1. Os cinco domingos da Quaresma, antes da Semana Maior, revelam-nos a presença de personagens muito importantes na vida de Jesus. Para cada um deles, Jesus tem uma atitude diferente. Para com o demónio que O tenta no deserto, Jesus tem uma posição de recusa e vence a tentação. Para Moisés e Elias, no alto do Tabor, Jesus completa a lei e os profetas, porque é o Filho de Deus e assim se revela a Pedro, Tiago e João. Para com a mulher samaritana, Jesus tem a ternura de pedir água e de oferecer a água viva que jorra para a vida eterna. Para o cego de nascença, Jesus vem dizer que é a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo. Finalmente, para Lázaro de Betânia, Jesus afirma ser a Ressurreição e a Vida. Quando Lázaro morre, Jesus revela-se o amigo, o Messias, o Filho de Deus. Este episódio do Evangelho de João conta-se em poucas palavras:
.Jesus tem um amigo, Lázaro, que, com duas irmãs, vivia em Betânia, uma aldeia perto de Jerusalém. É ali que Jesus costuma descansar. Estava longe e vieram dizer-lhe que o seu amigo Lázaro estava doente. Jesus, porém, continuou a sua missão, dizendo mesmo que a doença não seria grave. Até os discípulos se admiraram. Mas Jesus acrescentou logo que aquela doença serviria para dar glória a Deus.
.Jesus soube que Lázaro morreu e foi, então, a Betânia para consolar as duas irmãs. Quer Marta, quer Maria disseram-lhe a mesma coisa: “Se Tu estivesses aqui, o nosso irmão não teria morrido”. “Sabemos que és o Messias e podias pedir a Deus por ele”. Jesus, então, garantiu que Lázaro voltaria a viver, porque “Ele é a Ressurreição e a Vida e quem acredita n’Ele viverá”.
.Jesus pergunta, então, onde puseram o seu amigo que, aliás, tinha sido sepultado há quatro dias. Depois, mandou rodar a pedra tumular e gritou: “Lázaro vem para fora”. Lázaro saiu, tiraram-lhe as ligaduras que o prendiam e voltou à vida. Só o Filho de Deus podia vencer a morte, porque é o Senhor da Vida.
No conhecer progressivo da Pessoa de Jesus, compreende-se que Ele não é apenas um amigo, nem somente o Messias: Ele é o Filho de Deus. As três ressurreições que Jesus realiza, a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e o seu amigo Lázaro, são apenas a garantia de que Ele vencerá a morte. Repetidamente o afirma dizendo que ao terceiro dia ressuscitará. Os discípulos não deram conta, mas Jesus depois da crucifixão ressuscitou dos mortos. Jesus é o Senhor da Vida.
2. A vida é o maior dom que se recebe de Deus. Deus reservou para si o dar a vida quando pediu ao primeiro par humano que não comesse da árvore da vida. Como Adão e Eva tentaram ser donos da vida, também hoje na humanidade há quem queira ter o direito de dar a vida e de a tirar. Estar ao serviço da vida é um acto de fé, um compromisso com Deus. Não entendem isso aqueles cientistas, técnicos, políticos que se arrogam o direito de tirar a vida a quem a não tem com a qualidade ideal. Para os homens rectos e de boa vontade a vida é o primeiro direito e, por isso, é inviolável, indisponível e acompanhada com a maior segurança. É a vida que faz feliz toda a humanidade. Por tudo isso, os cristãos não podem ter a cultura da morte. Todos os papas, sobretudo depois de Paulo VI, referem que a vida deve ser respeitada sempre “desde a concepção até à morte natural”.
. A defesa da vida constitui o primeiro dever de toda a humanidade. Referem-no os direitos humanos, as constituições dos países e os juramentos éticos. A vida não pode ser destruída, qualquer que seja a razão, quer antes do nascimento, quer no decurso da vida de cada um, quer mesmo na etapa definitiva, na proximidade da morte.
.A promoção da vida é essencial para que cada um seja de verdade feliz. Esta promoção faz-se pelo desenvolvimento integral. Para a vida ter sentido são precisos ideais. A partir deles concretiza-se a vocação de cada um e a vida adquire os valores que ajudam a pessoa a ser feliz. É fundamental crescer na cultura, nas relações sociais e na actividade profissional. A partir disso, a vida realiza-se com objectivos, com etapas que se perseguem e, sobretudo, com os valores espirituais que se fundamentam na fé e se exercem na caridade.
.Fala-se muito da qualidade de vida e muitos pensam que esta se concretiza na posse dos bens materiais, na estética ou no simples bem-estar. João Paulo II afirmou claramente que a qualidade de vida se concretiza nas relações interpessoais, espirituais e mesmo sobrenaturais. Uma vida plenamente vivida reclama também a relação com Deus, numa transcendência assumida que se alimenta na oração e na alegria de viver.
Os cristãos são apóstolos da vida. Assumem que a vida é o maior dom de Deus, e que, enquanto tal, deve ser celebrada com todos os valores de que se dispõe. Cuidar da vida exige uma atenção permanente à saúde, à organização do tempo, à administração económica, às relações sociais e ao encontro com Deus na oração e na espiritualidade.
3. Todos somos chamados a atingir a plenitude da vida. É preciso caminhar na felicidade, cultivar a alegria, estar disponível para os outros e ter uma relação pessoal com Deus. É importante conhecer o caminho desta plenitude. Jesus soube dizê-lo quando, no início do Evangelho de Mateus, no discurso da montanha, proclamou as Bem-Aventuranças. Para se ser feliz é necessário ter um coração de pobre, um coração simples, um coração que pratica a justiça, um coração cheio de misericórdia, um coração verdadeiro e recto, um coração que constrói a paz. Para viver este código de felicidade são precisas três coisas:
.Cultivar a alegria, o sinal máximo da vida. Para isso, é fundamental estar em paz consigo próprio e com Deus, descobrir em tudo o sentido positivo das coisas, encontrar o lado mais belo das situações, ser capaz de ver o ridículo de algumas atitudes e, em tudo, manter o sorriso que liberta e ilumina o mundo, a nossa casa comum.
.Estar disponível para os outros, uma vez que o mais pequeno que se encontra no caminho é uma imagem viva de Jesus Cristo. É o serviço ao outro que transforma toda a vida. Deixa-se o egoísmo e compreende-se que sem o outro se cairia na solidão mais empobrecedora. O outro é mesmo um dom de Deus para a realização pessoal de cada um. As pessoas, quem quer que sejam, deveriam ocupar sempre, para o cristão, o primeiro lugar. No amor radical ao outro, a vida adquire a plenitude desejada.
.Ter uma relação pessoal com Deus aproxima-nos do infinito. Esta comunhão com Deus, a quem se ama, transfigura-nos. Realiza-se na contemplação da natureza, na capacidade de servir os mais pobres, na oração sentida, na leitura da Palavra de Deus, na preocupação de ser santo como Deus é santo.
Estas três notas atiram-nos para a plenitude de vida e permitem-nos ser felizes, mesmo nos dias mais cinzentos ou nos tempos de sofrimento e de dificuldade.
4. Tudo isto é ressuscitar para a vida verdadeira. Na nossa comunidade, nesta caminhada para a Páscoa, assumir que Jesus Cristo é a Ressurreição e a Vida dá-nos uma enorme capacidade de sermos felizes. A alegria constante, a fraternidade generosa, a contemplação de Deus que nos ama são seguramente elementos fortes para celebrar a Ressurreição que está próxima.
Pe. Vítor Feytor Pinto-Prior