Promessa, chamamento, dom, resposta, necessidade
Celebramos, neste Domingo, o Dia dos Seminários Diocesanos. Lugares de encontro – e de confronto, os Seminários são uma oportunidade dada aos rapazes a quem o Senhor quer chamar de irem aprendendo a escuta, para melhor poderem dar uma resposta. Um dia, perguntaram ao Cardeal-Patriarca José Policarpo se, perante a evidência do decréscimo de vocações sacerdotais, Deus tinha deixado de chamar. O Senhor Patriarca respondeu: “Mas há aí alguém que queira ouvir?”
Em Lisboa, existem quatro casas onde os rapazes, em várias etapas, são ajudados a fazer um percurso vocacional. Antes de mais, são casas onde se formam cristãos. Cristãos que, dando seguimento à vocação baptismal, dispõem a sua vida para o serviço de Jesus e da Igreja onde Ele quiser, participando do Seu sacerdócio.
No Seminário de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme, estão os rapazes mais novos, entre o 10º e o 12º ano. Ali vivem uma etapa de maturação humana e cristã muito importante numa idade decisiva de muitas escolhas, tentando assumir pessoalmente a adesão a Jesus Cristo como projecto para toda a vida. Frequentam o Externato de Penafirme.
No Seminário de São José, em Caparide, estão os rapazes que vivem um Tempo Propedêutico, universitários ou já com experiência profissional. Este é um tempo em que, antes de ingressar no seminário maior, os rapazes podem dialogar a sua vocação com o Senhor e com a Igreja, que os ajuda na arte da escuta da voz de Deus e do que Ele realmente quer dizer, introduzindo à oração, à vida da comunidade, aprofundando a cultura cristã e providenciando um conhecimento mais aprofundado de si e da Igreja que poderão estar chamados a servir. É nesta comunidade que está, desde Outubro, o Duarte Folque, jovem nosso paroquiano, estudante de Direito. Durante este ano fazem uma pausa nos seus estudos académicos.
No Seminário de Cristo-Rei, nos Olivais, estão os rapazes que, passadas as etapas anteriores, responderam ao desafio lançado pelo Senhor e pela sua Igreja, de O seguirem “para onde quer que Ele vá”. Aqui, os rapazes atravessam duas etapas: a discipular e a configuradora. A primeira, pretende ajudar a crescer como discípulo de Cristo, a reconhecer-lhe a voz, a segui-lo com decisão, a aprender-lhe os sentimentos. A segunda, é a etapa final da formação, em que tendo já alguma firmeza no chamamento e nas condições de resposta, os rapazes se prepararam para configurar toda a vida a Cristo Bom Pastor. É o tempo dos estágios pastorais e da formação teológica mais orientada ao serviço sacerdotal. Frequentam a Universidade Católica.
No Seminário Redemptoris Mater, em Caneças, estão os rapazes que, vindos de vários países, no seu percurso do Caminho Neocatecumenal, são chamados ao sacerdócio. Os objectivos que ali se procura atingir são os mesmos que nos outros Seminários, de forma a formar padres missionários para o Patriarcado de Lisboa e, daqui, para o mundo. O método formativo assenta nos princípios orientadores do Caminho Neocatecumenal. Frequentam a Universidade Católica.
Uma promessa
“Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração” (Jer 3, 15). Esta palavra de Deus dita a Jeremias, continua viva e actuante na realidade da Igreja. Deus continua a chamar. O seu coração cheio de bondade não pode deixar de desejar ser um verdadeiro pastor para nós, pastor por meio dos nossos pastores, para cuidar de todos, com especial ternura e cuidado por uma qualquer ovelha que se sinta ferida, perdida, afastada.
Um chamamento
“Escolhido de entre os homens, é constituído a favor dos homens nas coisas que dizem respeito a Deus” (Heb 5, l). É muito bela esta palavra da Carta aos Hebreus, ao ensinar-nos que o sacerdote não é aquele que se voluntaria, mas aquele que Deus escolhe. E escolhe em todos os contextos, em todas as etapas da vida, em todas as latitudes da terra. A escolha é feita segundo critérios que escapam à nossa lógica. A verdade é que, segundo a intenção de Deus, o escolhido age a favor dos homens, ao serviço das pessoas, para as ajudar a caminhar para Deus como Cristo fez na sua caminhada sobre a terra.
Um dom
“Nele nos escolheu antes da criação do mundo, segundo o beneplácito da sua vontade” (Ef 1, 3-5). O sacerdócio é um dom gratuito de Deus que não se adquire, nem se merece. E como todos os dons de Deus é dado para ser distribuído, posto ao serviço, como acontece com todas as vocações cristãs. Esse dom é dado pela Igreja e para a Igreja e, por isso, exige daquele que o recebe uma atitude de humildade e docilidade perante a vontade de Deus, que lhe concede esse dom.
Uma resposta
Um padre que foi, durante anos, formador de Seminário dizia com muita verdade que nunca viu Deus a chamar, mas viu muitos rapazes a responder. É verdade! A vocação é um diálogo entre alguém que chama e um outro que responde livremente. E é preciso que seja uma resposta que se veja. Não basta escutar e deixar-se maravilhar pelas palavras e os gestos de Jesus. É preciso ir com Ele, segui-lo pelo caminho, ir ver onde mora. Essa liberdade para ir deixando as próprias seguranças e vender tudo para comprar o tesouro é a resposta fundamental que ajuda a aferir a verdade da vocação. Essa resposta é diariamente renovada, continuamente posta à prova, muitas vezes desafiada. A fidelidade e a perseverança são dois dos traços característicos dos discípulos de Jesus.
Uma necessidade
“A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, portanto, ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe” (Lc 10, 2). O sacerdócio é uma necessidade. Como poderíamos responder ao pedido que Jesus fez aos discípulos “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19), celebrando e alimentando-nos continuamente da Eucaristia, sem o dom do sacerdócio concedido aos Apóstolos e por eles passado de geração em geração? Precisamos de sacerdotes que sejam personificação da acção de Cristo: que continuem os seus gestos, que partam o alimento da sua Palavra e da Eucaristia, que caminhem pacientes ao lado dos discípulos de Emaús desalentados no caminho, que reparem nos pequenos Zaqueus empoleirados nas árvores com desejo de O ver, que perdoem até 70×7, que se entreguem diariamente por amor…
“Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5) foi a primeira – e quase a única – coisa que Virgem Maria nos disse no relato de São João. Com muita clareza, Jesus disse-nos que pedíssemos mais trabalhadores para a messe. Façamo-lo neste dia, nesta semana, façamo-lo sempre!
Rezando por eles, é por nós que rezamos!
Padre Hugo Gonçalves