1. A característica fundamental da Igreja, Povo de Deus, é certamente a da comunhão na unidade. Jesus soube dizê-lo na conversa que teve com os Apóstolos na Última Ceia: “Que todos sejam um, como Tu, ó Pai, e Eu somos um, e o mundo creia assim que Tu me enviaste” (Jo 17, 21). Por estas palavras Jesus afirma a unidade entre os seus discípulos e, simultaneamente, a comunhão entre eles como caminho de evangelização. A unidade dos cristãos irá convencer o mundo que Jesus é o Filho de Deus que veio para salvar. Na história da Igreja, aconteceram, porém, fracturas nesta unidade. As mais significativas foram, no século XI, o afastamento dos Ortodoxos, com o Cisma do Oriente liderado pelo Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário, e, depois, no século XVI, a Reforma Protestante, encabeçada na Alemanha por Martinho Lutero e na Inglaterra por Henrique VIII. Associaram-se a estes, mais tarde, Calvino e Jean Huss, na Suíça. Foram duas brechas muito fortes abertas na unidade da Igreja.
2. Passaram-se séculos com uma enorme indiferença e, mesmo, agressividade entre cristãos que professavam fé diferente. Foram os protestantes os primeiros a reagir, procurando pelo menos uma oração pela unidade dos cristãos.
. O percursor do Ecumenismo foi o missionário Carey, em 1810, quando pretendeu organizar uma conferência internacional sobre ecumenismo que nunca se realizou.
. O movimento ecuménico que se conhece hoje surgiu em 1910, em Edimburgo, mas, já em 1908 os anglicanos Spencer Jones e Lewis Thomas tinham promovido oito dias de oração pela unidade dos cristãos. A data escolhida foi de 18 de Janeiro (festa da Cátedra de São Pedro) a 25 de Janeiro (festa da Conversão de São Paulo). Mais tarde, o Pastor Watson converteu-se ao catolicismo e tornou-se o líder desta semana de oração pela unidade.
. A principal expressão deste movimento é o Conselho Mundial das Igrejas criado na Holanda, em 1948, após a Segunda Guerra Mundial. A promoção do diálogo ecuménico passou a tornar-se uma urgência entre as religiões cristãs, católica, ortodoxas e protestantes.
Foi assim que, após séculos de distância, os cristãos de várias confissões religiosas se começaram a aproximar, na tentativa de, pelo menos na oração, “serem um só coração e uma só alma” (Act 4, 32).
3. A Igreja católica não poderia estar longe deste diálogo entre as religiões cristãs, ortodoxas e protestantes. Foi o Papa Leão XIII que, em 1895, pela encíclica Provida Mater, instituiu um tempo de oração, uma novena, pela reconciliação dos cristãos. Em 1928, porém, na encíclica Mortalium Animos, o Papa Pio XI põe reservas a esta aproximação ao afirmar que a verdadeira Igreja é a romana e todas devem a ela regressar. Esta afirmação, de natureza doutrinal, criou alguns problemas ao diálogo ecuménico que só viria a ser retomado com o Papa João XXIII.
. Foi em 1960 que o Bom Papa João instituiu, na Santa Sé, o Secretariado Romano para a Unidade dos Cristãos. Este secretariado constituiu um apoio permanente aos Bispos no Concílio Vaticano II.
. Em 1964, o Papa Paulo VI publica o decreto conciliar Unitatis Redintegratio, em que define o movimento ecuménico como uma graça do Espírito Santo e onde se afirma o olhar da Igreja sobre as igrejas separadas: as ortodoxas e as protestantes.
. O Papa João Paulo II, na encíclica Ut Unum Sint (Que Todos Sejam Um), confirma o disposto no Directório Ecuménico de 1970 e a colaboração ecuménica a nível regional, nacional e local.
. Todos os anos, a Igreja Católica adere à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e cada Papa tem para ela, sempre, uma mensagem de diálogo e unidade.
. Finalmente, num grande complemento inovador, o Papa Francisco celebrou na Suécia o encontro da Igreja Católica com as igrejas luteranas, para celebrar os 500 anos da proclamação do protesto liderado por Martinho Lutero em 1517.
Os cristãos do mundo inteiro, em qualquer das religiões que professem, acreditam em Jesus Cristo, Filho de Deus, Redentor e Salvador universal. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos exige que em todas as comunidades da Igreja Católica esta oração não seja esquecida. Não é por acaso que a semana começa com a Cátedra de São Pedro e termina com a Conversão de São Paulo.
4. O ecumenismo é a busca da unidade entre todas as igrejas cristãs. É um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. Pretende-se reunir o mundo crente para, em conjunto, se procurar uma nova humanidade centrada na Pessoa de Jesus.
. Cada comunidade cristã pode ter as suas iniciativas, no quadro de uma oração ecuménica: pedir a unidade entre todos os cristãos, sejam católicos, protestantes ou ortodoxos.
. Cada paróquia pode convidar algumas outras confissões religiosas cristãs, que numa oração em comum, tendo preparado as leituras, os cânticos, os comentários, vivam um ambiente de verdadeira fraternidade.
. Podem reunir-se nesta data, nas nossas paróquias, algumas comunidades cristãs de outras confissões religiosas que vivam no mesmo território. É oportunidade para rezar, para conviver, para partilhar um pequeno lanche, criando assim a amizade que a todos faz crescer.
. Há também comunidades que estabelecem iniciativas comuns com outras igrejas protestantes ou ortodoxas. Essa partilha constante, em verdadeiro jogo de afectos, permite aumentar a unidade e comunhão em Cristo Jesus.
A nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande está muito unida à “Casa da Cidade”, a comunidade evangélica presidida pelo Pastor João Martins, grande amigo dos nossos padres. É a nossa experiência ecuménica que queremos aprofundar sempre mais, para a verdadeira unidade dos cristãos. “Que todos sejam um só”.
Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior