1 Os três pilares na acção pastoral da Igreja são a Palavra, a Liturgia e a Caridade. Anunciar a Boa Nova é fundamental para crescer na fé. Celebrar a Eucaristia e todos os sacramentos é a expressão da relação profunda com Deus, em todas as circunstâncias. A acção social, a preocupação com os mais pobres é, porém, a actividade pastoral com mais visibilidade e que mais interpela os não crentes, no meio da cidade. Quando se fala do ministério socio-caritativo está a afirmar-se o paradigma dos cristãos, que é o amor. Está também a lembrar-se a preocupação social que vai privilegiar os mais pobres e os que mais sofrem. Está mesmo a cumprir-se o que o Papa Paulo VI chamava o “testemunho cristão”, isto é, o “acolher e compreender toda a gente, ser solidário com os mais pobres e viver em comunhão de vida e de destino com o povo de que se faz parte” (EN 21). Os últimos Papas, em documentos notáveis, falam deste ministério socio-caritativo.
- João Paulo II escreveu a Carta Apostólica “Salvifici Doloris”, cuja segunda parte aponta para o Bom Samaritano que soube fazer-se próximo do homem caído na estrada.
- Bento XVI na nota pastoral “A Porta da Fé” afirma claramente que não pode haver fé sem obras, o que quer dizer que o testemunho da fé faz-se em acções de solidariedade que resolvam os problemas dos outros (PF 14).
- O Papa Francisco foi muito mais longe ao escrever a Exortação Pastoral “Evangelii Gaudium”, uma vez que a expressão da fé se faz com a acção social organizada e eficaz (cf. EG IV capítulo).
Aliás, todos os Papas desde João XXIII se preocupam por levar a cabo o que já Leão XIII exigia aos cristãos na Encíclica “Rerum Novarum”, uma presença da Igreja no mundo empenhada em promover e desenvolver a justiça social.
2. Esta intervenção de proximidade que a Igreja promove em favor dos mais pobres não é de hoje: vem do Evangelho. Ao anunciar a avaliação final dos justos, São Mateus é de um rigor extraordinário: “Vinde benditos de meu Pai. Recebam como herança o Reino que vos está preparado, porque tive fome e deste-me de comer … Quando foi isso? Quando o fizeste ao mais pequenino dos irmãos” (cf Mt. 25, 34-40). De facto a caridade vivida no quotidiano é condição de salvação. Há muitas formas de realizar acções de caridade.
. Acções espontâneas. No dia-a-dia as pessoas cruzam-se com outros carregados de problemas e com imensas dificuldades. Ajudá-los pontualmente com a palavra ou com a dádiva de bens, é amor partilhado com os que sofrem.
. Responsabilidade individual. Por vezes conhecem-se casos de pessoas que precisam de uma ajuda permanente. É o caso de apoiar uma criança nas despesas da escola, assegurar a conta telefónica de uma pessoa de idade e tantas outras coisas, com compromisso individual.
. A intervenção social. Com uma acção organizada, através do Centro Social, acompanham-se inúmeras famílias, com ajudas muito significativas, a vários níveis, e permite-se contribuir para uma razoável qualidade de vida, apesar dos limites que possam existir.
Há então inúmeras formas de serviço aos outros, de os apoiar nas suas crises, de se fazer próximo nos seus problemas, de estar presente, não deixando gente em sofrimento na sua dificuldade, no seu problema ou na sua solidão. A caridade activa é mesmo o complemento lógico da nossa fé.
3. Para uma acção social organizada numa paróquia e dentro da grande cidade, exigem-se fases muito concretas: conhecer a realidade social, o universo de pessoas a ajudar, a sua idade e os seus problemas; avaliar os recursos disponíveis para uma resposta eficaz; um plano organizado de acção com programas bem definidos.
. A realidade social é constituída por todas as pessoas que têm carências profundas: doentes, idosos, crianças e jovens em risco, pobres que vivem abaixo do nível da pobreza, e ainda as pessoas em pobreza envergonhada;
. Os recursos para a resposta social são reservas económicas, bens alimentares, roupeiro, a par dos cuidados de saúde, de higiene, de apoio escolar e tantos outros;
. A organização implica o estudo social de cada caso, com a definição clara do problema que exige os apoios indispensáveis. A acção a desenvolver é depois integrada num programa que se desenvolve progressivamente até à resolução do problema em causa.
Estes recursos de intervenção social são, aliás, características da acção que o Centro Social e Paroquial realiza, nas respostas que oferece a todas as pessoas que o procuram. O Centro Social tem uma capacidade económica limitada, o que é uma razão acrescida para o estudo profundo de cada caso. De facto, para ir ao encontro das necessidades dos outros, é necessário ter a garantia das disponibilidades existentes. Só assim se consegue ser eficaz nas respostas sociais.
4. A Comunidade Paroquial do Campo Grande tem uma actividade social de grande impacto nesta zona da cidade. São centenas, senão milhares, as pessoas que nos procuram ao longo do ano, para pedir os mais diversos apoios, quer espirituais, quer materiais, ou jurídicos, ou de outra natureza. Temos por isso organismos que respondem a todos os apelos:
. O Centro Social Paroquial – constitui o mais importante organismo para realizar a acção social e caritativa da comunidade. Acompanha com cuidado todos os casos de pessoas e famílias com situações angustiantes. O grupo de assistentes sociais faz o estudo do caso, acompanha-o, e tenta encontrar solução para ele. É um trabalho notável da mais lídima caridade cristã.
. As Conferências de São Vicente de Paulo – no espírito de Frederico Ozanam, fazem seus os problemas de quase 40 famílias que visitam semanalmente. Detectam-se as carências mais urgentes e resolvem-se com uma generosidade absolutamente extraordinária. Acresce o facto de este trabalho feito pelos membros das Conferências ser de uma discrição muito grande, e leva consigo também o apoio espiritual que é para estas famílias muito gratificante.
. O grupo de Apoio aos Bairros Sociais – desenvolve com as irmãs Teresianas um trabalho muito simples, junto das famílias do Bairro das Fonsecas e Calçada. O apoio às crianças e aos jovens é o mais constante, mas é de realçar também o acompanhamento dos doentes e dos idosos aos hospitais e a outros serviços públicos onde aqueles têm de se apresentar. Trabalho idêntico é realizado no Bairro das Murtas, este mais integrado no Centro Social.
. A Obra de Santa Inês – é constituída por um grupo de senhoras que semanalmente se reúnem para organizar a confecção de artigos para enxovais de bebés. É de rara beleza a exposição que oferecem no Natal a toda a Paróquia, com casaquinhos, botinhas, mantas e outros artigos para crianças.
. O Grupo Renovar – integrado no Centro Social, faz a recolha e distribuição dos bens recebidos do Banco Alimentar e dos excedentes dos supermercados. Além disso, tem também a seu cuidado a distribuição de roupas a pessoas e instituições. Estas roupas, provenientes de dádivas, são tratadas a ponto de parecerem novas quando se entregam àqueles que as pedem.
É imensa a actividade socio-caritativa que a Paróquia realiza. Com isto se vive o paradigma do cristão, fazer do amor toda a razão da sua vida. Na Paróquia tem-se consciência que é no dar que se recebe.
5. No contexto dos três ministérios que à Igreja pertencem, o profético, o sacerdotal e o socio-caritativo, é este último, como já acima referimos, o que tem mais visibilidade social. Por isso adquire extraordinária importância no universo da evangelização. Perante o amor aos mais pobres, muitos perguntarão porque somos assim? A resposta é fácil, porque Cristo solidário com os pobres é razão da nossa vida.
Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior