Em pleno tempo de Natal, à luz da Família de Nazaré, há uma oportunidade única de refletir sobre as características da família cristã. Nos textos da liturgia, quer o Livro de Bem Sirá, quer a Carta aos Colossenses se centram nos comportamentos a ter na relação entre pais e filhos. O Evangelho de Lucas refere depois os cuidados de Maria e José com o Menino Jesus em tempos de dificuldade. Para enquadrar esta festa, vale a pena conhecer o que pensa a Igreja sobre a família. São João Paulo II define-a como «uma comunidade de pessoas, ao serviço da vida, para o desenvolvimento da Humanidade» (FC, nº 17 e ss.). O mesmo Papa acrescenta depois que a família é Igreja doméstica e, enquanto tal, é «uma comunidade crente e evangelizadora, de diálogo com Deus e de serviço aos mais pobres» (ibidem, nº 49 e ss.). Reorientar a família, para que corresponda ao projeto de Deus, constitui um desafio pastoral extraordinário. A família é um mundo de relações. Como se processam as relações entre o homem e a mulher, entre os pais e filhos, entre os mais novos e os mais velhos, é um exercício indispensável à construção de uma comunidade de amor e de vida, na renovação constante da vida familiar.

  1. O Livro de Bem Sirá é um código de comportamentos referido fundamentalmente à vida familiar. Era usado nas sinagogas para orientar e educar os mais novos. Nesta leitura, aparecem três palavras essenciais a um são relacionamento: a honra, as bênçãos, os cuidados. Honrar significa respeitar, acompanhar, servir. Tal é a atitude dos filhos para com os pais. Quem honra o pai terá vida longa e sentir-se-á feliz (cf. Eclo 3, 5-6). A quem honra o pai ser-lhe-ão perdoados os pecados (cf. Eclo 3, 14): Os filhos receberão assim as bênçãos de Deus, acumularão tesouros diante dEle, serão também honrados pelos filhos, a sua oração será atendida e terão uma vida longa. O Livro de Bem Sirá não se limita a dar conselhos, mas sugere que nestes cuidados se transmita um amor gratuito e incondicional.
  2. O agir só é verdadeiro quando fundamentado em sentimentos que vençam egoísmos e abram portas a um compromisso de vida. Neste contexto, o Apóstolo Paulo, na Carta aos Colossenses, pede expressamente que «todos se revistam de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de paciência, suportando-se todos uns aos outros e perdoando-se se houver razão de queixa contra outro». (Cl 3, 12-13). A concluir, a Carta aos Colossenses pede que se revistam de caridade, tendo no coração a paz de Cristo e, ao mesmo tempo, deem graças a Deus por todos os benefícios de Deus recebidos. Como, porém, não se pode ficar em teorias, embora boas, impõem-se que os maridos amem as suas mulheres, que estas retribuam com o mesmo amor, que os filhos obedeçam aos pais e que estes não irritem os filhos, para que todos sejam sempre e cada vez mais um só.
  3. Todas as famílias têm dificuldades. Podem ser fruto de uma relação difícil ou nascer de circunstâncias adversas que atingem o núcleo familiar. Foi isto que aconteceu no agregado familiar a que Jesus pertencia. Perante a perseguição, José e Maria pegaram no Menino e foram para o Egito. Ali permaneceram até terminar a perseguição de Herodes, o que permitiu o regresso a Nazaré. Ali, como quaisquer pais, ajudaram o Menino a «crescer em idade, sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens». Uma família normal, apoiada na proteção de Deus (José era avisado em sonhos), realizou a sua missão na harmonia das relações e na exigência das tarefas diárias. Esta simplicidade dá originalidade a qualquer família cristã.

Monsenhor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA

I LEITURA – Sir 3, 3-7.14-17a (gr. 2-6.12-14)

«Aquele que teme a Deus honra os seus pais»

Leitura do Livro de Ben-Sirá
Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe. Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá longa vida, e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe. Filho, ampara a velhice do teu pai e não o desgostes durante a sua vida. Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida, porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida e converter-se-á em desconto dos teus pecados.
Palavra do Senhor.

SALMO – 127 (128), 1-2.3.4-5 (R. cf. 1)

Refrão: Felizes os que esperam no Senhor
e seguem os seus caminhos. Repete-se
Ou: Ditosos os que temem o Senhor,
ditosos os que seguem os seus caminhos. Repete-se

Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem. Refrão

Tua esposa será como videira fecunda,
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa. Refrão

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém,
todos os dias da tua vida. Refrão

II LEITURA – Col 3, 12-21

«Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência».

Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Como eleitos de Deus, santos e predilectos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro. Tal como o Senhor vos perdoou, assim deveis fazer vós também. Acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vínculo da perfeição. Reine em vossos corações a paz de Cristo, à qual fostes chamados para formar um só corpo. E vivei em acção de graças. Habite em vós com abundância a palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros com toda a sabedoria; e com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai. Esposas, sede submissas aos vossos maridos, como convém no Senhor. Maridos, amai as vossas esposas e não as trateis com aspereza. Filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto agrada ao Senhor. Pais, não exaspereis os vossos filhos, para que não caiam em desânimo.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Col 3, 15a.16a
Refrão: Aleluia. Repete-se
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.

EVANGELHO – Lc 2, 22-40

A apresentação no Templo

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: «Todo o filho primogénito varão será consagrado ao Senhor», e para oferecerem em sacrifício um par de rolas ou duas pombinhas, como se diz na Lei do Senhor. Vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava nele. O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor; e veio ao templo, movido pelo Espírito. Quando os pais de Jesus trouxeram o Menino, para cumprirem as prescrições da Lei no que lhes dizia respeito, Simeão recebeu-O em seus braços e bendisse a Deus, exclamando: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo». O pai e a mãe do Menino Jesus estavam admirados com o que d’Ele se dizia. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações». Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada e tinha vivido casada sete anos após o tempo de donzela e viúva até aos oitenta e quatro. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações. Estando presente na mesma ocasião, começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele..
Palavra da salvação.

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