1. Uma das mais belas aparições de Jesus, depois da Ressurreição, foi a Maria Madalena. Ela viu o sepulcro vazio, voltou-se e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Ele. E Jesus disse-lhe: “Mulher porque choras? Quem procuras? Ela pensava que era o jardineiro do horto e disse-lhe: Senhor, se foste tu que O levaste, diz-me onde O puseste. Disse-lhe Jesus: Maria. Ela aproximando-se exclamou em hebraico: Rabuni, que quer dizer Mestre”. Aquela mulher, que bem conhecia Jesus, não O reconheceu porque Ele estava diferente. Numa espécie de encarnação nova, Jesus está agora presente como Ressuscitado. Aparece como jardineiro junto ao sepulcro, como um viajante no caminho de Emaús, como um simples pescador ao pé do Lago de Tiberíades. 

.  Maria conhecia bem Jesus, chorava a sua morte e o seu desaparecimento. Agora viu apenas o jardineiro do horto. Porém, era Jesus Ressuscitado quem estava ali a falar com ela, preocupado, tratando-a pelo nome, para que compreendesse que Ele era diferente, que estava vivo em todos os que se cruzavam com ela. É uma nova encarnação.

.  Os discípulos de Emaús também não O reconheceram. Julgaram que era mais um viajante que fazia com eles o mesmo caminho. Jesus bem lhes falava das Escrituras, de tudo o que se iria passar com Ele, como seria condenado à morte e, como depois, ressuscitaria ao terceiro dia. Mas os discípulos de Emaús, amargurados pela perda do seu mestre, nada entendiam do que Jesus lhes dizia. Só o reconheceram já em casa, “no partir do pão”. Para eles, até ali, Jesus era apenas um companheiro de caminho. É a nova encarnação. 

.  Também os pescadores do Lago, como Pedro e João, não reconhecem Jesus, julgando tratar-se apenas de mais um pescador. Jesus tinha-lhes preparado uma refeição na praia, pedira-lhes para lançarem as redes para o outro lado, mas só O reconheceram quando as redes se encheram de peixes. Jesus parecia agora mais um pescador. É uma nova encarnação.

Hoje, Jesus Ressuscitado, aparece-nos em cada pessoa que passa por nós, chama-nos pelo nosso nome, faz caminho connosco e, por Ele, acontecem coisas novas para a melhor realização de todos. Cristo Ressuscitado está vivo, ao nosso lado, para nos chamar a tempos novos, à mudança de atitudes, a vivermos na alegria e na esperança.

2. Quando, no Evangelho de Mateus, se fala do encontro final, refere-se que Jesus indica a Bem-Aventurança eterna nestes termos: “O que fizerem ao mais pequenino dos irmãos foi a Mim que o fizeram” (Mt 25, 40). Jesus falava assim na condição de Ressuscitado. É como Ressuscitado que Ele aparece na vida de todos os cristãos. Chamados a viver as obras de misericórdia, dando de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestindo os nus, dando pousada aos peregrinos, visitando os doentes e os presos, tudo isto é feito a Jesus Ressuscitado. Os cristãos estão perante uma ressurreição permanente. Sendo misericordiosos para com o outro, os cristãos estão a reconhecer no outro a presença viva de Cristo Ressuscitado de entre os mortos. Provocar a ressurreição, a quem está dominado pelo sofrimento, é reconhecer no quotidiano a ressurreição do Senhor. Compete aos cristãos fazer a Ressurreição de Cristo: 

. Junto dos mais pobres e dos que mais sofrem: é este o desafio das obras de misericórdia corporal. Quem tem fome ou sede, quem está nu ou é peregrino, quem está doente ou preso, é a pessoa viva de Jesus à espera da ressurreição.

. Junto dos que têm carências de natureza cultural, de personalidade ou de carácter: os ignorantes, os que erram, os que procedem mal com os outros podem ser ajudados, para se realizarem mais como pessoas, defensoras e promotoras da sua dignidade e liberdade, a chave da sua própria realização. 

.  Junto dos que não crêem, ou hesitam na profissão de fé, ou têm dúvidas sobre a maneira de se relacionar com Deus. Ajudar espiritualmente estas pessoas, recordando-lhes Jesus Cristo e acompanhando-as na sua profissão de fé, é trabalho de grande acção evangelizadora que a todos os cristãos é pedido.

Os cristãos tornam-se agentes da ressurreição quando ajudam outros que são sempre para eles uma presença viva de Cristo. Apoiá-los, ajudá-los, partilhar os dons é provocar a ressurreição. É urgente  fazer tudo isto junto de quem tem mais dificuldades na descoberta do sentido da vida.

3. Maria Madalena e os discípulos não reconheceram Jesus e confundiram-no com um jardineiro, um companheiro de viagem ou um pescador no Lago de Tiberíades. Por outro lado, os cristãos sabem hoje, pela Palavra de Deus, que Ele está presente em cada um dos muitos irmãos que se cruzam com eles no caminho da vida. Pode repetir-se agora a expressão de Maria para com o hortelão: “Onde o puseste?” De uma maneira mais actual, onde é que cada um de nós pôs Jesus depois da Ressurreição? Sabemo-lo vivo, acompanhamo-lo através da experiência da Igreja, nos discursos de Pedro, nas cartas de Paulo, na fé dos Apóstolos e na sua capacidade de O anunciar. Se perguntarem aos cristãos onde puseram o Senhor Ressuscitado, que resposta serão eles capazes de dar? 

.  Pusemo-l’O na nossa casa, para sentir a presença d’Ele em todos os momentos da nossa vida familiar. 

.  Pusemo-l’O no nosso lugar de trabalho, para sermos mais competentes no serviço aos outros e mais solidários na partilha constante da alegria, de projectos e de esperança. 

. Pusemo-l’O no nosso círculo de amigos, para nunca dizer mal de ninguém e para criar um ambiente de serenidade, de convívio saudável e de ajuda constante. 

.  Pusemo-l’O nas nossas preocupações sociais, económicas e políticas, com a esperança de fazer nascer um tempo novo em que toda a gente, no meio da cidade, possa sentir-se mais feliz. 

.  Pusemo-l’O no nosso coração, para que face aos outros saibamos acolher, compreender, servir, perdoar, reconciliarmo-nos e construir um mundo novo, uma comunidade de justiça e paz.

O jardineiro, interpelado por Maria, respondeu de uma forma original: chamou Maria pelo seu nome. Cada um de nós tem de chamar os outros pelo nome e, aí, começar uma forma nova de viver a Ressurreição.

4. Jesus está vivo na nossa comunidade paroquial. Compete a cada um de nós, cristãos, torná-l’O bem presente em todos os lugares da nossa actividade. Ressuscitá-l’O é nossa missão nesta Páscoa. Boa continuação das festas pascais!

Pe. Vítor Feytor Pinto -  Prior