Na manhã do domingo de Páscoa, Jesus ressuscitado aparece às mulheres que tinham ido ao sepulcro, e depois a Pedro. À tarde, faz caminho com dois discípulos que se dirigiam a Emaús. À noite, aparece ao grupo dos Apóstolos, ainda fechados em casa com medo dos judeus. Dá-lhes a paz, diz-lhes que vai enviá-los ao mundo como o Pai o enviou a Ele; comunica-lhes o Espírito Santo e dá-lhes o poder de perdoar os pecados.
Tomé, um dos doze, não estava presente. Quando lhe contaram, recusou-se a acreditar. Era um homem realista. Morte é morte, deixemo-nos de fantasias… Só acreditaria se O visse com os seus olhos, pudesse tocá-Lo com as suas mãos!
No domingo seguinte, estando todos, Jesus volta a aparecer. Dirige-se a Tomé, numa branda censura: censura porque Tomé exagerou, recusando a palavra de dez amigos que conhecia de há muito; censura branda porque Jesus sabe que a fé é difícil. E Tomé murmura uma palavra que só mais tarde os seus companheiros terão coragem de fazer sua: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20, 28). Jesus remata: “Porque me viste, acreditaste. Felizes daqueles que vão acreditar sem terem visto.” (Jo, 20, 29).
A fé em Deus tem parecenças com o amor humano e também tem diferenças dignas de nota.
Para poder encontrar um grande amor, a Deus ou a alguém deste mundo, é preciso ter no coração e na vida um vazio e uma brecha: uma pessoa cheia, completa, não tem sede dum grande amor, bastam-lhe divertimentos; uma pessoa muito bem defendida, sem brecha, pode nem saber que lhe falta alguma coisa. Os Romeus e as Julietas, como os grandes santos, é que dizem, com Santo Agostinho: “o meu coração estava inquieto até descansar em Ti”.
Mas o vazio não chega, é preciso que seja bem preenchido. Uma pessoa muito carente em regra escolhe mal, vê qualidade onde não existe. Há quem ame o amor, mais que a pessoa supostamente amada. E não basta que a outra pessoa seja grande, é preciso que o diálogo seja possível, com base numa real adequação. Isto vale para a religião e para o mundo. Um santo pode não ser feito para o convento.
Voltemos à fé. Sem dúvida, Deus é o Outro fiável. O mal é que nós conhecemos Deus deformado pelas culturas e até pelo nosso inconsciente. Uma boa caminhada para a fé ou para a confirmação da fé vivida em criança, supõe portanto uma critica: há que quebrar as falsas imagens de Deus. Sem isto, em vez de Deus, o homem pode fazer-se fiel da superstição e da intolerância, soldado de cruzadas e familiar de inquisições.
A palavra “porque me viste, acreditaste; felizes daqueles que vão acreditar sem terem visto” não é um convite à aceitação cega, é a consagração do valor do testemunho. Encerra, de resto, um ensinamento importante: a respeito da verdade e do amor de outrem é possível ter sinais, e sinais muito fortes, mas não provas absolutas. Aquele ou aquela que teime em exigir provas absolutas cai na insanidade e naufraga no ciúme. Por outro lado, os sinais, quando são bons, vão sendo confirmados pela vida, até desembocarem num quase absoluto. Quando Deus mandou a Moisés que fosse libertar o seu Povo, Moisés quis que Ele lhe concedesse o dom de produzir milagres, sinais tangíveis. Deus responde: “O sinal que te dou é este: depois de libertares o meu Povo, celebrarás neste monte a vitória” (Ex. 3, 12). Quando um homem e mulher gostam a sério um do outro, casam, e são fiéis; quando um homem ou uma mulher acreditam numa vocação religiosa, fazem votos e são fiéis; quando um ser humano diz sim à fé e é fiel – celebram a vitória no último dia das suas vidas.
Isto tudo sem esquecer que a relação com Deus é de si mesma mais austera que os encontros entre pessoas deste mundo.
Homilia do Pe. João Resina Rodrigues
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LITURGIA DA PALAVRA
I LEITURA – Actos 5, 12-16
O testemunho da primeira comunidade cristã.
Leitura dos Actos dos Apóstolos
Pelas mãos dos Apóstolos realizavam-se muitos milagres e prodígios entre o povo. Unidos pelos mesmos sentimentos, reuniam-se todos no Pórtico de Salomão; nenhum dos outros se atrevia a juntar-se a eles, mas o povo enaltecia-os. Uma multidão cada vez maior de homens e mulheres aderia ao Senhor pela fé, de tal maneira que traziam os doentes para as ruas e colocavam-nos em enxergas e em catres, para que, à passagem de Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse alguns deles. Das cidades vizinhas de Jerusalém, a multidão também acorria, trazendo enfermos e atormentados por espíritos impuros e todos eram curados.
Palavra do Senhor.
SALMO – 117 (118), 2-4.22-24.25-27ª (R. 1)
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. Repete-se
Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia. Refrão
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria. Refrão
Senhor, salvai os vossos servos,
Senhor, dai-nos a vitória.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
O Senhor é Deus
e fez brilhar sobre nós a sua luz. Refrão
II LEITURA – Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Cristo é o Primeiro e o Último. Ele, que esteve morto, vive pelos séculos dos séculos.
Leitura do Livro do Apocalipse
Eu, João, vosso irmão e companheiro nas tribulações, na realeza e na perseverança em Jesus, estava na ilha de Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. No dia do Senhor fui movido pelo Espírito e ouvi atrás de mim uma voz forte, semelhante à da trombeta, que dizia: «Escreve num livro o que vês e envia-o às sete Igrejas». Voltei-me para ver de quem era a voz que me falava; ao voltar-me, vi sete candelabros de ouro e, no meio dos candelabros, alguém semelhante a um filho do homem, vestido com uma longa túnica e cingido no peito com um cinto de ouro. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Mas ele poisou a mão direita sobre mim e disse-me: «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão-de acontecer depois destas».
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
Refrão: Aleluia. Repete-se
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto. Refrão
EVANGELHO – Jo 20, 19-31
Na tarde de domingo de Páscoa, Jesus aparece aos apóstolos. Dá-lhes a paz, confere-lhes o poder de perdoar os pecados, convida-os à fé.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Palavra da salvação.