1.Começa com este domingo um novo Ano Litúrgico. Se é certo que os sacerdotes presidem às pequenas ou grandes celebrações da liturgia, são, porém, todos os fiéis que participam nas celebrações, abrindo o coração à Palavra de Deus e vivendo cada momento de oração, de acção de graças ou de reparação que está a ser celebrado. A Eucaristia Dominical, o Baptismo de um filho, a primeira Comunhão de uma criança, o sacramento do Crisma, a celebração do Matrimónio e até o acompanhamento de uma pessoa querida no seu funeral cristão, tudo é liturgia que merece uma participação activa em família, vivida depois na celebração que envolve todos os fiéis. A liturgia é, no dizer do Concílio Vaticano II, “O exercício da função sacerdotal de Cristo” (SC 7). Participam no sacerdócio de Cristo quer os sacerdotes, com o sacerdócio ministerial, quer todos os outros cristãos, com o sacerdócio comum dos fiéis. O ano litúrgico tem três partes: o Ciclo do Natal, o Ciclo da Páscoa e o Tempo Comum.

. O Ciclo do Natal tem três tempos: o Advento, o Natal e a Epifania. No Advento prepara-se a vinda do Senhor. No Natal celebra-se o Seu Nascimento. Na Epifania afirma-se a universalidade da mensagem cristã, com a manifestação feita aos Magos do Oriente.

. O Ciclo da Páscoa tem também três tempos: a Quaresma, o Tríduo pascal e a Festa da Páscoa até ao Pentecostes. A Quaresma é tempo de preparação, de penitência e conversão; o Tríduo Pascal é oportunidade de celebrar os mistérios do Senhor, a sua Paixão, Morte e Ressurreição; e a festa da Páscoa prolonga-se por sete domingos até ao Pentecostes.

. O Tempo Comum é constituído por duas fases do ano litúrgico, entre o ciclo do Natal e o da Páscoa e, depois, do Pentecostes até à Festa de Cristo Rei.

Ao longo do ano litúrgico vão-se celebrando também inúmeras festas: do Senhor, de Maria Mãe de Jesus, da SS. Trindade e de muitos Santos, Apóstolos, Evangelistas, Mártires e confessores da fé. A liturgia tem uma riqueza incalculável que permite crescer numa fé responsável e no muito amor à Igreja. A leitura continuada dos três anos litúrgicos, o conhecimento da Pessoa de Jesus nos mais diversos aspectos, as festas de Maria em cada mês, tudo constitui uma riqueza incalculável.

2. O ano litúrgico começa com o Advento. Nele, os cristãos preparam-se para a chegada de Jesus no Dia de Natal, a data em que se celebra o seu nascimento. Advento quer mesmo dizer “chegada”. Do latim “ad veniens”, a palavra advento indicava a chegada do imperador romano às pequenas cidades da periferia. A Igreja decidiu, então, chamar advento ao tempo de preparação do Natal. Agora, é Jesus que está para chegar, e por isso prepara-se a sua vinda com o Advento. Neste ano litúrgico (a. A) vale a pena seguir o caminho que é proposto pelo profeta Isaías.

. A Palavra de Deus. “Subamos ao monte do Senhor, Ele nos ensinará os seus caminhos. De Sião nos virá a lei e de Jerusalém a Palavra do Senhor” (Is 2, 3). É um convite a aceitar a Palavra de Deus com toda a sua força, verdadeira luz para os nossos caminhos. Só a Palavra nos ensinará a construir a paz (1º Domingo do Advento).

. A procura da paz. “Brotará um tronco de Jessé e um rebento de suas raízes”, “ a justiça será a faixa dos seus rins e a lealdade a cintura dos seus flancos”, por isso “o lobo viverá com o cordeiro” (Is 11). Com a vinda do Senhor vai surgir um tempo novo de reconciliação e de paz. O Senhor que está a chegar convida a celebrar a harmonia, fruto da justiça promovida em todos os lugares. O Senhor que vem é mesmo o Príncipe da Paz (2º Domingo do Advento).

. O caminho da justiça. “O Senhor vem para fazer justiça e dar a recompensa”, “Ele próprio vem salvar-nos” (Is 35). Ao chegar, o Senhor levará a justiça a todos os povos, procurará que seja dado a todos aquilo a que têm direito, convidará à reconciliação universal, caminho único para a verdadeira felicidade a celebrar no tempo e até na vida eterna. Pela justiça constrói-se a paz e pela paz abre-se a porta à salvação. (3º Domingo do Advento).

. A chegada do Senhor. “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho a quem será dado o nome de Emanuel, que quer dizer Deus connosco” (Is 7, 14). Os sinais de Deus marcam toda a vida, foi por isso que Ele nos enviou o seu próprio Filho. Com esta profecia, afirmava-se a certeza da vinda de Jesus, séculos mais tarde, como Messias, Redentor e Salvador da humanidade.

O itinerário do Advento, na preparação da vinda do Salvador, pode ter várias orientações. Uma das possibilidades é mesmo seguir o profeta Isaías, que convida a construir um mundo baseado na justiça e na paz, vencendo todas as adversidades. Escolher este caminho constitui um desafio para transformar toda a sociedade. Em Isaías, encontra-se uma proposta a inserir valores na família, no ambiente de trabalho, nas relações sociais, em toda a maneira de estar no mundo. “O Senhor virá em justiça e nos trará a alegria e a paz”(cf. Is 46, 12-13).

3. Também na Comunidade Paroquial do Campo Grande é habitual preparar o nascimento de Jesus. O Natal não é uma festa social em que a atenção primeira é colocada na árvore de Natal, na consoada, nos presentes que se partilham entre amigos, nos doces que a tradição consagrou. O Natal cristão é o nascimento de Jesus, o Redentor que veio ao mundo para tudo transformar. Pelo Natal prepara-se a chegada de Jesus, celebra-se o nascimento do Menino e revela-se o Salvador a todos os povos.

. A preparação do Natal exige a renovação profunda das nossas vidas: com tempos de silêncio e reflexão pessoal, com celebrações de reconciliação através do perdão de Deus, com o abraço aos irmãos, com oração de acção de graças e com a alegria por tudo o que nos tem sido dado.

. A celebração do Natal tem dois grandes momentos: a Missa do Galo, na meia-noite de 24 de Dezembro, e a grande Eucaristia no dia 25, o Dia de Natal, em que a comunidade celebra a vinda do Filho de Deus ao mundo.

. A revelação do Salvador vai realizar-se com a estrela do Oriente que anuncia aos Magos o Nascimento de Jesus. Assim cada cristão tem o dever de anunciar a toda a gente que Jesus veio ao mundo para salvar. A esta revelação de universalidade chama-se Epifania, a manifestação do Senhor.

Na vida de uma comunidade cristã, há momentos de extraordinária importância. Um deles é certamente o do Natal. Na Missa da Meia-Noite virão todos cantar hinos ao Deus Menino que acaba de nascer. Acontece que entre as festas que celebramos há uma devoção muito especial a Maria, Mãe de Deus. Também se recorda João, o evangelista do amor; evoca-se ainda Estêvão, o primeiro mártire e os Santos Inocentes, vítimas da fúria de Herodes. De repente, a Festa do Natal adquire uma dimensão extraordinária, envolve todos os cristãos, comprometendo-os a uma vida marcada pelos valores do Evangelho. Finalmente, na Epifania, vamos evocar os nossos padroeiros, os Santos Reis Magos que vieram do Oriente adorar Jesus.

4 Convidam-se todos os cristãos da nossa comunidade a viver o Advento. Guiados pelo profeta Isaías, somos chamados a meditar a Palavra de Deus, Cristo vivo que está sempre a comunicar connosco; praticantes da justiça, quereremos dar a cada um dos que nos rodeiam, tudo o que de melhor temos para lhes dar; conscientes de que é possível construir um mundo novo, tentaremos em tudo ser construtores da harmonia e da paz; porque o Senhor está perto, vamos cultivar a alegria do Natal, na consoada, na Missa do Galo, nas Festas do Natal. O Apocalipse quase a terminar tem um grito: “Maranatha, vem Senhor Jesus” (Ap 22, 20). Que Jesus venha de verdade às nossas vidas.

Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior