CONVERTER-SE PELO AMOR – Todas as religiões contêm uma norma de conduta. Muitas delas chamam-lhe a Lei. É assim também com os israelitas. O Deuteronómio fala de muitas centenas de regras a cumprir. Isso deu origem ao farisaísmo de tantos que apontavam com facilidade as falhas no cumprimento da Lei. No Sinai, durante o caminho do deserto, Moisés recebeu de Deus as Tábuas da Lei e todas as normas de conduta ficaram reduzidas aos dez Mandamentos. Três regras na relação com Deus e sete na relação com o próximo. Muitos textos no Antigo Testamento falam das duas leis fundamentais: “Amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo” (cf. Dt 6, 5; Lv 19,18). Jesus Cristo diz claramente no Novo Testamento que não veio revogar a Lei, mas veio completá-la. Para isso dirá: “Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13, 34) e acrescenta até “por isso vos conhecerão como meus discípulos” (Jo 13, 35). Para Jesus a Lei não tem a complexidade do Deuteronómio, nem a simplicidade do Decálogo. A Lei resume-se a uma atitude de amor constante e em todas as situações. A referência à Lei de Moisés, aparece-nos hoje na primeira leitura. A Lei nova, que é Cristo, é-nos referida na segunda leitura. A ressurreição como atitude no cumprimento da Lei é o objectivo para a salvação (Evangelho).
1. A Lei de Moisés
O povo de israel caminhava no deserto após 400 anos de cativeiro. Tinha perdido as referências ligadas às antigas tradições. Precisava de normas de conduta que lhes permitisse uma relação normal com Deus, com os companheiros da peregrinação. Estava ainda longe a Terra Prometida. Era preciso libertar-se da idolatria, reconhecendo que só Deus é o Senhor. Precisava também de ter orientações seguras nas relações de uns para com os outros no difícil tempo do deserto. Deus convoca Moisés ao Monte Sinai e oferece-lhe as Tábuas da Lei. Ao descer do monte, Moisés encontra o povo a adorar o bezerro de ouro, parte as Tábuas da Lei e pede a Deus castigos para o povo. Mas o Deus de Israel é um Deus de amor, só sabe oferecer o perdão. Moisés desce de novo, do Monte Sinai e ao povo, já convertido, entrega-lhe uma norma de conduta, o Decálogo. São pormenores deste Decálogo que a primeira leitura do domingo de hoje nos oferece.
2. Cristo é a Lei Nova
Na Carta aos Coríntios, ao falar da Pessoa de Cristo, diz que Ele é escândalo para os judeus e loucura para os gentios. De facto, os judeus não reconheceram em Jesus o Messias e, por outro lado, a cultura gentílica não entendia um Deus crucificado numa cruz. Tudo isto porém, esta entrega de Jesus à humanidade e a sua imolação no altar da cruz, só podia ter uma chave de leitura: o amor de Deus pela humanidade. “Deus amou de tal forma o mundo que lhe deu o seu próprio Filho” (Jo 3, 16). Compreende-se que Paulo queira explicar à comunidade de Corinto quem é Jesus Cristo e que d’Ele faça uma síntese afirmando que a loucura de Deus é mais sábia que a dos homens e que a fraqueza de Deus é mais forte do que a de toda a gente. Esta loucura e esta fraqueza só podem ter fundamento no amor. O amor é a lei diferente anunciada por Jesus no Mandamento Novo.
3. O Anúncio da Ressurreição
Este texto do Evangelho de João põe em confronto os interesses dos homens e os projetos de Deus. O Templo não é um lugar de negócios, é um lugar de oração. A destruição do Templo é a angústia dos homens, a reconstrução do Templo é o sinal de Deus. Os fariseus procuravam razões para condenar Jesus à morte. Jesus preparava os caminhos para ao terceiro dia ressuscitar. Os sinais de Deus são diferentes dos sinais dos homens. Por tudo isto, Jesus, nos últimos dias da sua vida, mais do que os milagres que são um sinal pontual de amor, anuncia a sua própria Ressurreição que é a expressão máxima do amor de Deus pela humanidade. É que, como Cristo ressuscitou, todos podem ressuscitar (cf. 1 Cor 15, 20-22).
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA:
«DESTRUÍ ESTE TEMPLO
E EM TRÊS DIAS O LEVANTAREI».
(Jo 2, 19)
I LEITURA – Forma longa Ex 20, 1-17
Os mandamentos.
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».
Palavra do Senhor.
I LEITURA – Forma breve Ex 20, 1-3.7-8.12-17
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casa de escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. Honra pai e mãe, a fim de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo; não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença».
Palavra do Senhor.
SALMO – 18 (19), 8.9.10.11 (R. Jo 6, 68 c)
Refrão: Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna. Repete-se
A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples. Refrão
Os preceitos do Senhor são rectos
e alegram o coração;
os mandamentos do Senhor são claros
e iluminam os olhos. Refrão
O temor do Senhor é puro
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos. Refrão
São mais preciosos que o ouro,
o ouro mais fino;
são mais doces que o mel,
o puro mel dos favos. Refrão
II LEITURA – I Cor 1, 22-25
«Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. Nós pregamos Cristo crucificado.»
Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos procuram a sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Jo 3, 16
Refrão: Louvor a Vós, Jesus Cristo,
Rei da eterna glória. Repete-se
Deus amou tanto o mundo
que lhe deu o seu Filho Unigénito;
quem acredita n’Ele tem a vida eterna. Refrão
EVANGELHO – Jo 2, 13-25
A expulsão dos que comerciavam no Templo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.
Palavra da salvação.