TODA A EVANGELIZAÇÃO ESTÁ FUNDADA SOBRE A PALAVRA ESCUTADA, MEDITADA, VIVIDA, CELEBRADA E TESTEMUNHADA

A citação é da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, que o Papa Francisco escreveu como programa do seu pontificado e convite a toda a Igreja. Na senda deste riquíssimo e ousado documento, o nosso Patriarca propôs à Igreja de Lisboa a realização de um Sínodo Diocesano que servisse para olhar o futuro, partindo das palavras do Papa, e discernir caminhos novos que tornem realidade “o sonho missionário de chegar a todos”

Da caminhada sinodal saíram algumas linhas de força que definem o investimento prioritário que faremos nos próximos anos. De entre elas, decidiu-se que começaríamos pela Palavra de Deus: mais conhecida, mais bem celebrada, plenamente vivida.

Na Carta aos Diocesanos de Lisboa no início do ano pastoral, que vos convido a ler, o Senhor Patriarca encoraja-nos a que, neste ano, nos empenhemos em “Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé”! É importante que não nos esqueçamos deste fundamento – a Palavra – no qual está assente toda a Igreja, que dela nasce e dela vive.

Palavra mais conhecida

“No princípio era o Verbo [a Palavra], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (…) e o Verbo fez-se carne” (Jo 1, 1-14).

É importante que fique claro que a Palavra não é um conjunto de letras, nem se reduz a um livro ou a um conjunto de livros! A Palavra é uma pessoa! A Palavra fez-se carne e habitou no meio de nós! A Palavra Eterna de Deus ressoou na nossa humanidade, encarnou, entrou no tempo, veio ao nosso encontro! Jesus Cristo é a Palavra, o Verbo de Deus, o Logos eterno, “a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai! N’Ele o Pai disse tudo. Não haverá outra palavra além dessa” (Catecismo da Igreja Católica, 65). Se a Palavra é uma Pessoa, e se essa pessoa é o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne, então essa Palavra não é uma realidade inerte e sem vida, do passado: ela está viva e continua actual e actuante, geradora de vida na vida de cada homem, em toda a parte e sempre! Conhecer a Palavra é sempre conhecer Cristo! Foi por isso que o Papa Bento XVI nos disse que “no início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (Deus é amor, 1).

Palavra mais bem celebrada

O lugar mais significativo para a celebração da Palavra é a Eucaristia. Nela, a Palavra de Deus tem um papel importantíssimo, como expressão de um povo que se põe à escuta e que, depois, responde em atitude de fé. São Paulo dizia-nos que “A fé vem da pregação, e a pregação pela Palavra de Cristo!”. Na celebração da missa, a escuta da Palavra materializa o encontro com uma pessoa à qual se confia a própria vida, encontro esse que se torna pleno na comunhão do Corpo e Sangue do Senhor! O Espírito que inspirou a história e os autores da Sagrada Escritura é o mesmo que acompanha a Palavra proclamada e a faz penetrar profundamente no coração daquele que escuta, dispondo-o a amá-la e a servi-la (cf. VD, 52).

Sendo assim, é muito importante que intensifiquemos, ainda mais, o nosso cuidado em deixar que Deus fale, na Sua Palavra, nas nossas celebrações. É fundamental que a Palavra possa ser bem proclamada, não apenas porque bem dita, mas porque bem vivida por aqueles que são chamados a esse serviço. Que nada se perca, que nada fique por escutar, para que nada fique por viver!

Palavra plenamente vivida

Numa intuição cheia de profundidade, São Boaventura ensinou que “toda a criatura é Palavra de Deus, porque proclama Deus” (Hexaemeron, XX, 5), porque fala de Deus. Que bonita é esta ideia de que, em tudo o que existe, Deus se faz ver, Deus se diz, sobretudo no homem! E sempre que o homem reconhece o fundamento da sua existência na Palavra, sempre que esta Palavra encontra e é acolhida na nossa vida, ela recria-nos, faz-nos de novo, tornando-nos novas criaturas! É isso que o Baptismo faz em nós e é isso que o Perdão restaura em nós: a vida nova da graça, a vida de Deus e o dizer de São Paulo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). É uma nova criação! Como dizia Santo Agostinho: “Por meio do Verbo foste feito, mas é necessário que por meio do Verbo sejas refeito” (Comentário ao Evangelho de São João).

Fazer nascer a fé

Que este ano 2017-2018 encontre a sua maior novidade no empenho de todos em “Fazer da Palavra de Deus o lugar onde nasce a fé”. Que a nossa vida pastoral que agora recomeça em força, tenha como fundamento e princípio inspirador este de conhecer e dar a conhecer, cada vez mais, a Palavra de Deus, celebrando-a com profundidade e vivendo-a com entrega e generosidade. O dia 29 de Outubro será o “Domingo da Palavra” em todo o Patriarcado de Lisboa. Procuraremos vivê-lo em espírito de verdadeira comunhão e fé.

Uma nota muito pessoal de agradecimento a todos os paroquianos pelo belíssimo acolhimento que me fizeram no dia 10 de Setembro, e pelo que, desde então, me têm dado, começando pelo P. Vítor e estendendo-se a todos aqueles com quem me cruzei até agora.

A todos expresso muita gratidão e amizade!

P. Hugo Gonçalves