Por uma coincidência de calendário, o Dia de Natal é Domingo, dia em que se reúne a nossa comunidade para a celebração da Eucaristia. A nossa Folha Informativa tem mesmo de ser diferente. Há uma família minha amiga que todos os anos publica um livrinho de poemas e de pensamentos a que chama Um Sapatinho de Natal, para distribuir pelos amigos como cartão de Boas Festas. Vou imitá-los, como presente a todos, três poemas maravilhosos de autores portugueses: “Natal de Jesus”, escrito por João de Deus, o “Natal à BeiraRio”, de David Mourão-Ferreira, e “Natal é quando um homem quiser” de Ary dos Santos. Três mensagens para um Natal vivido e em que está presente o Menino Jesus, em que se sente o Deus Menino na cidade à beira-rio e um Natal que cada um pode recriar constantemente na sua vida.

.“Minha mãe, porque Jesus/ Cheio de amor e grandeza,/ Preferiu nascer no mundo/ Nos caminhos da pobreza?/ Porque não veio até nós,/ Entre flores e alegrias,/ Num berço todo enfeitado,/ De sedas e pedrarias?”/ “Acredito, meu filhinho,/ Que o mestre da caridade,/ Mostrou em tudo e por tudo,/ A luminosa humildade!…/ Às vezes penso também,/ Nos trabalhos deste mundo,/ Que a manjedoura revela,/ Ensino bem mais profundo!”/ E a pobre mãe de olhos fixos,/ Na luz do céu que sorria,/ Concluiu com sentimento,/ Em terna melancolia:/ -“Por certo, Jesus ficou,/ Nas palhas sem protecção,/ Por não lhe abrirmos na Terra,/ As portas do coração./ (Natal de Jesus, de João de Deus)

.É o braço do abeto a bater na vidraça?/ E o ponteiro pequeno a caminho da meta!/ Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,/ A trazer-me da água a infância ressurrecta./ Da casa onde nasci via-se perto o rio./ Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!/ E o Menino nascia a bordo de um navio,/ Que ficava, no cais, à noite iluminado…/ Ó noite de Natal, que travo a maresia!/ Depois fui não sei quem que se perdeu na terra./ E quanto mais na terra a terra me envolvia/ E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra./ Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me/ À beira desse cais onde Jesus nascia…/ Serei dos que afinal, errando em terra firme,/ Precisam de Jesus, de Mar ou de Poesia./ (Natal à Beira-Rio, de David Mourão-Ferreira)

.Tu que dormes a noite na calçada de relento,/ Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento,/ Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento,/ És meu irmão amigo,/ És meu irmão./ E tu que dormes só no pesadelo do ciúme,/ Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume,/ E sofres o Natal da solidão sem um queixume,/ És meu irmão amigo,/ És meu irmão./ Natal é em Dezembro,/ Mas em Maio pode ser,/ Natal é em Setembro,/ É quando um homem quiser,/ Natal é quando nasce uma vida a amanhecer,/ Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher./ Tu que inventas ternura e brinquedos para dar,/ Tu que inventas bonecas e comboios de luar,/ E mentes ao teu filho por não os poderes comprar,/ És meu irmão amigo,/ És meu irmão./ E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei,/ Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei,/ Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei,/ És meu irmão amigo,/ És meu irmão./ Natal é em Dezembro,/ Mas em Maio pode ser,/ Natal é em Setembro,/ É quando um homem quiser,/ Natal é quando nasce uma vida a amanhecer,/ Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher. (Natal É quando Um Homem Quiser, de Ary dos Santos)

SANTO E FELIZ NATAL PARA TODOS!

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior