1. A 7 de Novembro de 1716, o Papa Clemente XI, pela Bula “In Supremo Apostulatus Solio” instituiu o Patriarcado de Lisboa, com sede na Capela Real do Palácio dos Reis de Portugal. O Papa dividiu, então, Lisboa em duas dioceses distintas: a Lisboa Ocidental, com a referência à Capela Real, e Lisboa Oriental, com a catedral na Sé de Lisboa, como era, aliás, desde o século XII. 

.  Clemente XI diz qual a razão deste privilégio concedido à cidade de Lisboa: a profunda piedade e vida espiritual do rei D. João V e, sobretudo, a vocação missionária que desde os descobrimentos era vivida pelos reis de Portugal e dos Algarves.

. A  diocese de Lisboa Ocidental estava vaga e, para ela, não foi nomeado qualquer Bispo até 1740. A orientação espiritual de Lisboa foi então confiada ao Patriarca, que acumulava o múnus das duas dioceses. 

. Bento XIV, pela Bula “Salvatoris Nostri Mater”, de 13 de Dezembro de 1740, unificou as duas dioceses, instituindo definitivamente o Patriarcado de Lisboa. 

. Ao Patriarcado de Lisboa foram dadas todas as prorrogativas do Patriarcado de Veneza, com originais expressões litúrgicas, com privilégios novos dados ao estatuto Patriarcal e bênçãos inúmeras a todos os fiéis. Por este facto, o Papa Clemente XI decidiu que o Bispo de Lisboa seria nomeado Cardeal no consistório posterior à sua eleição. 

. Passou a haver, no Ocidente, dois patriarcados, o de Veneza e o de Lisboa, distinguidos pela especial comunhão com o Santo Padre e a mesma preocupação de acção missionária para levar a todos os povos a beleza do Evangelho. 

.  D. Manuel Clemente é agora o 17º Patriarca de Lisboa, a quem foi confiado, pelo Santo Padre o Papa Francisco, o governo desta porção do Povo de Deus que acolhe mais de dois milhões de fiéis.

Passados 300 anos, vale a pena recordar os feitos de natureza religiosa e de evangelização vividos pelos 17 Bispos que têm estado à frente dos destinos espirituais desta Diocese, com momentos de grande alegria e outros de grande sofrimento, onde a prática cristã foi, durante séculos, vivida pelos Reis e pelo povo.

2. O Patriarcado de Lisboa, uma das Dioceses de Portugal, tem as mesmas características da Igreja Universal. Instituídas as primeiras comunidades de Jerusalém, a Igreja é Povo de Deus em que todos os seus membros estão unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão, na Eucaristia; é assembleia em que todos põem os seus bens em comum (cf. Act 2); é também corpo místico de Cristo, como diz S. Paulo na Carta aos Coríntios, tendo como cabeça Cristo e sendo todos membros uns dos outros no mesmo corpo (cf. 1Cor 12, 12). O Concílio Vaticano II afirma que a Igreja é, sobretudo, Povo de Deus. Enquanto tal, a Diocese tem as mesmas características desse mesmo Povo. 

.  Tem como cabeça Cristo, a sua referência fundamental. É então que o Patriarcado é presidido pelo Bispo-Patriarca, mas a sua referência fundamental é sempre Cristo Jesus. 

.  Tem como condição a luta pela dignidade e liberdade humanas, na preocupação de dar atenção ao homem todo e não apenas à sua espiritualidade e relação com Deus. 

.  Tem como mandamento novo o amor, pois esse é o paradigma do cristão, segundo o projecto que Jesus Cristo ofereceu aos cristãos na sua maneira de estar, viver e relacionar-se com os outros. 

. Tem como objectivo último a felicidade para todos, no tempo e também na eternidade. Não é por acaso que o código do cristão são as Bem-Aventuranças, como modelo de chegar à felicidade verdadeira.

Esta visão da Igreja, oferecida pelo Concílio Vaticano II, repete-se em todas as Dioceses e demais comunidades cristãs. O Patriarcado de Lisboa, como Igreja Diocesana, vive esta centralidade em Cristo; esta preocupação pela dignidade e liberdade humanas, na vertente social; esta linguagem do amor, como serviço a todos; e, até, esta busca constante da felicidade.

3. A celebração de três centenários na vida do Patriarcado de Lisboa deu origem ao desafio feito pelo Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, a convocar um Sínodo Diocesano. Os Sínodos são oportunidade de reflexão. O Sínodo Diocesano é o momento de reunir alguns responsáveis da Diocese, os Bispos, muitos Presbíteros, alguns superiores religiosos e muitos leigos, para avaliar a vida da Igreja e recriá-la com novos projectos pastorais. Entre 30 de Novembro e 4 de Dezembro deste ano centenário, o Patriarcado de Lisboa repensa toda a sua vida e acção pastoral, dentro da Igreja e para o Mundo. Presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa a Diocese renova-se e define-se como “Igreja em saída”, para ir ao encontro dos não crentes, dos agnósticos e de quantos a procuram, para, com os seus valores, reinventarem a vida. Todo este trabalho de renovação centrase nos tradicionais ministérios: a Profecia, o Sacerdócio e a Caridade Pastoral. 

.  Pelo ministério profético, a Igreja de Lisboa vai ao encontro de todos para lhes anunciar Jesus Cristo. Neste anúncio cria proximidade, estabelece um diálogo de acolhimento e de compreensão de toda a gente, sendo, sobretudo, solidário com os mais pobres. O amor de Jesus, Salvador, é sinal de esperança para todos. 

.  Pelo ministério sacerdotal, o Patriarcado celebra a vida no diálogo com Deus que toda a celebração litúrgica realiza. Cada Eucaristia, para além de ser memorial da paixão, morte e ressurreição de Cristo, é também sinal de unidade, vínculo de amor e banquete de alegria pascal (cf SC 47)

. Pelo ministério da caridade, todos os cristãos se preocupam por ir ao encontro dos que mais sofrem, sendo para eles sinal de esperança e princípio de felicidade duradoura. A comunidade, isto é, o amor partilhado é o maior sinal do cristão presente no mundo.

A realização deste Sínodo Diocesano vai certamente “despertar do sono” todos os cristãos, para que se tornem apóstolos na construção de Novos Céus e Nova Terra, a Nova Jerusalém, a Cidade Santa, lugar de redenção e salvação para todos.

4. A renovação do Patriarcado de Lisboa não se fará sem a transformação pastoral de todas as comunidades cristãs. É por isso que a Paróquia dos Santos Reis Magos, ao Campo Grande, acompanha esta efeméride, com a maior exigência, para se renovar pastoralmente e se tornar capaz de ir ao encontro de todos os homens, levando-lhes, com a Pessoa de Jesus Cristo, os meios de esperança e de salvação. 

.  Pede-se a maior comunhão com o Bispo, o nosso Patriarca D. Manuel Clemente. É ele o Sumo  Sacerdote a quem está ligado o sacerdócio de todos os presbíteros e em quem os cristãos da Diocese confiam para orientação da sua vida cristã. 

.  Deve viver-se em estreita comunidade com todos os outros fiéis. Esta unidade celebra-se na partilha da Palavra de Deus, nas orações em comum e sobretudo na celebração da Eucaristia Dominical. 

. Desafia-se à caridade cristã partilhando com os pobres, não apenas a oração e a compreensão, mas, sobretudo, a repartição de bens para que ao menos a dádiva do que sobra seja útil para aqueles que não têm o essencial. 

.  Finalmente, é tempo de viver em alegria, porque só nela, grande dom do Espírito Santo, cada um é feliz e faz os outros felizes também.

Normalmente, nos aniversários apagam-se as velas do bolo de anos e cantam-se os parabéns. A luz do aniversário do Patriarcado é a Pessoa de Jesus Cristo; o agradável do bolo de anos é a beleza da convivência fraterna; o cântico de parabéns é a harmonia de uma comunidade viva que vai ao encontro de todos os outros para os fazer felizes. Que todos possamos celebrar os 300 anos do Patriarcado de Lisboa.                                                                                                                                                                                                                                         Pe. Vítor Feytor Pinto – Prior