Habitualmente, no segundo domingo da Quaresma, a cena dominante é a da Transfiguração. Jesus terá subido a um monte alto, levando consigo Pedro, Tiago e João transfigurando-se diante deles. O seu rosto era mais brilhante que o sol e estavam com Ele, Moisés e Elias. Este ano, sem perdermos a grandeza desta cena evangélica que agora se diz ter sido no Monte Tabor, vale a pena centrar a meditação na Aliança, até porque este encontro de Jesus no Monte com Moisés e Elias é revelador duma Aliança que vem de longe cimentada no Monte Sinai pelas Tábuas da Lei e renovada constantemente através da Palavra dos profetas.
- Deus estabelece desde o princípio uma Aliança com o homem. A criação é reveladora de uma Aliança que Deus fez com o primeiro par humano e que, no dizer do livro do Génesis, foi contrariada porque o ser humano quis ser senhor da vida e árbitro das consciências. Esta rotura, na linguagem simbólica do Génesis, acontece com o gesto do homem que come do fruto da árvore da vida. Deus, porém, não se deixa vencer. O seu desejo de manter uma Aliança, mistério de comunhão com os homens, com a natureza, com todas as coisas. Então, logo no princípio é prometida a redenção “o filho da mulher esmagará a cabeça da serpente” (Gen 3, 15), e a salvação acontecerá quando se cumprir o tempo. Deus então, escolhe Abraão, firma com ele uma Aliança explícita, descrita na primeira leitura de hoje com uma poesia verdadeiramente extraordinária: “Olha para o céu e conta o número das estrelas”, começa assim o diálogo que Deus trava com Abraão, prometendo-lhe ser líder de um povo de quem virá o Salvador. Esta primeira Aliança será confirmada em Moisés, a quem, no Monte Sinai, Deus deu as Tábuas da Lei, a regra fundamental para o cumprimento da primeira Aliança.
- A Transfiguração no alto do monte, é o momento de viragem da Aliança Antiga para a Aliança Nova. Jesus escolheu três dos seus discípulos para lhes confiar um segredo: Ele tinha vindo ao mundo para completar o tempo e, agora, a caminho de Jerusalém, embora pedindo-lhes silêncio, Jesus revelava que na morte e ressurreição iria firmar a Aliança definitiva com a humanidade. Os discípulos teriam ainda muito que viver ao lado de Jesus para entender completamente este mistério, mas Jesus iria dar a vida para que todos tivessem a vida. Quando o Espírito Santo descer sobre os Apóstolos no Cenáculo, então, a Nova Aliança será vivida pela Igreja que assumirá nesse dia levar a Boa Nova do Evangelho a todos os povos.
- Os Apóstolos foram fiéis à Aliança em Jesus Cristo. Levaram o Evangelho a todas as criaturas, ensinando a viver como Jesus pediu, batizando todos no Pai, no Filho e no Espírito Santo. É neste contexto que Paulo pede que o imitem na fidelidade à Aliança, como ele é imitador de Cristo. Pede mais, que todos sejam firmes na fé, porque é nessa fidelidade incondicional que a Aliança com Cristo se realiza. Ao ler os textos da Palavra de hoje, compreende-se plenamente todo o mistério da salvação que passa pela Aliança que Deus estabeleceu com a humanidade, Aliança confirmada em Cristo e por Cristo, Aliança vivida pela Igreja até ao fim dos tempos.
Monsenhor Feytor Pinto ***********************************
LITURGIA DA PALAVRA
I LEITURA – Gen 15, 5-12.17-18
A promessa a Abraão.
Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias, Deus levou Abraão para fora de casa e disse-lhe: «Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar». E acrescentou: «Assim será a tua descendência». Abraão acreditou no Senhor, o que lhe foi atribuído como justiça. Disse-lhe Deus: «Eu sou o Senhor que te mandou sair de Ur dos caldeus, para te dar a posse desta terra». Abraão perguntou: «Senhor, meu Deus, como saberei que a vou possuir?». O Senhor respondeu-lhe: «Toma uma vitela de três anos, uma cabra de três anos e um carneiro de três anos, uma rola e um pombinho». Abraão foi buscar todos esses animais, cortou-os ao meio e pôs cada metade em frente da outra metade; mas não cortou as aves. Os abutres desceram sobre os cadáveres, mas Abraão pô-los em fuga. Ao pôr do sol, apoderou-se de Abraão um sono profundo, enquanto o assaltava um grande e escuro terror. Quando o sol desapareceu e caíram as trevas, um brasido fumegante e um archote de fogo passaram entre os animais cortados. Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abraão uma aliança, dizendo: «Aos teus descendentes darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio Eufrates».
Palavra do Senhor.
SALMO – 26 (27), 1.7-8.9abc.13-14 (R. 1a)
Refrão: O Senhor é a minha luz
e a minha salvação. Repete-se
O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei-de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei-de ter medo? Refrão
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: «Procurai a sua face».
A vossa face, Senhor, eu procuro. Refrão
Não escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem me abandoneis,
meu Deus e meu Salvador. Refrão
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor. Refrão
II LEITURA – – Forma longa – Filip 3, 17 – 4,1
Apelo à fidelidade
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.
Palavra do Senhor.
II LEITURA II – Forma breve – Filip 3, 20 – 4, 1
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: A nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO
Refrão: Grandes e admiráveis
são as vossas obras, Senhor. Repete-se
No meio da nuvem luminosa, ouviu-se a voz do Pai:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Refrão
EVANGELHO – Lc 9, 28b-36
«Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.»
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando, Pedro disse a Jesus: «Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
Palavra da salvação.