1. A Comunidade Paroquial do Campo Grande está em festa. O Padre António Alves, carmelita e vigário paroquial desta comunidade, celebra 60 anos de sacerdócio. A sua vida, de uma simplicidade extraordinária, conta-se em poucas palavras. Tendo nascido numa região profundamente cristã, numa aldeia da Pampilhosa da Serra, veio cedo trabalhar para Lisboa. Aqui sentiu a vocação para consagrar-se na Ordem Carmelita. Depois dos estudos de filosofia e teologia feitos em Córdova e em Roma, foi ordenado sacerdote a 7 de Julho de 1957. Foi professor nos seminários carmelitas, mestre de noviços de algumas gerações de sacerdotes, capelão do Convento do Carmo no centro de Lisboa e membro da comunidade carmelita na rua de Santa Quitéria. Foi em 1966 que tive oportunidade de o conhecer. Fora nomeado colaborador do Padre Armindo Duarte, na Paróquia de Santa Isabel, em Lisboa. Cruzávamo-nos de vez em quando, até que um dia, foi entregue ao Padre Armindo a paróquia do Campo Grande. O Padre Armindo não o dispensou e o Padre António foi nomeado vigário paroquial da Comunidade dos Santos Reis Magos ao Campo Grande. Entre 1975 e 1997 encontrámo-nos nos corredores desta paróquia onde eu celebrava aos domingos a missa das 19 horas. Um dia, em 1997, o senhor Cardeal Ribeiro pediu-me para suceder ao Padre Armindo no Campo Grande. Pus, no entanto, uma condição: que os padres que estavam com o Padre Armindo pudessem ficar comigo. A resposta do senhor Patriarca foi simples: convide-os. Fiz o convite e o convite foi aceite. O Padre António continua nesta Paróquia dos Santos Reis Magos até hoje. Vale a pena descrever o seu carácter através das linhas fundamentais da sua personalidade. 

. A simplicidade é uma característica da sua maneira de ser. Próximo de todas as pessoas que o procuram, disponível para tentar a solução de qualquer problema, capaz de dar esperança nos maiores sofrimentos das pessoas. 

. A sua espiritualidade revela-se nas mais pequenas atitudes: na maneira como preside diariamente à Eucaristia das 9 horas da manhã; na profundidade do seu diálogo com as pessoas em dificuldade; na preocupação de preparar os noivos para o Matrimónio e de envolver as famílias que trazem crianças para baptizar; e, finalmente, na forma como acompanha as famílias em luto pela perda de um ente querido. Esta acção pastoral está enriquecida pelo espírito carmelita do Padre António Alves. 

. O desprendimento, marca indiscutível de quem vive a pobreza religiosa, é uma nota que define toda a sua presença nesta comunidade paroquial. Percorre todos os caminhos da paróquia no apoio aos doentes, responde ao apelo dos mais pobres com especial ternura para com as crianças, não se cansa de servir em todos os momentos da vida paroquial.

É por ser assim que ao Padre António foram confiadas as tarefas mais difíceis da paróquia: o cartório, a administração económica e até o acompanhamento pastoral das famílias em luto.

2. A Paróquia dos Santos Reis Magos, ao Campo Grande, tem como maior preocupação a comunhão plena dentro da equipa sacerdotal. Habituámo-nos a acolher sacerdotes de outros lugares que, com o parecer favorável do Patriarcado, por razões de estudo, demandam Lisboa. Durante os mais de quarenta anos do Padre António nesta Paróquia do Campo Grande passaram pela equipa sacerdotal inúmeros sacerdotes, vindos dos mais diversos lugares. Todos os membros da equipa sacerdotal reconhecemos a importância do Padre António nas nossas vidas, pela sua presença discreta, o seu conselho oportuno, a sua compreensão pelos nossos erros, a sua alegria à mesa e até a sua oração. Por tudo isso: 

. Agradecemos todo o trabalho que o Padre António tem vindo a realizar nesta nossa comunidade. Não há Baptismo, Crisma ou Matrimónio que não tenha no Cartório o melhor acolhimento com a maior competência.

. Reconhecemos o cuidado que o Padre António tem com qualquer pessoa. Se tem uma enorme delicadeza com os mais evoluídos na sociedade, a sua predilecção vai indiscutivelmente para os mais pobres e para os que mais sofrem. A peregrinação que faz nos bairros da paróquia em cada primeira sexta-feira é expressão dessa enorme ternura com as pessoas que estão sozinhas em casa. 

. Temos de reconhecer o equilíbrio na gestão administrativa que lhe está confiada. Gerir os dinheiros de uma paróquia não é nada fácil. As despesas são muitas e as receitas são poucas. Se é preciso garantir a “sustentação do clero”, muito mais importante é manter os serviços com os orçamentos necessários, assegurar os salários justos e socorrer os pobres que nos procuram. É um trabalho maravilhoso que o Padre António faz com rigor e generosidade.

Se celebrar sessenta anos de sacerdócio é motivo de uma homenagem sentida, a gratidão perante 42 anos ao serviço da Paróquia do Campo Grande é um imperativo. Obrigado, Padre António.

3. Sou administrador paroquial da Paróquia do Campo Grande desde há 20 anos. Quando cheguei, a 4 de Outubro de 1997, pedi ao Padre Henrique, superior carmelita, que me deixasse o Padre António no Campo Grande para trabalhar comigo. O consentimento do Provincial da Ordem do Carmo foi a maior graça que podia ter-me sido dada. 

.  Criámos uma amizade profunda, reconhecendo eu no Padre António o meu irmão mais velho na experiência pastoral de uma paróquia. Tem sido um dom extraordinário ao longo destes 20 anos. 

. Coordenamos a actividade pastoral de maneira a que cada um desenvolva o trabalho que lhe compete. O rigor evangélico, a presença constante, o nosso encontro ao pequeno-almoço para preparar o dia, são expressões de uma grande paixão pelo sacerdócio e pela nossa comunidade. 

. Recebemos todo o exemplo da sua vida. O facto de ser carmelita revela a sua simplicidade e pobreza, o seu amor universal e a sua disponibilidade por tudo o que a Igreja lhe pede. Humilde no trato, generoso na entrega pastoral e cheio de amor para dar a toda a gente, são marca do nosso Padre António.

Neste dia em que cumpre 60 anos de sacerdócio, todos os companheiros de caminho durante mais de 40 anos na Paróquia do Campo Grande lhe agradecemos e desejamos as maiores felicidades.

Parabéns, AD MULTOS ANNOS.

Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior