1. Cinquenta dias depois da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos no Cenáculo. O Pentecostes era uma festa judaica que trazia a Jerusalém muitos judeus da diáspora. Foi por isso que, quando um vento impetuoso soprou sobre a cidade e desceram sobre os 12 apóstolos como que línguas de fogo, cerca de três mil homens acorreram ao lugar onde os apóstolos estavam, procurando saber o que estava a acontecer. Pedro saiu então à varanda do Cenáculo e proclamou, pela força do Espírito, que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. Todos ficaram admirados, porque sendo de muitos lugares, cada um ouvia Pedro falar na sua própria língua. O Espírito Santo concedeu a Pedro o dom das línguas. Por isso todos entenderam que Cristo, que foi crucificado, estava vivo e ficava com eles para sempre. A relação do Espírito Santo com os apóstolos constitui a força para levarem o Evangelho a toda a parte. 

.O Espírito Santo foi-lhes prometido por Jesus como aquele que era o Paráclito (o que ficava sempre ao lado deles para os ajudar), o Consolador, aquele que lhes ensinava toda a verdade (cf Jo 14, 26). 

.O Espírito Santo foi-lhes dado por Jesus na tarde do dia da Ressurreição, quando o Senhor disse: “àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e assim como o Pai me enviou também Eu vos envio”(Jo 20, 22). Começou aqui a aventura da evangelização

.O Espírito Santo desceu sobre eles em plenitude, na manhã do Pentecostes. Cumpria-se assim o que Jesus lhes mandara: “Ide por todo o mundo  anunciai a Boa Nova a todos os povos, baptizandos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19). Iluminado pelo Espírito, Pedro proclamou então a ressurreição de Cristo.

Depois da partida de Jesus para a casa do Pai, o Espírito Santo é o continuador da missão que Jesus veio realizar. É na força do Espírito que todos seremos salvos: Ele vos ensinará toda a verdade, recordar-vos-á tudo o que eventualmente tenhais esquecido e ao mesmo tempo vos ensinará tudo o que Eu não tive tempo de vos dizer, disse o Senhor (cf Jo 16, 12-15).

2. A relação mais profunda dos cristãos com o Espírito Santo constitui uma devoção relativamente recente. Foram os Pentecostalistas e os Evangélicos nos Estados Unidos que criaram o movimento carismático. Depois, em 1967, surgiu o Renovamento Carismático católico, que se expandiu por todo o mundo. Surgiram algumas vozes críticas pela tentação de centrar esta espiritualidade na procura de milagres. O Cardeal Suenens, belga, estudou os fundamentos teológicos da relação do cristão com o Espírito Santo, dando ao movimento uma segurança de extraordinário valor. Hoje, o Renovamento Carismático está em duzentos países e tem cento e vinte milhões de pessoas integradas na espiritualidade carismática. No dia 3 de Junho, vigília de Pentecostes, no Circo Máximo de Roma, houve uma grande oração ecuménica liderada pelos católicos do Renovamento Carismático, e que teve também a participação dos Pentecostalistas e dos Evangélicos. Esta grande vigília foi presidida pelo Papa Francisco. Os cristãos de hoje, membros ou não do Renovamento, põem no Espírito Santo a referência ao seu crescimento na fé. Em Portugal, a devoção ao Espírito Santo tem uma beleza extraordinária nos Açores, onde anualmente cada freguesia se reúne à volta da sua capela, “o império”, coroando a rainha do Espírito Santo e fazendo um cortejo em que se pede a bênção para os campos e para as vidas. Os açorianos, desde há muito, viajam como emigrantes pelo mundo, levando esta devoção ao Espírito Santo por toda a parte. Independentemente de manterem as tradições, com a adoração ao Espírito Santo continuam os açorianos a acreditar que é o Espírito Santo que os acompanha no seu imenso peregrinar pelo mundo. Seguindo a Palavra de Deus, facilmente se compreende a importância do Espírito Santo nas nossas vidas de cristãos. 

. “Só aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito são, de verdade, filhos de Deus” (Rm 8, 14). É o Espírito Santo que nos introduz na família de Deus. Pela força do Espírito temos Deus como Pai e Jesus Cristo como irmão mais velho. Tornamo-nos filhos adoptivos de Deus, podendo confiar n’Ele ilimitadamente. 

.“Não sabeis que sois templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós?” (1Cor 6, 19). Estar possuído do Espírito é uma graça extraordinária que nos foi dada. É Jesus que, pela força do Espírito, continua vivo nas nossas vidas. O Espírito torna-nos participantes da Redenção, e simultaneamente, santifica-nos cada vez mais com a sua presença. 

.“O Espírito Santo vos ensinará toda a verdade” (Jo 16, 13). Os cristãos têm consciência de que o Espírito Santo lhes permite discernir sobre o que fazer e como devem fazer. O discernimento segundo o Espírito permite as escolhas necessárias, nas mais diversas situações da vida. Pela graça do Espírito Santo recusa-se o que é mal e escolhe-se o que é bem e assim se cresce na santidade verdadeira. 

. “Este Espírito Santo, o Senhor o derramará com abundância nos vossos corações (cf Tg 3, 1718). É o Espírito Santo que nos faz santos, isto é, que nos leva a estar em plena e perfeita comunhão com Cristo, como diz o Concílio Vaticano II (LG 50). O Senhor, na Palavra dos Apóstolos, não se cansa de dizer “sede santos como Deus é santo”. É o Espírito Santo que, na sua acção permanente, nos conduz à santidade, simplificando as dificuldades, tirando as dúvidas e entregando-nos plenamente nas mãos de Deus.

A acção do Espírito Santo na vida dos cristãos tem uma intensidade extrema. Não é necessário estar inserido num movimento carismático, qualquer que ele seja, para se ter uma relação pessoal com o Espírito Santo e sentir a sua presença na Igreja. Não se concebe a vida cristã sem o apoio permanente do Espírito Santo que o Senhor nos deixou para acompanhar as nossas vidas. Assim estamos todos a viver “num só e no mesmo espírito”, fazendo a unidade.

 3. Os cristãos, ao longo da vida, fazem um caminho de crescimento constante, caminho esse que lhes permite estarem cada vez mais próximos da Pessoa de Jesus Cristo, referência fundamental das suas vidas. Este caminho é acompanhado pela graça do Espírito Santo. 

.No Baptismo é pela força do Espírito Santo que o neófito recebe o perdão dos pecados, a filiação divina e a participação na Igreja, Povo de Deus. A unção com o óleo do Crisma afirma o dom do Espírito que lhe é oferecido. 

.Na Confirmação o cristão recebe o Espírito Santo em plenitude, quando, com o óleo do Crisma o Bispo diz expressamente: “Por este sinal, recebe o Espírito Santo, o dom de Deus”. 

. Na Reconciliação é pela força do Espírito Santo que o pecador é perdoado das suas faltas. O sacerdote, também ele pecador, pelo Espírito Santo que lhe é concedido, pode então dizer: “Deus da Misericórdia, que infundiu o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz”. 

.Na Unção dos Doentes reafirma-se a acção do Espírito Santo num sacramento de amor. Ao impor o óleo dos enfermos, o sacerdote diz: “Por esta Santa Unção e pela sua infinita misericórdia, o Espírito Santo venha em teu auxílio e ele te salve”. 

.Na Eucaristia, nas ordens sacras e no sacramento do Matrimónio, é sempre o Espírito Santo que com a sua força ajuda cada cristão a responder à vocação a que é chamado.

A vida do cristão, em todo o seu caminho, é sempre conduzida pelo Espírito Santo, que a enriquece cada vez mais. Sem o Espírito Santo, com os seus dons e os seus frutos, nunca o cristão seria capaz de atingir a santidade.

 4.Celebra-se hoje na comunidade Paroquial o Dia de Pentecostes. Na próxima semana, a 10 de Junho, cerca de 100 baptizados vão receber das mãos do Bispo, na nossa comunidade, o sacramento da Confirmação. Ao longo do ano, a norma do cristão é deixar-se conduzir pelo Espírito; é exigência da Igreja manter a unidade no Espírito; é desafio ir animado pelo Espírito ao encontro dos mais pobres. Que o Espírito Santo conduza a vida e o crescimento na fé da nossa Comunidade Paroquial do Campo Grande.

Pe..Vítor Feytor Pinto – Prior