1. As Obras de Misericórdia são formas muito claras de comunicar o paradigma do amor, a marca do cristão. O que identifica os cristãos no meio do mundo é a sua capacidade de amar, dar de comer a quem tem fome, de beber a quem tem sede, vestir os nus e dar pousada aos peregrinos, visitar os doentes e os prisioneiros. Este texto do Evangelho de Mateus termina de uma maneira lindíssima: “O que fizeres ao mais pequenino dos teus irmãos é a Mim que o fazes” (Mt. 25, 40). Assim sendo, sempre que se visita um doente, é o próprio Jesus que se visita. A preocupação pelos doentes foi uma constante na vida de Jesus.
. “Jesus curava-os a todos” (Mt 4, 23-25). Esta é a expressão de Mateus ao contar que traziam a Jesus enfermos de todos os lugares. Foi assim no começo da sua vida pública e continuaria a ser assim ao longo de toda a sua vida. Jesus chegava a deixar a oração no monte para ir ao encontro dos doentes e os curar. Aliás, este sinal revelava ser Jesus, o Filho de Deus.
. “Em qualquer casa onde entrardes, curai os enfermos que lá houver” (cf. Lc 10, 9). Quando Jesus envia os 72 discípulos a anunciar a paz, pede-lhes que curem os doentes e os libertem de espíritos maus. Ao regressarem, os discípulos contavam as maravilhas que tinham acontecido.
. “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”(LC 17, 14). É a palavra de Jesus para os leprosos proibidos de entrarem na cidade. Os que vinham agradecer reconheciam em Jesus o Filho de Deus, Salvador.
. “Em nome de Jesus Ressuscitado, levanta-te e anda” (Act 3, 6). Pedro e João não tinham ouro nem prata, mas tinham a certeza de que, com a força de Jesus Ressuscitado, aquele paralítico que pedia à porta do templo podia curar-se.
Em todas estas páginas do Evangelho e dos Actos dos Apóstolos, é fácil reparar em que é Jesus que vai ao encontro dos que estão doentes, comunica com eles, pergunta-lhes o que desejam, responde ao seu pedido e restitui-lhes a felicidade que eles, doentes, tinham perdido. A grande síntese está compreendida nas Obras de Misericórdia: “estava doente e visitaste-me” (Mt 25, 36).
2. Os doentes e as pessoas portadoras de alguma limitação também são membros vivos da comunidade paroquial. Durante muitos anos participaram activamente na vida da comunidade. Podem ter sido leitores, ministros extraordinários da comunhão, catequistas, voluntários na acção social. Passaram os anos e estas pessoas, que amam a comunidade, adoeceram ou foram vencidas pela idade. Há pessoas que tiveram de ser sujeitas a intervenções cirúrgicas e estão em convalescença. Algumas têm já doenças crónicas que as obrigam a tratamentos constantes. Para muitas o passar da idade obriga-as a ficarem em casa, mesmo ao domingo. Há ainda pessoas que vivem uma situação de doença grave, às vezes irreversível. O que pode a Paróquia fazer por todas elas?
. Ir ao seu encontro, no hospital ou em casa, fazer-lhes companhia através dos voluntários que os visitam, dar-lhes a certeza de que não estão esquecidas, fazer com elas uma pequena oração para superarem, com coragem, todas as dificuldades.
. Levar-lhes a comunhão eucarística, logo após a missa de domingo, para que se sintam unidas com todos os que estiveram na celebração dominical, e assim possam participar no banquete da alegria pascal e celebrar a memória da morte e ressurreição de Cristo.
. Proporcionar-lhes um encontro com um sacerdote, para viverem o Sacramento da Reconciliação. Quando se está doente, tem-se oportunidade de rever a vida toda e, por isso, conversar com um sacerdote e pedir a absolvição é um momento único de encontro com o Senhor que, na sua misericórdia, está sempre pronto a perdoar.
. A Unção dos Doentes é o sacramento de cura. Não só se pede a libertação de todos os males, a cura de todas as doenças, como também o perdão de todas as faltas. A Unção não é preparação para a morte, é súplica para viver com mais qualidade. Por vezes, o Sacramento da Unção faz ressuscitar o doente de todos os seus males.
. O Sagrado Viático é uma especial comunhão eucarística. É o alimento espiritual para o caminho que leva o cristão ao encontro definitivo com Deus. Nem sempre se pode comungar, porque a assistência terapêutica, na sua complexidade, não permite. Este é, porém, o momento de uma comunhão espiritual que envolve o doente nesta fase final da vida. Pelo Viático o cristão prepara-se para celebrar com alegria a eterna Bem-aventurança.
Os cuidados espirituais a ter com a pessoa doente constituem um caminho de grande beleza. A Paróquia, que tem os seus doentes como a melhor pérola da sua comunidade, dá-lhes toda a atenção e, por isso, tem uma pastoral da saúde organizada para estar sempre próxima daqueles que sofrem. É mesmo verdadeira a Obra de Misericórdia que aos enfermos se refere: “Estava doente e visitaste-me”.
3. Porquê, hoje, esta referência aos nossos irmãos doentes e a todo o trabalho dos cuidadores que os acompanham em voluntariado organizado? É que, a 11 de Fevereiro de cada ano, celebra-se na Igreja inteira o Dia Mundial do Doente. Foi S. João Paulo II, Papa, que a 11 de Fevereiro de 1992, há 25 anos, instituiu esta jornada de oração e de acompanhamento dos doentes. A sua celebração para o mundo é sempre num santuário Mariano. Este ano, o Papa Francisco quis que o Dia Mundial do Doente se celebrasse no Santuário de Lourdes. O slogan é muito bonito: “O Senhor Todo Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 49). O Papa Francisco sublinha, nesta mensagem, a atitude a ter, quer pelos doentes, quer pelos profissionais, voluntários e familiares, quando o sofrimento bate à porta, através de uma doença ou de qualquer outra circunstância.
. A proximidade, não deixando sozinhos os que estão em sofrimento, contrariando a solidão que tantos enfermos estão sujeitos.
. O olhar de ternura como o de Maria para com Bernadette Soubirous, uma jovem doente que se tornou, depois, com a sua coragem, verdadeiro apóstolo da caridade.
. O respeito pela dignidade da pessoa, sobretudo se essa pessoa tem já muita idade, está limitada nas suas forças, apanhada por enfermidades que trazem consigo uma dor profunda.
. A intercessão de Maria, cuidadora dos aflitos, na súplica constante feita oração, quando cuidadores e doentes se reúnem a pedir a força do Céu para os momentos mais difíceis.
. Ser sinal de solidariedade da Igreja por aqueles que estão doentes e que, sendo também cristãos activos, podem colaborar, pela oração, na missão redentora de Jesus Cristo crucificado.
Na sua mensagem para o Dia Mundial do Doente, o Papa Francisco refere como a visita aos enfermos é para o doente um apoio à sua santificação e para o cuidador um tempo privilegiado de ser “perfeito no amor, como o Pai do Céu é perfeito a amar” (cf. Mt 5, 48).
4. Na nossa Paróquia do Campo Grande é já uma tradição celebrarmos esta jornada de oração com acompanhamento dos doentes. Na Eucaristia Paroquial celebraremos o sacramento da Unção e, durante a semana, os voluntários irão, de casa em casa, visitar os doentes que queiram viver este dia de amor que S. João Paulo II instituiu há 25 anos.
Pe. Vitor Feytor Pinto - Prior