À PROCURA DE UM TEMPO NOVO – A vida dos povos em todos os tempos tem os seus problemas e a salvação desejada supõe sempre o ultrapassar das dificuldades sentidas por todos. Foi assim no Povo de Israel que, em pleno cativeiro da Babilónia, sentia a perda da sua identidade, sofria a distância da terra que lhe fora prometida por Deus e vira destruído o Templo que Salomão mandara construir para o Senhor, o único Deus verdadeiro. É neste ambiente que Isaías profetiza anunciando caminhos de esperança (primeira leitura). Algo de semelhante acontece quinhentos anos depois. O Povo de Deus vive sob o domínio do Império Romano e sofre o poder económico e social de muitos que se aliaram ao império, com os seus governadores, e a pobreza extrema de outros que procuram ser fiéis a Deus continuando a esperar o Salvador. É neste ambiente que aparece João Batista, que muitos julgam ser o Messias, mas ele veio apenas pregar o batismo da penitência dando, porém, exemplo de uma vida austera e de fidelidade ao Senhor. Ele é o percursor, o novo profeta, o mensageiro, que vem anunciar o Salvador (Evangelho). Anos volvidos sobre a vinda de Jesus, os seus discípulos compreenderam que era possível construir novos Céus e nova Terra. Se a vinda do Senhor é sempre uma surpresa, a sua chegada, em Jesus Cristo, tornou-se fonte de justiça e de paz (segunda leitura).

  1. A TERNURA E O PERDÃO DO NOSSO DEUS – No cativeiro da Babilónia, o sofrimento era intenso. O Povo de Israel vivia a mais violenta das migrações. Considerava-se que tudo isto era um castigo pela infidelidade do povo. Isaías, profeta da esperança, é portador de toda a ternura que Deus mantém pelo seu povo. Consolai-vos, diz o Senhor, todos os pecados são perdoados, não há mais culpa. Por isso, o mundo transforma-se pelos caminhos novos através do deserto, pelas estradas abertas para o nosso Deus, pelos montes que se abatem e pelos vales que se elevam, vivendo-se em terra plana onde se manifesta a glória de Deus. Neste ambiente novo, Deus é o pastor que guia o seu rebanho. Em todas as horas difíceis vividas pelos homens, em qualquer tempo, a garantia da ternura de Deus dá a segurança para confiar sempre, sabendo que é possível atingir a felicidade apesar das dificuldades sentidas.
  2. O ELOGIO DE JOÃO, O MENSAGEIRO – João Batista é uma das figuras dominantes do Advento. Enviado por Deus para anunciar a vinda do Messias, ele apresenta-se apenas como uma voz, alguém que brada no deserto para preparar os caminhos do Salvador que está a chegar. A sua mensagem é proclamada nas margens do Jordão. Ele introduz o batismo da penitência. Ele exige a mudança das vidas. Ele assegura a esperança na vinda de Cristo, o Ungido. Na humildade de mensageiro, ele garante apenas que não é digno de desatar as correias das suas sandálias, acrescentando que o Messias, ao chegar, batizaria não apenas na água mas também no Espírito. Mais do que o perdão dos pecados, era o tempo novo, no Espírito, que estava a chegar.
  3. NOVOS CÉUS E NOVA TERRA – Pedro, na sua primeira carta, fala de como o tempo é relativo, apenas porque para Deus não há tempo. Está sempre disponível para provocar salvação. À paciência de Deus tem de responder o arrependimento do homem. Deus quer condicionar o seu perdão á disponibilidade dos homens em quererem mudar a vida. É por isso que a intervenção de Deus é sempre uma surpresa. O objetivo de Deus, porém é sempre a construção de novos Céus e nova Terra, o que só é possível na justiça e na paz. Pedro, na sua primeira carta, confirma a profecia de Isaías em que a ação de Deus é sempre salvífica e dá garantia de que a salvação está sempre perto em Jesus Cristo, seu Filho, que veio à Terra por amor (cf. Jo 3,16)

Monsenhor Vitor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA:

I LEITURA – Is 40, 1-5.9-11

«Preparai no deserto o caminho do Senhor»

Leitura do Livro de Isaías
Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei-lhe em alta voz que terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa, porque recebeu da mão do Senhor duplo castigo por todos os seus pecados. Uma voz clama: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor e todo o homem verá a sua magnificência, porque a boca do Senhor falou». Sobe ao alto dum monte, arauto de Sião! Grita com voz forte, arauto de Jerusalém! Levanta sem temor a tua voz e diz às cidades de Judá: «Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Com Ele vem o seu prémio, precede-O a sua recompensa. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 84 (85), 9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)

Refrão: Mostrai-nos o vosso amor
e dai-nos a vossa salvação. Repete-se
Ou: Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia. Repete-se

Escutemos o que diz o Senhor:
Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis.
A sua salvação está perto dos que O temem
e a sua glória habitará na nossa terra. Refrão

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade,
abraçaram-se a paz e a justiça.
A fidelidade vai germinar da terra
e a justiça descerá do Céu. Refrão

O Senhor dará ainda o que é bom
e a nossa terra produzirá os seus frutos.
A justiça caminhará à sua frente
e a paz seguirá os seus passos. Refrão

II LEITURA – 2 Pedro 3, 8-14

«O Senhor usa de paciência com todos.»

Leitura da Segunda Epístola de São Pedro
Há uma coisa, caríssimos, que não deveis esquecer: um dia diante do Senhor é como mil anos e mil anos como um dia. O Senhor não tardará em cumprir a sua promessa, como pensam alguns. Mas usa de paciência para convosco e não quer que ninguém pereça, mas que todos possam arrepender-se. Entretanto, o dia do Senhor virá como um ladrão: nesse dia, os céus desaparecerão com fragor, os elementos dissolver-se-ão nas chamas e a terra será consumida com todas as obras que nela existem. Uma vez que todas as coisas serão assim dissolvidas, como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus, em que os céus se dissolverão em chamas e os elementos se fundirão no ardor do fogo! Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, caríssimos, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na paz.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Lc 3, 4.6

Refrão: Aleluia. Repete-se
Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas
e toda a criatura verá a salvação de Deus. Refrão

EVANGELHO – Mc 1, 1-8

«Endireitai os caminhos do Senhor»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. Está escrito no profeta Isaías: «Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’». Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados. Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. João vestia-se de pêlos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
Palavra da salvação.