Domingo de Ramos na Paixão do Senhor – Missa transmitida através do Facebook 

 

Hoje celebramos o Domingo de Ramos, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Triunfal, ainda que revestida de alguma estranheza. Jesus entra, cumprindo a profecia de Zacarias, montado num jumentinho. À sua passagem revestem o chão com as capas, agitam ramos no ar e as crianças cantam e gritam: Hossana, ao Filho de David! Há em todo este ritual uma esperança: este homem é o Messias que havia de vir e que dará uma reviravolta à história deste povo subjugado pelos romanos. A festa que faziam era precisamente essa. Para eles, não tardaria muito para verem Jesus sentado num trono reclamando o seu poder sobre tudo e todos. E seria assim, mas não como eles pensavam.

 

Antes da chegada de Jesus a Jerusalém, havia muita especulação no sentido de saber se Ele teria coragem de subir à cidade pela Páscoa, como era requerido de todos os homens judeus. Acabava aqui essa expectativa. Decerto que esta entrada de Jesus e o sucesso que teve entre a multidão deixou ainda mais inquietos aqueles que congeminavam matá-lo. E não tardou a que pusessem o seu plano em marcha. No processo de Jesus, a sentença já estava decidida antes de começar o julgamento.

 

Jesus sabia da densidade das suas opções, Ele conhecia o risco. Mas, como o Servo Sofredor do texto de Isaías que escutámos, não resistiu nem recuou um passo. Apresentou as costas àqueles que lhe batiam e a face aos que lhe arrancavam a barba; não desviou o seu rosto dos que o insultavam e cuspiam…

 

De facto, Jesus vem tomar posse de um Reino que não é deste mundo; subirá a um trono em forma de cruz; terá sobre a cabeça uma coroa de espinhos e na mão um ceptro de cana; e o mais próximo do beija-mão que terá serão os açoites e cuspidelas. Não admira que a multidão esfuziante de alegria num dia por causa da sua chegada triunfante, seja a mesma multidão incendiada de cólera a pedir a sua crucifixão uns dias depois. Jesus não cumpriu as expectativas deles, estava ali preso, desfigurado, aparentemente sem poder. É assim a nossa humanidade: sombras e luz. Se não tivermos o coração bem centrado no essencial, se a busca permanente da Verdade não for o nosso farol, rapidamente o nosso coração pode mudar de rumo, de orientação. Levemos isto muito a sério: nós não somos assim tão diferentes da gente que engrossava aquelas multidões…

 

Belíssimo é o salmo 22, rezado por Jesus do alto da cruz. É a oração do justo rodeado por todos os lados, injustamente acusado, sem defesa possível… É o grito do homem que está no fundo do abismo, mas confiante que a sua vida depende unicamente de Deus e da sua misericórdia.

 

“Quando Eu for levantado da terra, atrairei tudo a Mim” é uma das promessas de Jesus numa das suas conversas com os discípulos. A cruz é o início de todo esse processo, que culminará na ressurreição e ascensão de Jesus ao céu. Os olhos da multidão viam ali um homem quase morto, sem poder. Que os nossos olhos, vejam ali um homem a caminho da Vida, desvendando que não há força maior, nem poder mais decisivo do que o de dar livremente a vida por Amor.

5 abril 2020