UMA NOVA RELAÇÃO COM DEUS – A liturgia deste primeiro domingo da Quaresma contém três palavras cujo significado é fundamental no caminho da Quaresma que agora se está a percorrer: a Aliança, o Reino, o Baptismo. De muitas formas e em muitos tempos Deus estabeleceu Aliança com os homens. A primeira vez que esta Aliança é firmada depois do pecado de Adão é na maravilhosa alegoria do dilúvio. Deus não quer ser mais alguém que castiga, mas afirma-se alguém que perdoa e que ama (1ª leitura). Jesus anuncia um Reino de amor, afirmando com toda a clareza que está próximo o Reino de Deus, pelo que pede que todos se arrependam e acreditem no Evangelho (Evangelho). Os cristãos já participam da Redenção e o sinal de que aderiram ao projecto de Deus está no Baptismo, com a água que não limpa das impurezas mas que revela a beleza da comunhão com Deus (2ª leitura). Todos poderiam cantar “como o veado anseia pelas águas vivas, assim anseio por vós meu Deus”.

1. A Aliança com Deus
A alegoria do dilúvio é das histórias mais belas contadas pelo Génesis. A humanidade tornara-se pecadora. Alguns conseguiam manter-se fiéis a Deus. Tornou-se urgente a purificação que se opera pelas águas que tudo alagam. Trata-se de uma linguagem simbólica para explicar as tempestades mas a que o povo do Oriente atribuía poder castigador de Deus. Deus que ama o seu povo, na linguagem bíblica é um Deus que salva os que se mantém fieis. Noé e outros escolhidos sobrevivem na Arca. Quando as chuvas pararam é enviado um corvo que regressa à arca envolto ainda na escuridão. Por três vezes é depois enviada uma pomba. A primeira, volta à arca porque em nenhum lugar pôde pousar; a segunda é portadora de um ramo de oliveira e a terceira já não precisa de voltar. A paz desceu à terra e Deus estabeleceu com o Povo uma Aliança significada no arco-íris. Deus revela-se um Deus de perdão, um Deus de paz.

2. Está próximo o Reino de Deus
Há agora um novo sinal da Aliança, é Jesus Cristo o próprio Filho de Deus. Antes de iniciar a sua missão salvífica isola-se em oração no deserto da Judeia. Vence todas as tentações para que os humanos aprendam a vencê-las também. Não ceder ao ter, ao poder e ao prazer é um desafio feito aos que seguirem Jesus Cristo. Começando a vida pública na Galileia, Jesus afirma que se cumpriu o tempo, que está próximo o Reino de Deus. Para alguém participar no Reino, deverá arrepender-se e acreditar no Evangelho. O grande sinal da Aliança será Jesus que vencerá a própria morte.

3. O Baptismo, sinal de Ressurreição
Para concluir a linguagem litúrgica deste primeiro domingo da Quaresma, vale a pena centrar a vida do cristão no seu Baptismo. É pelo Baptismo que o cristão participa na salvação operada por Cristo. Ele que de uma vez por todas salvou a humanidade do pecado, Ele que venceu a morte, Ele que voltou à vida. Os cristãos porque com Cristo firmaram uma Aliança, vivem para sempre a alegria de filhos de Deus.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA:

«ESTEVE NO DESERTO QUARENTA DIAS.

DEPOIS PARTIU PARA A GALILEIA

E COMEÇOU A PREGAR O EVANGELHO DIZENDO:

ARREPENDEI-VOS E ACREDITAI.»

                                                                                            (Mc 1, 14-15)

I LEITURA – Gen 9, 8-15

A aliança de Deus com Noé.

Leitura do Livro do Génesis
Deus disse a Noé e a seus filhos: «Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que vos acompanham: as aves, os animais domésticos, os animais selvagens que estão convosco, todos quantos saíram da arca e agora vivem na terra. Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra». Deus disse ainda: «Este é o sinal da aliança que estabeleço convosco e com todos os animais que vivem entre vós, por todas as gerações futuras: farei aparecer o meu arco sobre as nuvens, que será um sinal da aliança entre Mim e a terra. Sempre que Eu cobrir a terra de nuvens e aparecer nas nuvens o arco, recordarei a minha aliança convosco e com todos os seres vivos e nunca mais as águas formarão um dilúvio para destruir todas as criaturas».
Palavra do Senhor.

SALMO – 24 (25), 4bc-5ab. 6-7bc. 8-9 (R. cf. 10)

 Refrão: Todos os vossos caminhos, Senhor,  são amor e verdade
para os que são fiéis à vossa aliança. Repete-se

 Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador. Refrão

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor. Refrão

O Senhor é bom e recto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer a sua aliança. Refrão

II LEITURA – I Pedro 3, 18-22

S. Pedro faz nesta leitura a comparação entre o dilúvio e o baptismo. A água baptismal, à semelhança da água do dilúvio, destrói o pecado e faz renascer para uma vida nova.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
Caríssimos: Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água. Esta água é figura do Baptismo que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência; ele vos salva pela ressurreição de Jesus Cristo, que subiu ao Céu e está à direita de Deus, tendo sob o seu domínio os Anjos, as Dominações e as Potestades.
Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 4b

Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-se

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Refrão

EVANGELHO – Mc 1, 12-15

O Espírito conduz Jesus para o deserto para os quarenta dias de preparação da sua vida pública.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Palavra da salvação.