1. Na roda do ano, há dois meses consagrados especialmente para a oração pelas vocações sacerdotais. No mês de Novembro, a segunda semana é consagrada à oração pelos seminários, as escolas onde se formam os sacerdotes. No mês de Abril, a quarta semana da Páscoa tem como grande intenção a oração pelas vocações. Compreende-se a insistência da Igreja no convite que faz às comunidades cristãs, para se rezar pelas vocações sacerdotais e religiosas. Quem lê com atenção o capítulo 10 de S. Lucas, repara que Jesus ao escolher 72 discípulos, quer prepará-los para serem seus continuadores no anúncio da Boa Nova do Evangelho. A expressão de Jesus é completa: “A messe é grande, mas os operários são poucos. Pedi ao Senhor que envie operários para a sua messe.” (Lc 10, 2). Depois disso, Jesus enviou os 72 discípulos aos lugares e aldeias para a todos levarem a paz. É muito belo este texto de S. Lucas porque revela a preocupação de Jesus no continuar a sua missão. Indica as condições exigidas àquele que é enviado e finalmente define com toda a clareza os objectivos da missão. A terminar não deixa de avaliar a acção evangelizadora que os discípulos tenham realizado.
. Primeiro, conhece-se a realidade – “A messe é grande e os operários são poucos” (Lc 10, 2). Também hoje são insuficientes os sacerdotes para poderem responder a todas as comunidades cristãs que os esperam. Há inúmeras paróquias que não têm a presidência de um presbítero. Muitos cristãos têm dificuldade em encontrar um sacerdote para se reconciliarem. Aos padres falta tempo para acolher, compreender, aconselhar e orientar quantos os procuram.
.Depois, põem-se as condições – “Não leveis bolsa, nem sandálias, nem bordão” (Lc 10, 4). Aos discípulos é pedida com exigência a liberdade interior. Quem anuncia a Boa Nova não pode estar preso nem às pessoas, nem às coisas, nem às situações. É um convite à pobreza radical.
. O objectivo é claro – “Em qualquer casa onde entrardes dai a paz e curai os enfermos que lá houver” (Lc 10, 9). O discípulo é pacificador. Transmite serenidade, abre perspectiva para tempos novos, cria dinâmicas de reconciliação, preocupa-se com o sofrimento dos outros, pratica o bem. No regresso faz-se a avaliação – “Alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10, 20). Numa atitude de revisão de vida Jesus pede que continuem humildes, mesmo depois do anúncio da Boa Nova. O importante não é vencer o mal, é estar inscrito no coração de Deus.
É neste maravilhoso contexto que Jesus pede insistentemente uma especial oração para que sejam “enviados operários para a messe”. Na Semana dos Seminários esta oração é devida a todas as comunidades cristãs. Todas deviam gerar sacerdotes para o anúncio da Boa Nova, para o ministério do perdão, para o sacrifício da Eucaristia, para o exercício da caridade. Porque faltam sacerdotes é preciso forçar o céu, para que surjam jovens que queiram apaixonadamente amar Cristo e a Igreja, tornando-se disponíveis para o serviço do Reino.
2. A formação dos sacerdotes não foi sempre igual, tem-se vindo a aperfeiçoar constantemente. Durante muito tempo a preparação para o sacerdócio era essencialmente teórica. Estudavam-se as ciências teológicas, enriquecidas com o conhecimento da Bíblia, a análise profunda do mistério da Igreja, as orientações morais para o comportamento dos cristãos, e os ritos litúrgicos desde há séculos inalteráveis. O Concílio Vaticano II veio apresentar a beleza do sacerdócio num documento notável a “Presbyterorum Ordinis”, que dá ao sacerdócio para além das orientações doutrinais uma grande preocupação pastoral. Os sacerdotes são formados nos seminários para serem pastores. Um dos aspectos mais belos que neste documento se pode encontrar é a afirmação de que a vida do padre se distribui pela contemplação e pela acção, a oração e a caridade. Não pode haver conflito entre as duas. Em situações concretas deverá prevalecer sempre a caridade. (cf PO 14).
. Antes do Concílio, a formação dos sacerdotes em 12 anos obrigava ao Seminário Menor (estudo das Humanidades), e ao Seminário Maior (estudo da Filosofia e da Teologia).
. Logo após o Concílio, com o surgir da escolaridade obrigatória, os “meninos” deixaram de ir para o seminário aos dez anos. Esvaziaram-se os Seminários Menores e surgiu o Pré-Seminário, a educação pré-vocacional, dentro das famílias cristãs.
. Com a Exortação Pastoral “Pastores Dabo Vobis” de S. João Paulo II, a formação sacerdotal ficou organizada em três etapas, para além do Pré-Seminário: um tempo de discernimento, no fim da escola complementar; seguido do Seminário Vocacional para a afirmação da escolha de vida; e do Seminário Pastoral com experiências concretas nas comunidades cristãs.
. Todo este trabalho é apoiado pelos estudos Universitários da Antropologia Cristã, da Filosofia e da Teologia.
Esta proposta de formação conduz os jovens que procuram o sacerdócio a um trabalho intenso, onde a espiritualidade, a oração, a relação pessoal com Jesus Cristo e o amor à Igreja vão crescendo para neste espírito ser moldada a sua acção sacerdotal ao longo de toda a vida.
3. Os Seminários são escolas de formação. Contêm, por isso, uma exigência de educação integral que a pouco e pouco se vai centrando no objectivo fundamental dos jovens que querem ser sacerdotes na Igreja. Foi o Cardeal Saraiva Martins, que num documento notável sobre a escola católica definiu assim educação: “formação integral da pessoa humana, através da assimilação sistemática e crítica da cultura” (EC 26). Qualquer sacerdote tem que ter uma formação assim, em todos os aspectos da vida, com uma estrutura de pensamento assumida e com uma capacidade crítica indispensável. Podem por isso, aplicar-se à formação nos seminários as noções de educação definidas pela Conferência Episcopal, na recente Semana Nacional da Educação.
. Educar é pôr a caminho – no Seminário os jovens põem-se a caminho do sacerdócio. É esse o seu grande objectivo, numa opção de vida. À chamada de Deus deverá corresponder uma resposta generosa que os conduzirá até ao dia da sua ordenação. O caminho porém, não termina aí, uma vez que se exigirá na vida desses jovens um serviço constante à comunidade, recriando o amor imenso de Deus para com todos.
. Educar é propor referências – no tempo de preparação que se vive no Seminário a grande referência é Cristo. O sacerdócio vai ser a continuação do mistério de Cristo, Sumo-Sacerdote. Por Cristo se conhecerá o Pai, em Cristo se viverá a Igreja, com Cristo se servirão todos os irmãos.
. Educar é promover a fraternidade e a comunidade – ninguém é sacerdote para se santificar e para alcançar a vida eterna. O sacerdócio contempla os ministérios profético, sacerdotal e pastoral de Jesus. Como serviço, o sacerdócio coloca o padre disponível para os irmãos numa fraternidade autêntica, ultrapassando porém, simples relações pessoais. O padre irá presidir a uma comunidade para celebrar com ela a Eucaristia, sinal de unidade, vínculo de amor e banquete de alegria.
. Educar é formar agentes de mudança e de transformação social – o Papa Francisco disse-o para todos os cristãos: a confissão de fé faz-se através da acção social (cf EG IV). Se isto é certo para qualquer cristão, é-o mais para o sacerdote. O padre é agente de mudança proporcionando elementos para a conversão das pessoas e dos grupos, mas é também um agente social indo com gestos de caridade à procura do mais pobre.
. Educar é orientar espiritualmente – a formação espiritual em ordem à relação pessoal com Deus é essencial na preparação para o sacerdócio. A fé, adesão à Pessoa de Jesus Cristo e o compromisso eclesial, comunhão plena com os irmãos, exigem tempos fortes de oração e uma vida completamente dominada pelo Espírito do Senhor. Sem tempos de oração, o sacerdote nunca poderá realizar a sua missão.
O tempo de seminário será sempre para os jovens que querem responder à vocação sacerdotal, um tempo forte de renovação interior e de desafio para a acção pastoral que irão realizar na Igreja e no mundo.
4. A Semana dos Seminários interpela-nos para que rezemos pelas vocações sacerdotais e que contribuamos na medida das nossas disponibilidades para a formação dos sacerdotes. Além disso, a nossa comunidade deverá pedir insistentemente ao Senhor que envie operários para a messe. Que os jovens da Paróquia do Campo Grande não tenham medo de pôr em questão a sua possível vocação sacerdotal.
Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior