A 1ª leitura é um dos textos mais espantosos do Antigo Testamento, em que é proposta uma visão muito nova das relações entre o homem e Deus. Durante séculos e talvez milénios, as religiões convidavam o homem à docilidade e à paciência. Neste texto, Deus «conscientiza» Moisés de que o povo a que pertence está sujeito à opressão e de que lhe cabe a tarefa de o conduzir à liberdade. Moisés sente as ideias baralhadas; assusta-se; tenta convencer Deus de que deve ser Ele a desencadear a ação; pede que, ao menos, Deus lhe confie o «nome» misterioso que derrubará os inimigos. A resposta de Deus é que seja homem e acredite que celebrará nesse mesmo lugar a vitória.
O texto do Evangelho acrescenta elementos a esta nova perspetiva. Uma das tentações do homem religioso é querer ter uma «explicação» para o problema do mal, imaginar que todo o sofrimento foi programado por Deus com vista a certos desígnios. Hoje há quem pense que Deus manda o sofrimento para purificar e santificar o homem; os judeus diziam que todo o sofrimento é um castigo de Deus. Jesus ensina que não. …
O Evangelho encerra outra lição que é, porventura, a fundamental: «se não vos converterdes, morrereis todos da mesma maneira». A vida tem uma grande parte de imprevisto e é vão querer esconjurá-lo por completo, pelo saber ou pela oração. O que importa é viver no amor, na verdade, na limpidez. Então «venha o que vier», não destruirá o nosso caminho para Deus. Não estou a desdizer o que escrevi a propósito da 1ª leitura. Cabe-nos tentar compreender o mundo e lutar contra o mal. Não podemos cruzar os braços. Por outro lado, isso não significa a omnipotência. Esbarraremos sempre com limites. No dia dos limites, felizes os que tiverem entendido estes dois textos.
Pe. João Resina in "A Palavra no Tempo"
MISSA
I LEITURA – Ex 3, 1-8a.13-15
«O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós»
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Ao levar o rebanho para além do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor numa chama ardente, do meio de uma sarça. Moisés olhou para a sarça, que estava a arder, e viu que a sarça não se consumia. Então disse Moisés: «Vou aproximar-me, para ver tão assombroso espectáculo: por que motivo não se consome a sarça?». O Senhor viu que ele se aproximava para ver. Então Deus chamou-o do meio da sarça: «Moisés, Moisés!». Ele respondeu: «Aqui estou!» Continuou o Senhor: «Não te aproximes. Tira as sandálias dos pés, porque o lugar que pisas é terra sagrada». E acrescentou: «Eu sou o Deus de teus pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob». Então Moisés cobriu o rosto, com receio de olhar para Deus. Disse-lhe o Senhor: «Eu vi a situação miserável do meu povo no Egipto; escutei o seu clamor provocado pelos opressores. Conheço, pois, as suas angústias. Desci para o libertar das mãos dos egípcios e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel». Moisés disse a Deus: «Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas se me perguntarem qual é o seu nome, que hei-de responder-lhes?». Disse Deus a Moisés: «Eu sou ‘Aquele que sou’». E prosseguiu: «Assim falarás aos filhos de Israel: O que Se chama ‘Eu sou’ enviou-me a vós». Deus disse ainda a Moisés: «Assim falarás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, Deus de vossos pais, Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob, enviou-me a vós. Este é o meu nome para sempre, assim Me invocareis de geração em geração’».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 102 (103), 1-4.6-8.11 (R. 8a)
Refrão: O Senhor é clemente e cheio de compaixão. Repete-se
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios. Refrão
Ele perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades.
Salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia. Refrão
O Senhor faz justiça
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios. Refrão
O Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia
para os que O temem. Refrão
II LEITURA – 1 Cor 10, 1-6.10-12
«Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o batismo de Moisés.»
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não quero que ignoreis que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, passaram todos através do mar e na nuvem e no mar, receberam todos o baptismo de Moisés. Todos comeram o mesmo alimento espiritual e todos beberam a mesma bebida espiritual. Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava: esse rochedo era Cristo. Mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos no deserto. Esses factos aconteceram para nos servir de exemplo, a fim de não cobiçarmos o mal, como eles cobiçaram. Não murmureis, como alguns deles murmuraram, tendo perecido às mãos do Anjo exterminador. Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo e foi escrito para nos advertir, a nós que chegámos ao fim dos tempos. Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Mt 4, 17
Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-se
Arrependei-vos, diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus. Refrão
EVANGELHO – Lc 13, 1-9
As calamidades e os desastres são aceites por Deus, não são programados por Ele. O homem tem de estar preparado para tudo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, vieram contar a Jesus que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus, juntamente com o das vítimas que imolavam. Jesus respondeu-lhes: «Julgais que, por terem sofrido tal castigo, esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos do mesmo modo. E aqueles dezoito homens, que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou? Julgais que eram mais culpados do que todos os outros habitantes de Jerusalém? Eu digo-vos que não. E se não vos arrependerdes, morrereis todos de modo semelhante. Jesus disse então a seguinte parábola: «Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há-de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’. Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano».
Palavra da salvação.
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