1. Uma das figuras simbólicas mais belas que se encontram em Roma, dentro das catacumbas, é a imagem do Bom Pastor. Nos três primeiros séculos do cristianismo houve a preocupação de não representar Jesus Cristo como um crucificado. A cruz era o sinal de condenação dos malfeitores e os cristãos não podiam apresentar o seu Salvador como um crucificado. Inventavam símbolos como o peixe ou o cordeiro. O peixe escrevia-se em grego com cinco letras IKTUS (Jesus Cristo Filho de Deus Salvador), e o cordeiro marcava a libertação vivida pelo povo de Israel ao sair do Egipto para a Terra Prometida. O símbolo mais belo que os primeiros cristãos escolheram foi, porém, a imagem do Bom Pastor. Evocavam-se assim as palavras de João no seu Evangelho: “Eu sou o Bom Pastor, o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas. Conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-me, eu amo as minhas ovelhas e elas seguem-me” (Jo 10, 11-14). Esta imagem do Bom Pastor ficou para sempre na memória e na vida dos cristãos. É por isso que, neste tempo pascal, o quarto domingo é dedicado ao Bom Pastor. Faz-se então o convite para que toda a comunidade cristã se entregue à oração pelos pastores da Igreja, pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes e outros consagrados. 

.Os sacerdotes são os condutores do povo santo de Deus. Orientam-no através da Palavra, da Eucaristia e do exercício da caridade. Orar pelos sacerdotes é pedir a Deus que os ajude a serem fiéis ao tríplice ministério que lhes foi confiado. 

Os religiosos são o testemunho vivo da alegria pascal. Servem as comunidades cristãs a partir de causas que lhes são confiadas. Podem ser educadores, acompanhar doentes, sobretudo os mais difíceis, socorrer os pobres e todos os que sofrem. A alegria que têm no coração testemunha-se a todos a quem servem com generosidade constante. 

. Os missionários deixam tudo, a terra onde nasceram, a família, os amigos, a acção profissional para se dedicarem exclusivamente ao anúncio do Evangelho, à proclamação da Ressurreição de Cristo. A missão “ad gentes” constitui o desafio maior para a expansão da Igreja, da fé cristã e da intervenção socio-caritativa junto das populações mais desfavorecidas.

Neste dia do Bom Pastor, as comunidades cristãs são chamadas a interpelar o céu, para que não faltem consagrados, com missão específica de fazer crescer a Igreja com os seus valores. Só através dos valores cristãos a humanidade pode alcançar a salvação.

2. As últimas décadas do século XX trouxeram à Igreja uma grande crise vocacional. Houve muitos sacerdotes e religiosos que renunciaram à missão evangelizadora, diminuindo também extraordinariamente o número de candidatos ao sacerdócio e à consagração religiosa. Muitas vezes se pergunta porquê. Não é difícil encontrar uma resposta para o facto de se terem esvaziado os seminários e os noviciados. 

. O Concílio Vaticano II obrigou a repensar a vocação. Uma exigência maior talvez tenha levado sacerdotes e religiosos a desistir do caminho que tinham escolhido. O impacto da visão conciliar, em ordem a uma Igreja mais próxima do mundo, levou uns tantos a abandonar o exercício das funções sacerdotais.

As famílias cristãs verdadeiro alfobre de vocações, passaram a ter apenas um ou dois filhos, numa natalidade muito diminuída. Têm por isso dificuldade em apoiar um filho na escolha da sua consagração ao serviço da Igreja. 

.O ambiente social perdeu muito o sentido cristão da vida. Há grupos sociais em que se multiplicam os que se dizem agnósticos. Afirmar a fé parece fechar portas à realização. É sobretudo na área da cultura e nas ideologias políticas que parece ser necessário dizer-se longe da fé cristã.  

.A valorização cultural e profissional levou muitos a não compreenderem o diálogo entre a ciência e a fé. Daí que, acompanhando o crescimento cultural, se tenham multiplicado as dúvidas e tenha acontecido um afastamento de qualquer prática religiosa. A falta de uma catequese permanente, verdadeira iniciação à vida cristã, torna impossível a fidelidade à fé que foi marca de muitas vidas.

Por tudo isto os jovens não sentem o apelo à consagração sacerdotal, religiosa e missionária. Na cidade não se respiram os valores religiosos que poderiam atrair os jovens à consagração. Diminuírem as vocações foi uma consequência lógica do tipo de sociedade que a pouco e pouco se foi construindo, sem Deus e sem memória cristã. Acresce a tudo isto não haver uma visão integral do ser humano que exige para além das preocupações de natureza biológica, social ou cultural, a preocupação da transcendência que leva o ser humano ao encontro de Deus.

3. Na Semana da Oração pelas Vocações, Semana do Bom Pastor, os cristãos deverão empenhar-se em práticas que possam aumentar o número de sacerdotes, religiosos e missionários. Podem elencar-se várias atitudes que mobilizem as comunidades e comprometam as pessoas no desejo de multiplicarem-se os sacerdotes. O Papa Francisco, o cardeal Manuel Clemente, todos os sacerdotes do Patriarcado de Lisboa estão preocupados com a falta de vocações sacerdotais. Os mais velhos sentem urgente o aparecer de novos sacerdotes que possam vir a substitui-los. A oração pelas vocações é essencial, mas só por si não é suficiente. O que é preciso fazer, então? 

. As famílias cristãs deverão estar abertas à vocação dos seus filhos. Um filho sacerdote é uma bênção de Deus. A sua disponibilidade é extraordinária, também para amparar os avós ou os pais na velhice, para ajudar à formação dos sobrinhos, mas sobretudo para projectar a família no Reino de Deus. 

. Os grupos de jovens da paróquia devem não ter medo de fazer a proposta vocacional. A reflexão profunda sobre o convite de Jesus, o Bom Pastor, a oração para o discernimento vocacional e a disponibilidade para acatar a vontade de Deus, constituem um desafio extraordinário. Cada comunidade cristã deveria gerar os seus sacerdotes e religiosos. 

. Os conselheiros espirituais podem abrir a porta vocacional aos jovens que acompanham. Não se pode ter medo de lembrar aos jovens que há um caminho de realização e felicidade na vocação sacerdotal e missionária. É a vida espiritual de cada um que se projecta nos outros, tornando-se fonte de alegria e felicidade para todos.

.A oração pelas vocações sacerdotais deve ser uma constante nas comunidades cristãs. Há poucos sacerdotes, a idade média dos padres é muito alta, muitas paróquias não têm o seu pastor, ficando integradas noutras comunidades pastorais. É altura de interpelar os céus para que haja muitos e santos sacerdotes.

A comunidade paroquial do Campo Grande, num passado não muito recente, deu origem a uma dezena de sacerdotes: vários religiosos da comunidade missionária Verbum Dei e dois sacerdotes diocesanos que exercem o ministério sacerdotal, um no Patriarcado de Lisboa e outro na Diocese de Leiria. Nos últimos anos parece ter sido estancada a corrente vocacional. É sobretudo aos jovens que caminham no aprofundamento da fé, no amor à Igreja e no serviço do mundo que se pede não tenham medo de pôr em questão a sua vocação sacerdotal e missionária.

4. Peçamos ao Senhor da messe que envie operários para a messe.

Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior