natal, o Patriarca de Lisboa lembrou todos aqueles que perderam a sua casa, ou vivem em habitações degradadas, sem o menor conforto. 

.  Muitos outros Bispos e Sacerdotes falaram dos emigrantes e refugiados na Europa, multidões de pessoas que fogem da guerra ou das perseguições, para encontrar refúgio noutros lugares, onde acabam por viver numa enorme solidão.

É nesta atenção ao sofrimento dos outros que, na viragem do ano, nos chegam três documentos extraordinários que podem orientar toda a vida no ano 2017 que vai chegar: a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz; a Constituição Sinodal de Lisboa e o novo Dicastério da Santa Sé para o Desenvolvimento Integral.

2. “A não-violência, estilo de uma política para a paz”, é o tema proposto pelo Papa Francisco para o Dia     Mundial da Paz em 2017. Todas as pessoas, crentes ou não crentes, são convidadas a lutar contra a violência,     passando a ser construtores da paz. 

. “Um mundo dilacerado” é como o Papa se refere à situação actual, com guerras, tensões, violência nas ruas, até a violência doméstica, destruindo famílias e comprometendo o futuro de crianças e dos jovens.

. A Boa Nova do Evangelho foi anunciada por Jesus Cristo, com apelo ao verdadeiro perdão e à reconciliação, valores indispensáveis para vencer a violência que se instalou no nosso mundo. 

.  “A não-violência é mais poderosa do que a violência” diz o Papa Francisco. De facto, a relação entre as pessoas é essencial para a felicidade de todos. Ser pacificador, conseguir a reconciliação das pessoas, dá mais felicidade do que prosseguir na violência contra os outros. 

.  O Papa termina a sua mensagem com um convite, a que todos sejam pacificadores, os políticos, os homens de boa vontade, os jovens e até as crianças, todos podem ser obreiros da paz, do perdão, do reencontro entre todos, na justiça e na alegria.

Esta mensagem do Papa no Dia Mundial da Paz é envolvente, pedindo a todos que não sejam violentos, que se amem de verdade, apesar das inúmeras diferenças que há entre as pessoas. Todos, mas sobretudo nós os cristãos, temos o dever de não ser violentos, em casa, no trabalho, em qualquer lugar. Pela não violência e com o amor de todos, somos obreiros da paz.

3. A Constituição Sinodal de Lisboa dá-nos um programa pastoral completo, com o anúncio de Jesus aberto a todos, mas também com o compromisso efectivo da caridade, através da acção social organizada. O trabalho de reflexão conseguido e as notas que o Senhor Patriarca coloca no texto, abrem a porta a uma Igreja inserida no mundo actual e leva todos a conhecer a beleza do Evangelho. Se a Constituição Sinodal olha o mundo para conhecer a realidade e lhe dar uma resposta evangélica, depois indica os critérios essenciais para que toda a acção pastoral seja eficaz, isto é, revele Jesus Cristo, redentor e salvador. Este documento notável do nosso Patriarca termina com sete opções pastorais. Sublinho as mais importantes:

. Opção pela santidade. Todos os cristãos se devem deixar invadir pela pessoa de Jesus Cristo, para serem santos como Deus é santo. A santidade não é outra coisa senão estar identificado plena e perfeitamente com Cristo, em tudo e em todas as situações. 

. Opção pela missão. O sonho missionário é de todos e para todos. Por isso, pelo testemunho de vida e pela palavra oportuna, Jesus Cristo deve ser anunciado, sobretudo aos que andam longe, aos que procuram a fé ou não conhecem a pessoa de Jesus e a sua Igreja, para que possam encontrar em Cristo o sentido da própria vida. 

. A opção pela família. Toda a acção evangelizadora nasce na família. Ajudar as famílias no seu crescimento, procurar a reconstrução das famílias que se desfizeram, estar perto das famílias que perseguem novos modelos, preparar a constituição de novas famílias, acompanhando os namoros responsáveis, tudo é um trabalho urgente e indispensável para o futuro da humanidade. 

.  A opção pelas vocações. É notória a falta de consagrados no serviço da Igreja e do mundo. Conseguir respostas positivas à vocação sacerdotal e religiosa é fundamental para o presente e o futuro das comunidades cristãs. Sem os sacerdotes, a vida cristã torna-se muito mais difícil e o desenvolvimento espiritual de cada um é sempre insuficiente. Por isso, pedimos ao Senhor da messe que envie operários para a messe.

Estas serão talvez as quatro mais importantes opções para a acção que a Igreja deve desenvolver nos próximos anos, sobretudo no tempo de iniciação que é 2017.

4. Resta referir que o Papa Francisco acaba de instituir um novo Dicastério Romano para o Desenvolvimento Integral. Congrega nele os Conselhos Pontifícios Justiça e Paz, Cor Unum, Pastoral da Saúde, Acção junto dos Migrantes e Itinerantes e ainda a preocupação ecológica. É uma Congregação para a Pastoral Social na sua plenitude. A Comunidade Paroquial do Campo Grande associa-se a estes grandes desafios que o Novo Ano nos traz, por meio do Papa Francisco e do Senhor Patriarca. É a comunidade no seu todo, mas também cada cristão, à sua medida, que devem ser fiéis a estes apelos e convites pastorais. Para todos um Bom Ano Novo.

      P. Vítor Feytor Pinto – Prior