A FESTA DA PÁSCOA não se esgota no Domingo da Ressurreição, mas prolonga-se até ao Pentecostes. Durante estes cinquenta dias, os cristãos têm a oportunidade de aprofundar a sua fé e de se comprometerem mais e mais no Cristo Ressuscitado. O II Domingo da Páscoa foi chamado, na tradição cristã, de domingo in albis, porque era neste dia que os catecúmenos deixavam as sua túnicas brancas e se integravam plenamente na comunidade  cristã. Neste contexto, compreende-se a escolha das leituras para proclamar a Palavra de Deus. Todos os cristãos devem superar as dúvidas, como o Senhor disse a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto.» (jo 20,29) É o texto do Evangelho.

Mas a fé só se celebra em toda a sua plenitude quando se vive em comunidade, lugar onde todos partilham a sua fé e se comprometem a viver ao ritmo do Ressuscitado. É a primeira leitura.

Finalmente, a Carta de São Pedro convida a acto de louvor, porque a ressurreição de Cristo é para cada crente fonte de alegria.

  1. A FÉ DOS APÓSTOLOS E A DÚVIDA DE TOMÉ – A ressurreição de Cristo fundamenta-se no testemunho dos Apóstolos que estiveram com Ele repetidas vezes. Foi no Cenáculo que Jesus Se encontrou com os Apóstolos pela primeira vez no dia da Ressurreição. Deu-lhes a paz, comeu com eles, transmitiu-lhes o dom do Esprito Santo e confiou-lhes o poder de perdoarem os pecados. Como Tomé não estava com eles contaram-lhe o sucedido, mas Tomé não acreditou. Queria vê-LO. Oito dias depois, Jesus apareceu no Cenáculo, estando já Tomé a quem Jesus interpelou: «Toca nas minhas mãos e nos meus pés.» Tomé já não precisou de tocar, apenas foi capaz de dizer: «Meu Senhor e meu Deus.» (Jo 20, 28). Na narrativa evangélica, não é apenas Tomé que duvida. Muitas vezes os Apóstolos duvidaram, mas todos eles foram capazes de superar a dúvida, acabando por dar testemunho da fé até pelo dom da vida. Hoje ter dúvidas  é normal. Superá-las, sobretudo pela oração, pelo dom do Espírito e pela vida em comunidade, é um desafio para qualquer um.
  2. A COMUNIDADE DE JERUSALÉM – Não é possível acreditar no Ressuscitado e viver à medida da sua exigência sem estar integrado numa comunidade cristã. Foi assim desde o primeiro século. Por isso, «todos estavam unidos na doutrina dos Apóstolos, na fração do pão, nas orações, e tudo o que tinham punham em comum» (AT 2, 42-43). Já os primeiros cristãos, para crescerem na fé, precisavam da vida da comunidade, porque ali refletiam as suas dificuldades, celebravam a comunhão na Eucaristia e se dispunham a repartir os seus bens. Que consequências resultavam? Não havia necessitados entre eles, estavam  sempre unidos e muitos aderiam a esta mesma aventura cristã. Atualmente não é possível crescer na fé sem viver numa comunidade cristã.
  3. O LOUVOR DE CRISTO RESSUSCITADO – A liturgia deste dia pode terminar com a carta de Pedro onde se bendiz o senhor porque renascemos para a Ressurreição , recebemos a herança prometida, celebramos a alegria ao vencer as provações, acreditamos, amamos, somos salvos. Este texto de Pedro é uma síntese maravilhosa do que é acreditar em Cristo

Mons. Vitor Feytor Pinto Foi 

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«ASSIM COMO O PAI ME ENVIOU,

TAMBÉM EU VOS ENVIO A VÓS.»

(Jo 20, 22)

I LEITURA – Actos 2, 42-47

Os primeiros cristãos formavam uma comunidade unida na fé e na partilha dos bens espirituais e materiais.

Leitura dos Actos dos Apóstolos
Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se.
Palavra do Senhor.

SALMO – 117 (118), 2-4.13-15.22-24 (R. 1)

Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. Repete-se

Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre. Repete-se

Ou: Aleluia. Repete-se

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia. Refrão

Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
Empurraram-me para cair,
mas o Senhor me amparou. Refrão

O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória,
foi Ele o meu Salvador.
Gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos:
a mão do Senhor fez prodígios. Refrão

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Refrão

II LEITURA – I Pedro 1, 3-9

Em Cristo Ressuscitado está a razão suprema da nossa vida cristã.

Leitura da Primeira Epístola de São Pedro
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece. Esta herança está reservada nos Céus para vós que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n’Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas.
Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO – Jo 20, 29

Refrão: Aleluia. Repete-se

Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto.» Refrão

EVANGELHO – Jo 20, 19-31

Jesus Cristo ressuscitado aparece aos discípulos reunidos na tarde do primeiro dia da semana. Oito dias depois, já com Tomé integrado na comunidade, mostra-nos  que devemos acolher o anúncio da Ressurreição sem quaisquer reservas.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da salvação.