Na minha vida de padre, deparo-me muitas vezes com pessoas que não conseguem dizer, ou mesmo ver, para onde vão. E não estou a falar só metafisicamente, estou a falar dos passos concretos que a vida nos pede a cada momento, das pequenas e das grandes escolhas que, constantemente, é preciso fazer. Estou a falar de um projecto de vida com metas e objectivos definidos a curto, médio e longo prazo… É cada vez mais difícil olhar para a frente, para o futuro e viver o presente como investimento nesse futuro. Temos medo do que pode vir, temos medo de escolher mal, temos medo de assumir compromissos que depois não sejamos capazes de honrar, temos medo de fazer apostas em que possamos sair perdedores… temos medo. E o medo é ‘tramado’, porque nos paralisa, nos impede de agir e escolher livremente, nos bloqueia a capacidade de sonhar.

Eu começaria pelo fim. Ajuda-me pôr a questão assim e definir logo à partida a meta final: vou para o céu. Pode parecer um pouco longínquo, presunçoso, ou até ingénuo pensar assim, mas acreditem que me ajuda em muitas pequenas coisas do meu dia-a-dia, em pequenas escolhas, em algumas renúncias. Porque se a meta é o céu, então, cada pequeno passo, consome espaço e tempo entre onde estou agora e onde quero chegar. É como caminhar para estar em Paris dentro de dois meses e saber que cada passo que der nesse sentido me ajuda a cumprir esse objectivo e que cada passo que der no sentido inverso me afasta do meu objectivo. Mas não posso perder o realismo de saber que este momento é mais importante focar-me no próximo passo que vou dar, para o dar com firmeza, do que em Paris, que é a meta que quero alcançar…

É preciso que saibamos para onde queremos ir e irmos definindo uma estratégia que nos ajude a chegar lá. E o bom de a grande meta ser o Céu, é que me vai fazer estar sempre a caminhar, não estagnando nos patamares intermédios de conforto e sucesso que for conquistando na vida. E aqui não faço uma distinção entre a vida dita beata e a vida profissional ou relacional, porque não há distinção. A vida é a vida e, ou ela acontece como um todo uno e coerente, ou ela estilhaça-me e faz-me sentir disperso e perdido sempre hesitante e inseguro em relação ao passo que vou dar a seguir.

Claro que há muito de imprevisível no futuro, claro que querer controlar tudo é uma ilusão, que nos pode mergulhar na frustração, mas é no pormo-nos a caminho, é no investimento que vamos fazendo a cada dia, que Deus vai acrescentando as suas maravilhas, os seus desafios. As águas estagnadas tendem a degradar -se continuamente e a vida nelas torna-se impossível, mas as águas correntes, além de estarem plenas de vida, alimentam a vida dos lugares por onde passam, num ciclo inesgotável e sempre renovado. Precisamos de ser águas correntes na vida!

É aceitável que podemos falhar a tentar. Mas é inaceitável não tentar com medo de falhar.

Padre Hugo Gonçalves