1. Qualquer comunidade cristã, em termos pastorais, tem três ministérios, através dos quais exerce a sua actividade: o ministério profético, o ministério sacerdotal e o ministério da caridade. Pela profecia anuncia-se a Palavra de Deus, pelo sacerdócio celebram-se os ritos litúrgicos, pela caridade vive-se a acção social indispensável ao cuidado para com os mais pobres. O ponto de partida da vida comunitária é, sem dúvida, o profetismo, o anúncio de Jesus Cristo – Palavra de Deus. De facto, ninguém ama a quem não conhece. Este conhecimento exige um certo “catecumenato”, uma forma progressiva de conhecer Jesus e amá-l’O até O colocar no centro da vida. Já nos Actos dos Apóstolos, Pedro no seu primeiro discurso define as coordenadas para se viver e crescer na fé (cf Act 2, 32-47): 

.  reconhecer a soberania absoluta de Jesus: “Só Ele é Senhor”, centra-se n’Ele toda a vida cristã, no espiritual e mesmo no temporal;

   arrepender-se de tudo o que foi menos bom no dia a dia: sendo todos pecadores, todos têm alguma coisa de que pedir perdão, assim se purificam sempre mais; 

.  deixar-se conduzir pelo Espírito: só com a força do Espírito Santo se conseguem ultrapassar as dificuldades e viver o essencial da fé;

. revelar, com sinais comunitários, a aceitação da pessoa de Jesus: celebrar os sacramentos em cada etapa da vida; 

. aceitar o testemunho de quantos precedem na fé e são exemplos de vida cristã, vivida sem condições; 

. viver em comunidade, para ali afirmar os valores cristãos que, depois, se levam para o quotidiano, a vida de família, de trabalho ou de relação social.

Se o catecumenato é uma forma de iniciação à vida cristã, estas coordenadas aplicam-se como dinamismo catecumenal a todo o crescimento na fé, exigido a qualquer cristão.

2. A primeira forma sistemática da profecia é adquirida na catequese. Muitas vezes pensa-se que a catequese é um entretém para as crianças, sobretudo até aos dez anos. Faz-se depois a primeira comunhão, recebe-se o Crisma e, a partir daí, os cristãos convencem-se que já sabem o que é viver na fé cristã. A catequese, porém, não é aprendizagem de uma doutrina, nem tão pouco o conhecimento de umas regras morais para cumprir, ou uns ritos litúrgicos para celebrar aos domingos. Não. A catequese é iniciação ou reiniciação à vida cristã: os não baptizados iniciam-se na vida cristã, para receberem o sacramento do Baptismo; os já baptizados reiniciam-se na fé, aprofundam a fé para melhor poderem vivê-la. Então, a catequese não é uma coisa de crianças, é tarefa para todos e para toda a vida. 

.  A catequese de infância é aquela que está revestida de mil cuidados. São oito anos de reuniões em pequenos grupos, em que os pequeninos aprendem a conhecer Jesus, a falar com Ele, a descobrir que Ele está presente no mais pobre, a viver em oração e amor em qualquer momento. 

. A catequese de adolescentes tem em conta a idade de rapazes e raparigas que estão a despertar para a sua autonomia. Esta é uma idade crítica, com a tendência para romper com os pais, com um crescimento afectivo e de sensibilidade extraordinário, com o desejo de conhecer o próprio corpo, de aprender a relacionar-se com todos. Também para os adolescentes, Jesus pode ser a referência. 

.  A catequese de jovens vive-se em grupos onde se ensaia a vida comunitária da Igreja. Não basta o estudo das verdades reveladas, nem os programas de oração comunitária, é fundamental o assumir ser cristão nas mais diversas situações da vida. Não ter medo de se afirmar cristão na universidade, no trabalho ou no convívio com os amigos, é um objectivo fundamental. 

. A catequese de adultos é um complemento lógico, para quantos querem ser cristãos de verdade. A vida levanta imensas dúvidas na prática cristã. Os problemas sociais e políticos interpelam os cristãos para, perante eles, assumirem uma posição ética responsável. A própria oração deve ser recriada como diálogo com Deus, a que o Senhor responde com a Palavra. É por tudo isto que a catequese de adultos é elemento fundamental da profecia na comunidade paroquial.

Organizar bem a catequese, nestes quatro níveis, constitui um desafio constante para a Paróquia do Campo Grande. É preciso que todos os que vivem na comunidade, conforme a sua situação, cresçam na fé, fortalecendo-se como cristãos. Isto exige o envolvimento de todos nas várias catequeses.

3. Mas há outras formas de profecia a que a comunidade cristã deve dar atenção. É o caso da homilia dominical, dos grupos de reflexão temáticos, dos cursos de preparação para o Baptismo ou para o Matrimónio. O profetismo na Comunidade Paroquial do Campo Grande tem a prioridade absoluta. É que, como se diz acima, ninguém ama o que não conhece e aprofundar a fé constitui elemento essencial para quem quer ser cristão de verdade. Não basta vir à missa, cumprir o preceito dominical, é necessário o recurso a todas as outras formas de evangelização e anúncio. 

. A homilia, pequena ou um pouco mais longa, dá os elementos para a vida cristã ao longo da semana. Nela, conhecem-se os textos da liturgia e, a partir deles, abrem-se horizontes para se ser cristão na cidade, perante os inúmeros problemas actuais. 

. Os grupos de reflexão estão centrados num autor ou numa actividade paroquial, que congrega pessoas ligadas pelo seu trabalho. Aqui, na Comunidade do Campo Grande, há o grupo de Teilhard Chardin, as reuniões de médicos católicos e outros. 

. Os cursos de preparação para o Baptismo e para o Matrimónio são indispensáveis para as famílias baptizarem os seus filhos e os jovens prepararem o seu Matrimónio.

O profetismo numa comunidade continua no acompanhamento de pessoas que procuram aconselhar-se, tentar ultrapassar os seus problemas ou renovar a sua prática cristã. Pelo ministério profético, a Igreja transmite a fé e acompanha depois os crentes, para viverem o dom da vida segundo os critérios do Evangelho.

4. A estrutura da catequese está construída. Todos podem reiniciar-se na sua vida cristã. Se é certo que alguns gostarão de pertencer a grupos de reflexão, é certo também que ser catequista, a partir da própria experiência de vida, ajuda a chegar mais longe no conhecimento do Evangelho e numa prática espiritual que faz as pessoas felizes. Que a Palavra Viva de Deus chegue a todos.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior