A Reconciliação sacramental é muito mais do que o perdão do pecado, constitui um desafio para a mudança de vida. Na liturgia de hoje, os três textos referem a vida nova que o homem convertido quer viver. Paulo chega a dizer: “se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisa antigas passaram; tudo foi renovado.” (2 Cor 5, 17). Já no Antigo Testamento, o Povo de Deus era chamado a uma mudança total. Nas planícies de Jericó não tiveram mais o maná como alimento. Mas, colheram os frutos da terra e trabalharam a própria terra para poderem continuar a alimentar-se do trabalho das suas mãos (cf Jos 5). O paradigma desta mudança de vida está certamente na mudança do filho mais novo a quem o pai pôde confiar a gestão dos bens(cf Lc 15). Mais do que a parábola do perdão, esta história do filho pródigo é a parábola da confiança. Quem é pródigo no acolher, no apoiar, no promover é o pai de família que, apesar das falhas do filho mais novo, o recebe de braços abertos e lhe confia o anel do brasão. Mas este pai também vai ao encontro do filho mais velho para que, vencida a arrogância, também ele seja capaz de abraçar o irmão.
A história do filho mais novo tem duas partes. A primeira, é vivida pelo egoísmo deste jovem que requer a herança, esbanja todos os seus haveres, tem uma vida dissoluta e acaba a guardar porcos, os animais imundos. No seu egoísmo, ao querer salvar-se, recorre ao pai, mas, apenas, pensando no seu próprio interesse, ao referir que os trabalhadores da casa tinham pão em abundância. A segunda parte da vida do pródigo é pautada pelo amor do pai que se preocupa, que espera o regresso do filho, que o acolhe de braços abertos, que lhe faz uma festa, que lhe confia a gestão dos bens ao entregar-lhe o anel com que se selavam as escrituras. O que move o pai é apenas um amor sem fronteiras. É assim a ternura de Deus. Mesmo quando a Deus se recorre por interesses pessoais, a generosidade do nosso Deus exagera na confiança, porque quer acreditar na mudança de vida de todo aquele que O procura.
A mesma atitude de egoísmo é vivida pelo filho mais velho que só se preocupa com as festas que não teve, com o cabrito que não comeu, com o reconhecimento que considera lhe não foi dado. Uma vez mais o pai vai ao encontro de um filho para o reintegrar na casa comum. O seu argumento é sempre o mesmo, “o teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e encontrou-se” ( Lc 15, 32). Esta expressão do pai do filho pródigo é a tradução do amor que Deus tem pelo homem pecador. Será cada um capaz de uma mudança radical de vida? É esta que leva o homem a ser uma nova criatura
Monsenhor Vítor Feytor Pinto
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
LITURGIA DA PALAVRA:
«TINHAMOS DE FAZER UMA FESTA E ALEGRAR-NOS,
PORQUE ESTE TEU IRMÃO ESTAVA MORTO E VOLTOU Á VIDA,
ESTAVA PERDIDO E FOI REENCONTRADO.»
(Lc 15, 32)
I LEITURA – Jos 5, 9a.10-12
Após quarenta anos no deserto, os judeus chegam à Terra Prometida e celebram a Páscoa na planície de Jericó.
Leitura do Livro de Josué
Naqueles dias, disse o Senhor a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Os filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde, na planície de Jericó. No dia seguinte à Páscoa, comeram dos frutos da terra: pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia. Quando começaram a comer dos frutos da terra, no dia seguinte à Páscoa, cessou o maná. Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná, mas, naquele ano, já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.
Palavra do Senhor.
SALMO – 33 (34), 2-3.4-5.6-7 (R. 9a)
Refrão: Saboreai e vede como o Senhor é bom. Repete-se
A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes. Refrão
Enaltecei comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade. Refrão
Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias. Refrão
II LEITURA – 2 Cor 5, 17-21
O ministério da reconciliação. Por meio dele seremos na Páscoa, novas criaturas.
Leitura da Segunda Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado. Tudo isto vem de Deus, que por Cristo nos reconciliou consigo e nos confiou o ministério da reconciliação. Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo, não levando em conta as faltas dos homens e confiando-nos a palavra da reconciliação. Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo; é Deus quem vos exorta por nosso intermédio. Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus. A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus identificou-O com o pecado por causa de nós, para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Lc 15, 18
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. Repete-se
Vou partir, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Refrão
EVANGELHO – Lc 15, 1-3.11-32
A parábola do filho pródigo.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, os publicanos e os pecadores aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem. Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles». Jesus disse-lhes então a seguinte parábola: «Um homem tinha dois filhos. O mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’. O pai repartiu os bens pelos filhos. Alguns dias depois, o filho mais novo, juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante e por lá esbanjou quanto possuía, numa vida dissoluta. Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra, que o mandou para os seus campos guardar porcos. Bem desejava ele matar a fome com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. Então, caindo em si, disse: ‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho, mas trata-me como um dos teus trabalhadores’. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai. Ainda ele estava longe, quando o pai o viu: encheu-se de compaixão e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos. Disse-lhe o filho: ‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho’. Mas o pai disse aos servos: ‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’. E começou a festa. Ora o filho mais velho estava no campo. Quando regressou, ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças. Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo. O servo respondeu-lhe: ‘O teu irmão voltou e teu pai mandou matar o vitelo gordo, porque ele chegou são e salvo’. Ele ficou ressentido e não queria entrar. Então o pai veio cá fora instar com ele. Mas ele respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo’. Disse-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado’».
Palavra da salvação.