Na tradição cristã, chamava-se a este II Domingo da Páscoa o domingo in albis. Era o dia em que os catecúmenos, batizados na noite pascal, deixavam as suas túnicas brancas, comprometendo-se a viver com um coração muito verdadeiro e uma vida irrepreensível. Ser batizado trazia consequências para a vida daqueles que entravam na comunidade cristã. É neste contexto que as leituras deste domingo se centram na vida comunitária dos primeiros cristãos. Na tarde do dia da Ressurreição, o Senhor ressuscitado apareceu aos Apóstolos que estavam reunidos no Cenáculo. Jesus tem para eles três gestos altamente comunitários: deseja-lhes a paz, dá-lhes o Espirito Santo e confere-lhes o poder de perdoar os pecados. É a primeira comunidade instituída por Jesus, no próprio dia da Ressurreição. Se este episódio é narrado no Evangelho deste domingo, a primeira leitura vai contar como era a primeira comunidade cristã na cidade de Jerusalém, como ela impressionava todos os habitantes ao ponto de muitos quererem aderir à fé. Esta forma primitiva nem sempre foi vivida com a mesma exigência. Por isso o Apocalipse, na segunda leitura, revela as dificuldades das comunidades cristãs da Ásia Menor e como elas precisavam de receber uma mensagem de renovação profunda.
- A PRIMEIRA APARIÇÃO DE CRISTO RESSUSCITADO AOS APÓSTOLOS REUNIDOS NO CENÁCULO – A narrativa deste encontro de Jesus com todos os Apóstolos tem interessantíssimas contradições. Primeiro a surpresa dos Apóstolos, que precisaram de ouvir várias vezes a saudação de Jesus para terem a certeza de que era Ele. «A paz esteja convosco!» ecoou no seu coração, mas a surpresa foi tal que ficaram calados e só depois expressaram alegria. A seguir, o envio, igual ao envio de Cristo ao mundo; foi o apelo para a missão que os não deixaria ficar ali. Curiosa a dúvida de Tomé perante a entrega total dos outros à certeza da Ressurreição. Finalmente, a entrega do Espírito Santo, com a garantia de que tinham o poder de perdoar os pecados, missão que até ali pertencia a Deus. Este texto é de uma riqueza extraordinária
- A COMUNIDADE DE JERUSALÉM E SURPRESA DOS CIDADÃOS – Nos primeiros anos depois da partida de Jesus, os cristãos reuniam-se nas praças da cidade de Jerusalém. O povo apercebia-se de que eles eram muito unidos e, pela sua maneira de viver, eram considerados pessoas cheias de bondade, daí que o povo os enaltecesse. Quando os Apóstolos passavam, traziam-lhes os doentes para que os tocassem e eles ficassem curados. Tudo isto dava origem a uma forte atração que os cristãos provocavam nos seus concidadãos, de tal maneira que muitos aderiam ao Senhor pela fé, homens e mulheres que se convertiam ao Evangelho. A unidade entre os cristãos, a sua disponibilidade para servir os outros, a sua maneira simples de viver, tudo era motivo para homens e mulheres se apaixonarem por Cristo Ressuscitado e pela doutrina que d’Ele emanava.
- TODAS AS COMUNIDADES TÊM DIFICULDADES – A natureza deste grupo de cristãos revelava as suas normais fraquezas. Daí que João ou um seu discípulo tenha sentido a necessidade de enviar mensagens de renovação às sete comunidades da Ásia Menor. É este o âmbito geral do Apocalipse. Sobretudo nos capítulos 2 e 3, o autor deste livro recomenda a transformação destas comunidades cristãs. Recorda-lhes o que fizeram de bem, as dificuldades que sentiram, os pontos essenciais da mensagem e a garantia de que o Senhor os ajudará na renovação profunda da sua vida comunitária. O acreditar na Ressurreição supõe também que onde estão dois ou três reunidos em nome de Jesus, aí estará Ele, ressuscitado.
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA
I LEITURA – Actos 5, 12-16
O testemunho da primeira comunidade cristã.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.
Palavra do Senhor.
SALMO – 117 (118), 2-4.22-24.25-27ª (R. 1)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. Repete-se
Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia. Refrão
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Refrão
Senhor, salvai os vossos servos,
Senhor, dai-nos a vitória.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
O Senhor é Deus
e fez brilhar sobre nós a sua luz. Refrão
II LEITURA – Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Cristo é o Primeiro e o Último. Ele, que esteve morto, vive pelos séculos dos séculos.
Leitura do Livro do Apocalipse
Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava; ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas».
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
Refrão: Aleluia. Repete-se
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto. Refrão
EVANGELHO – Jo 20, 19-31
Na tarde de domingo de Páscoa, Jesus aparece aos apóstolos. Dá-lhes a paz, confere-lhes o poder de perdoar os pecados, convida-os à fé.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da salvação.