A RESPONSABILIDADE DO DISCÍPULO – Todos aqueles que são chamados por Cristo, respondem à vocação não apenas com palavras, mas, com actos e verdade. Toda a vocação supõe uma missão. Foi assim no Antigo Testamento, é assim no Novo Testamento e na vida da Igreja. A liturgia de hoje centra-se precisamente na responsabilidade do discípulo. Aquele que aceitou uma chamada tem que ser fiel à missão que lhe é confiada. A fidelidade, porém, tem condições. Moisés, na leitura do Deuteronómio, promete ao povo que virão profetas para continuar a sua missão. Repete-o várias vezes para que o povo tenha consciência de que Deus nunca o deixa só (1ª leitura). Aquele, porém, que é escolhido para discípulo, deve ter um coração purificado, liberto de espíritos impuros. É neste contexto que Jesus aparece no Evangelho de Marcos a expulsar demónios, purificando aqueles que acabam por ser seus discípulos (Evangelho). Finalmente, S. Paulo estabelece as exigências da consagração, referindo expressamente a radical entrega ao projecto de Deus (2ª leitura). No conjunto dos textos percebe-se que o discípulo é escolhido, é purificado e vive em total consagração.

1. A escolha de Deus
No caminho do deserto, à procura da Terra Prometida, o Povo de Deus sente imensas dificuldades. Sabe que não realizará o projecto de libertação sem a presença protectora de Deus que o fez sair do Egipto. Por isso interpela muitas vezes Moisés. Este sente a necessidade de falar com Deus na intimidade, e é, depois, que pode dizer ao povo que Deus lhes enviará um profeta para os acompanhar até à Terra da Promessa. Se este texto pode revelar a vinda do Messias, ele é sobretudo a afirmação de que os discípulos nunca estão sós, são sempre acompanhados por Deus. Se era assim no caminho do deserto, é assim para o cristão no decurso da sua vida. Quaisquer que sejam as dificuldades do caminho, o Senhor Deus que escolheu o discípulo acompanhá-lo-á sempre ao longo da vida.

2. Tempos de purificação
O Evangelho de S. Marcos levanta duas questões, aliás essenciais para o discípulo. A primeira, o ensino de Jesus na Sinagoga de Cafarnaum, o que revela que Jesus traz uma Boa Nova de salvação para todos. Todos se admiravam da verdade das suas palavras. O discípulo é convidado a aceitar esta Boa Nova. A segunda, a libertação de um homem que tinha um espírito impuro. No tempo de Jesus era frequente afirmar-se que alguns doentes tinham uma possessão diabólica. O caso do homem na sinagoga de Cafarnaum foi motivo para Jesus exercer o seu poder sobre os demónios. Jesus disse: “Cala-te e sai desse homem” (Mc 1, 25). Aconteceu então, que o demónio ao sair do corpo daquele homem afirmou que Jesus era o Filho de Deus. Os demónios reconheceram, mais cedo que os humanos, a divindade de Jesus. Neste Evangelho Marcos convida o discípulo a purificar-se do mal e a aceitar incondicionalmente a Boa Nova do Reino de Deus.

3. A consagração do discípulo
Numa página do Evangelho, Jesus dissera que ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro. Nesta Carta de Paulo, o Apóstolo é ainda mais radical ao dizer que o discípulo tem que se consagrar totalmente ao anuncio da Palavra de Deus e ao serviço dos irmãos. O discípulo consagra-se na totalidade, para não ter o coração dividido, assim pode entregar-se sem fronteiras à missão que o Senhor lhe quer confiar.

Monsenhor Vítor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA:

«QUE VEM A SER ISTO? UMA NOVA DOUTRINA, COM TAL AUTORIDADE,

QUE ATÉ MANDA NOS ESPIRITOS IMPUROS E ELES OBEDECEM-LHE!»

                                                                                                    (Mc 1, 27)

I LEITURA – Deut 18, 15-20

Sobre a missão do profeta

Leitura do Livro do Deuteronómio
Moisés falou ao povo, dizendo: «O Senhor teu Deus fará surgir no meio de ti, de entre os teus irmãos, um profeta como eu; a ele deveis escutar. Foi isto mesmo que pediste ao Senhor teu Deus no Horeb, no dia da assembleia: ‘Não ouvirei jamais a voz do Senhor meu Deus, nem verei este grande fogo, para não morrer’. O Senhor disse-me: ‘Eles têm razão; farei surgir para eles, do meio dos seus irmãos, um profeta como tu. Porei as minhas palavras na sua boca e ele lhes dirá tudo o que Eu lhe ordenar. Se alguém não escutar as minhas palavras que esse profeta disser em meu nome, Eu próprio lhe pedirei contas. Mas se um profeta tiver a ousadia de dizer em meu nome o que não lhe mandei, ou de falar em nome de outros deuses, tal profeta morrerá’».
Palavra do Senhor.

SALMO – 94 (95), 1-2.6-7.8-9

 Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações. Repete-se

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor. Refrão

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou;
pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho. Refrão

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras». Refrão

II LEITURA – I Cor 7, 32-35

Sobre o casamento e o celibato

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Não queria que andásseis preocupados. Quem não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, com o modo de agradar ao Senhor. Mas aquele que se casou preocupa-se com as coisas do mundo, com a maneira de agradar à esposa, e encontra-se dividido. Da mesma forma, a mulher solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas de corpo e espírito. Mas a mulher casada preocupa-se com as coisas do mundo, com a forma de agradar ao marido. Digo isto no vosso próprio interesse e não para vos armar uma cilada. Tenho em vista o que mais convém e vos pode unir ao Senhor sem desvios.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Mt 4, 16

Refrão: Aleluia. Repete-se

O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam na sombria região da morte uma luz se levantou. Refrão

EVANGELHO — Mc 1, 21-28

O poder de Jesus sobre o mal.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!». E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.
Palavra da salvação.