1. Durante este tempo de preparação para o Natal a que se convencionou chamar Advento, sobretudo na Liturgia, sobressaem três figuras, com especial mensagem para este tempo de esperança: o profeta Isaías, João Baptista, o Percursor, e Maria, Mãe de Jesus. Na liturgia das horas, nas Eucaristias Dominicais, nos diversos comentários que nos orientam na espiritualidade do Advento, constantemente nos aparece algum destes três ícones.

• O Profeta Isaías envolve-nos num sonho maravilhoso: com a vinda do Messias, o Espírito Santo inundará toda a terra; surgirá um mundo de paz onde o lobo e o cordeiro pastarão juntos; e todos contribuirão para o bem comum porque as espadas se transformarão em relhas de arado e as lanças em foices para colher o trigo.

• João Baptista, o Percursor, traz-nos uma mensagem exigente: arrependei-vos porque está próximo o Reino de Deus; preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas; aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu, baptizar-vos-á no Espírito e no fogo.

• Maria, Mãe de Jesus, a mulher disponível para a acção de Deus na redenção da Humanidade: escutou com a maior atenção a mensagem do Anjo Gabriel; soube fazer discernimento para entender o que o Senhor lhe pedia; acabou por dizer um sim sem condições ao afirmar: “Servirei o Senhor como Ele quiser, seja como tu dizes”.

Estas três extraordinárias figuras, com a sua presença no Advento, ajudam-nos a preparar a chegada de Jesus, no Natal que está próximo. Não nos deixam indiferentes, obrigam-nos a repensar o caminho que percorremos e remetem-nos para a esperança de virmos a ser melhores, a partir do Nascimento de Jesus que, em breve, vamos celebrar.

2. Seremos capazes de construir um mundo novo, como Isaías nos profetizava? Perante as dificuldades do tempo em que vivemos, são precisas novas atitudes, inspiradas na força do Espírito: espírito de Sabedoria e de Inteligência, espírito de Ciência e de Conselho, espírito de Fortaleza, de Piedade e de Temor de Deus. As relações entre as pessoas deverão transformar-se e será, então, possível, “dar a Boa-Nova aos pobres, a libertação aos oprimidos e instaurar o ano da reconciliação e da paz” (cf Lc 4, 19 ss). Mas como poderemos fazer tudo isto?

• Antes de mais, na nossa casa, renovar profundamente as relações de família, fazendo crescer o amor. É este um grande objectivo do Advento. A ternura entre o marido e a mulher, a preocupação dos pais para com os filhos e destes para com os pais, a reconciliação e a comunhão serão as notas fundamentais na nossa casa.

• Logo depois, no lugar de trabalho. Às vezes há dificuldades na relação entre as pessoas e na produtividade e eficácia da acção. A competência, a par da entreajuda constante, é uma forma maravilhosa de transformar os ambientes onde habitualmente nos encontramos. O trabalho é também o nosso mundo.

• Finalmente, no nosso ambiente social. Ser igual para todos os conhecidos e amigos; acolher, compreender, escutar e servir são palavras-chave do nosso convívio, em muitas situações. Não dizer mal de ninguém, ir ao encontro de quem precisa, perdoar as pequenas ou grandes ofensas, tudo são formas de construir o novo mundo que Isaías anunciou.

O profeta veio anunciar a vinda do Messias e cada cristão é convidado a tornar esse Messias presente no mundo em que vive. Será um tempo de rara beleza, o do Natal de 2016, em que Jesus nasce na nossa casa, no nosso meio de trabalho e no nosso ambiente social.

3. O Advento traz consigo um apelo constante à conversão. A mudança de vida, tendo em conta as situações negativas em que se está envolvido, constitui um passo de grande alcance na vida cristã. A conversão pode ter, no entanto, três momentos a cultivar e a viver: a consciência de eventuais erros, o arrependimento necessário e o propósito de emenda.

• Uma consciência recta é elemento essencial à avaliação que cada um deve fazer de si mesmo. Na vida de todos os dias e com a liberdade que o Senhor nos concede, o bem e o mal caminham lado a lado. Fazer o discernimento sobre o bem e o mal das nossas vidas é fundamental.

• O arrependimento de quanto se fez de mal é elemento essencial à conversão. Só quando se compreende o que foi errado, é que se é capaz de uma atitude interior de mudança de vida. É nesta base que se alicerça o propósito de emenda, trabalho difícil mas de rara beleza.

• O perdão de Deus, a sua misericórdia, é uma garantia de um Pai que ama e que está sempre disponível para o outro. O Sacramento da Reconciliação é o sinal privilegiado deste extraordinário amor de Deus. Através do sacerdote, o Senhor vem dizer-nos “Vai e não tornes a pecar”.

Este itinerário de perdão constitui para os crentes, durante o Advento, a mais significativa forma de preparar o Natal, o Nascimento de Jesus. Pelo perdão, temos um coração novo e um espírito novo.

4. Aprender, com Maria, a dizer sempre Sim a Deus: saber que se está nas mãos de Deus e que a comunhão com Ele é o que dá sentido à vida, não é fácil, mas é mesmo o essencial cristão. Maria fê-lo, da maneira mais intensa. Dela podem recolher-se três lições:

• Saber discernir, para conhecer, com suficiente clareza, sobre qual é a vontade de Deus. Deus revela-se de muitas maneiras e o cristão tem de estar disponível para entender o que o Senhor lhe pede no dia-a-dia.

• Aceitar o que Deus quer, sempre que Ele se revela, com projectos de grande beleza, ou com situações difíceis, de grande exigência. Dizer sim ao projecto de Deus, no concrecto da nossa vida, é a fórmula mágica que recebemos de Maria. Toda a vida da Mãe de Jesus foi um sim, com selo de eternidade. É bom seguir o mesmo caminho.

• Descobrir os outros, para ir ao seu encontro, sobretudo aqueles que precisam de especial presença. Foi o que fez Maria ao ir a Ain-Karim, visitar a prima Isabel, que esperava o nascimento de João. Há muitos “outros” à nossa espera, para lhes revelarmos a ternura de Deus.

Com a referência a estes três ícones, o nosso Advento pode ser diferente, carregado da beleza vivida por Isaías, João e Maria. Preparai, então, os caminhos do Senhor, valorizai espiritualmente este tempo de Advento em que se espera o Nascimento de Jesus.

5. Quando o Natal está a chegar não podemos distrair-nos com coisas secundárias. Estes últimos dias antes do Natal trazem também consigo o perigo da dispersão. As compras que fazem perder tempo nos armazéns, as doçarias que prendem as pessoas nas cozinhas, os programas de férias, que levam para longe dos lugares habituais, as festas de família que às vezes excluem alguns, tudo isto são tentações a evitar. Os ícones do Advento fazem-nos pensar o essencial e é aí que está a verdadeira preparação do Nascimento de Jesus.

Pe. Vítor Feytor Pinto - Prior