A FIDELIDADE AO PROJETO DE DEUS – A fidelidade nasce do amor e só quem ama é capaz de ser fiel. É assim na relação entre os homens, é assim também na relação com Deus. Jeremias deixou-se cativar e, por isso, foi capaz de se manter fiel apesar dos caminhos difíceis do povo de Deus no inicio do século VI a. C. As suas lamentações revelam o sofrimento por ver o povo a caminhar para o cativeiro da Babilónia. Manteve-se, porém fiel, continuando sempre a profetizar, a dar razões de esperança ao povo de Israel em sofrimento (primeira leitura). O Evangelho traz consigo o diálogo mais difícil de Jesus com os seus discípulos. Falar-lhes de perseguição e de morte, na subida a Jerusalém, era incompreensível para os discípulos que esperavam o Messias capaz de restaurar o Reino de Israel. Mesmo falando de Ressurreição, não conseguiu convencer Pedro. Ele, porém, manteve-se fiel à vontade do Pai. Na carta aos Romanos, Paulo convida os cristãos a entrarem numa fidelidade diferente: confiando na misericórdia de Deus, e oferecer-se como vitimas, à semelhança de Cristo, também Ele sofredor.

  1. A FIDELIDADE DE JEREMIAS – O profeta viveu entre 630 570 a.C., assistindo à derrocada de Israel, perseguida por Nabucodonosor rei da Assíria que em 587 a.C. entrou em Jerusalém e destruiu a cidade e o templo.  É por volta de 600 a.C. que ele fala de si próprio revelando a extraordinária ternura de Deus para com ele. «Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir» (Jr 20, 7) O profeta descreve depois todo o sofrimento que teve pelo simples facto de falar em nome de Deus. A violência atingiu-o de todos os lados, a sua voz era recusada por todos, sofre perseguições constantes. Quási cede à tentação de não voltar a falar em nome de Deus, mas a fidelidade a quem o ama é mais forte. Por isso deixou-se tomar pelo fogo ardente no seu coração o amor de Deus que o cativara.
  2. A FIDELIDADE DE JESUS – Dos diálogos que Jesus travou com os seus discípulos, nos muitos caminhos da Galileia  e da Judeia , os mais belos são certamente aqueles em que fala da sua subida a Jerusalém para ser perseguido, maltratado e mesmo condenado à morte. No texto deste dia, do Evangelho de Mateus, Jesus explica o seu projeto. Vai subir a Jerusalém, vai ser perseguido e maltratado pelos escribas e fariseus, e vai morrer, mas ao terceiro dia ressuscitará. É curioso que neste diálogo os discípulos se não apercebem da Ressurreição. Ficam apavorados com a perda do seu líder, que eles julgavam que iria ser rei. Numa terrível frustração, Pedro acaba por dizer: «Deus te livre, Senhor, isso não há-de acontecer» (Mt 16,22) Compreende-se a desilusão de Pedro. Jesus com uma dureza rara, interpela Pedro pedindo-lhe para não ser para Ele o diabo: «Vai-te daqui, Satanás, tu és para mim uma pedra de escândalo» (Mt 16, 23) terminando por dizer: «Estás a ver as coisas à maneira dos homens e não há maneira de Deus.» (Mt 16, 23) Este diálogo revela a fidelidade de Jesus à vontade do Pai, com uma radicalidade impressionante, consciente que nada nem ninguém o pode afastar do caminho que o Pai lhe indicou. Curiosamente, a terminar o diálogo, Jesus convida os discípulos a serem também fiéis , com a mesma radicalidade: «Se alguém Me quiser seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, aceite perder a vida, porque não importa ganhar o mundo inteiro (cf. Mt 16, 24-26).Esta radicalidade no ser fiel é a marca do cristão.
  3. A FIDELIDADE DOS CRISTÃOS – Paulo procura indicar, aos “santos” da comunidade de Roma, linhas de orientação que os possam levar a uma fidelidade total num mundo que lhes é adverso. Por isso, pede-lhes para não se conformarem com este mundo, com os seus falsos valores e critérios, que se deixem antes tomar pela misericórdia de Deus, oferecendo-se como vitimas, tornando-se assim agradáveis ao Senhor. Pede-lhes mesmo que se transformem pela profunda renovação espiritual. Porém, nunca o conseguirão se não souberem discernir entre o bem e o mal, podendo assim optar pelo que é melhor para si e para os outros. A fidelidade proposta aos cristãos de Roma era ao mesmo tempo uma fidelidade a Deus, uma fidelidade a si próprios, uma fidelidade aos outros. Para a felicidade, cumprir o projeto de Deus é o caminho.
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA

I LEITURA – Jer  20, 7-9

«Vós me seduzistes, Senhor,…»

Leitura do Livro de Jeremias
Vós me seduzistes, Senhor, e eu deixei-me seduzir; Vós me do­minastes e vencestes. Em todo o tempo sou objeto de escárnio, toda a gente se ri de mim; porque sempre que falo é para gritar e proclamar: «Violência e ruína!». E a palavra do Senhor tornou-se para mim ocasião permanente de insultos e zombarias. Então eu disse: «Não voltarei a falar n’Ele, não falarei mais em seu nome». Mas havia no meu coração um fogo ardente, comprimido dentro dos meus ossos. Procurava contê-lo, mas não podia..
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 62 (63), 2.3-4.5-6.8-9 (R. 2b)

Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.. Repete-se

Senhor, sois o meu Deus:
desde a aurora Vos procuro..
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água. Refrão

Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais do que a vida;
por isso, os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores. Refrão

Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares,
e com vozes de júbilo Vos louvarei. . Refrão

Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo. Refrão

II LEITURA – Rom 12, 1-2

«Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus que vos ofereçais a vós mesmos».

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Peço-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, que vos ofereçais a vós mesmos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, como culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente, para saberdes discernir, segundo a vontade de Deus, o que é bom, o que Lhe é agradável, o que é perfeito.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – cf. Ef 1, 17-18

Refrão: Aleluia. Repete-se

Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados. Refrão

EVANGELHO – Mt 16, 21-27

«Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, Jesus começou a explicar aos seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas; que tinha de ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-O à parte, começou a contestá-l’O, dizendo: «Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!». Jesus voltou-Se para Pedro e disse-lhe: «Vai-te daqui, Satanás. Tu és para mim uma ocasião de escândalo, pois não tens em vista as coisas de Deus, mas dos homens». Jesus disse então aos seus discípulos: «Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Na verdade, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Que poderá dar o homem em troca da sua vida? O Filho do homem há-de vir na glória de seu Pai, com os seus Anjos, e então dará a cada um segundo as suas obras».
Palavra da salvação.