1. O nosso Natal não pode ser como um outro Natal qualquer. Este ano de 2016 teve acontecimentos que nos abrem as portas para um Natal diferente. Foi o Ano da Misericórdia, foi o Sínodo Diocesano do Patriarcado de Lisboa, foi a promessa da vinda do Papa Francisco a Fátima no Centenário das Aparições, foi até, a compra de um terreno pela nossa Paróquia, para levar muito mais longe esta Igreja “em saída” que o Papa nos pede. O grande envolvimento para tudo isto é a certeza de que o sonho missionário deve chegar a todos. Empurrados por tudo isto, estamos agora a preparar o nosso Natal.
. O Jubileu da Misericórdia não terminou. Permite-nos o recurso à ternura de Deus, para vermos perdoadas as nossas faltas. Abre-nos também o coração à caridade para sermos misericordiosos como o Pai. Esta dimensão da misericórdia não acabou com o fecho da Porta Santa, pede agora exigência maior, para se ser em tudo motivado pelo amor.
. A Constituição Sinodal que o Senhor Patriarca ofereceu à Diocese no passado 8 de Dezembro é o melhor presente de Natal que podemos receber: tem critérios de acção pastoral para todo o trabalho que é urgente realizar numa evangelização eficaz; tem opções indispensáveis para levar a cabo a missão evangelizadora nos próximos anos; tem, sobretudo, o desafio à comunhão como elemento indispensável para o crescimento do Reino de Deus.
. A visita do Papa Francisco a Fátima, como peregrino, no Centenário das Aparições, é um convite a sermos também com Maria, peregrinos no tempo novo que, uma Igreja “em saída” permite chegar aos que andam mais longe. Há muitos não crentes à busca do essencial, há muitos que se afastaram e procuram regressar, há muitos cristãos sonolentos que é preciso acordar, há muitos praticantes que é bom tornar apóstolos. Esta é a grande mudança que a Igreja inteira quer realizar com Francisco, o Papa que vem ter connosco.
. O crescimento da nossa comunidade, com a aquisição do terreno onde já tínhamos o Jardim de Infância, constitui um momento alto da nossa caminhada como Paróquia que acolhe os mais pobres e os que mais sofrem. O edifício que ali vai nascer permitirá acolher muitas crianças e muitos séniores que estão à espera e que têm vontade de estar connosco.
Neste contexto, o nosso Natal vai ser mesmo diferente, com maior exigência e com uma esperança mais forte. Neste Natal é urgente renovar o coração, mudar a nossa casa e transformar a nossa comunidade cristã.
2. Renovar o coração. Na proximidade do Natal compreende-se melhor a oração de Ezequiel: “Senhor, tira do meu peito um coração de pedra e põe nele um coração de carne, capaz de amar” (Ez 36, 26). O profeta continua depois a pedir um coração puro. É mesmo próprio dos cristãos terem um coração bom.
. Ter consciência das coisas erradas em que se vai caindo é um imperativo fundamental. Se não há grandes faltas, há atitudes e ruídos que ensombram a nossa relação com Deus e com os irmãos. Uma consciência recta leva a discernir sobre o que é bem ou mal nas nossas vidas.
. O sacramento da reconciliação é um sinal visível de que se está arrependido e se quer corrigir o que eventualmente tenha estado errado. A frequência do sacramento é um apoio indiscutível no crescimento da fé e na vida cristã.
. O Natal prepara-se, também, neste esforço por mudar a vida. Ter um coração bom é, sem dúvida, a marca dos cristãos. Cheios de amor, podem os cristãos amar sem condições todos os outros, levando-lhes a Boa Nova da salvação.
Porque o Senhor está a chegar, os cristãos serão capazes de renovar-se interiormente, libertando-se de toda a maldade e encontrando no “bem-fazer” a razão das suas vidas.
3. Transformar os nossos ambientes, a casa, o lugar de trabalho, o meio social onde se vive supõe um esforço que não é fácil. Por vezes, na preparação do Natal há um nervosismo que compromete muito as relações humanas. É necessário redescobrir a beleza da ternura vivida com intensidade por todos. O mais importante não são as árvores de Natal, nem as consoadas com cantos tradicionais. O Natal verdadeiro sente-se no amor de uns pelos outros.
. Cada palavra, cada gesto, cada atitude, deve ser verdadeira experiência de amor. As relações em família, a entreajuda no mundo do trabalho e o encontro com os que estão sós, na vida social, tudo revela o amor do Natal. O outro é o mais importante e representa sempre o Bom Jesus que nos vai nascer.
. A capacidade de perdoar é um desafio permanente. Perdoar e aceitar o pedido de perdão fazem parte do ser cristão. Não foi por acaso que Jesus disse ser preciso perdoar 70 x 7 vezes, isto é, perdoar sempre. O tempo de Natal é um tempo privilegiado para a reconciliação e a paz.
. Cultivar a alegria é outro elemento que caracteriza o Natal cristão. Mais do que os cânticos tradicionais, é fundamental criar a alegria do coração, aquela que é fruto do Espírito Santo e tudo transforma.
Não basta dar as Boas Festas e desejar um Feliz Natal. É essencial criar os ambientes em que toda a gente se sinta bem, numa comunhão profunda, impregnada de amor, condição indispensável para nos nascer Jesus.
4. Valorizar os laços da comunidade cristã constitui um desafio para viver o Natal na Paróquia. As comunidades conhecem-se pela unidade que é conseguida entre todos os seus membros. Ninguém vem à igreja para ganhar o céu, na procura da salvação individual. Desde a comunidade de Jerusalém que os primeiros cristãos estavam unidos na doutrina dos Apóstolos, na oração e na fracção do pão (cf Act 2, 42).
. Na relação entre as pessoas, reconhece-se que todos são iguais enquanto filhos de Deus, embora sejam diferentes nas características de cada um. Por isso completam-se na constante partilha fraterna.
. Na ajuda constante entre os serviços da comunidade compreende-se que todo o trabalho está ao serviço de todos. Se é importante a vida da Paróquia, com a Eucaristia, os sacramentos, a oração permanente, não é menos importante a caridade vinda do apoio social a quem precisa e recorre à comunidade. Este repartir entre os serviços é uma força enorme na comunidade que somos.
. No acolhimento a quantos nos procuram respondemos às inúmeras carências de “gente que precisa de gente”. Cada um que bate à nossa porta é de imediato recebido pela comunidade que o espera. Se a Igreja está “em saída” para chegar a todos, está também disponível para a todos escutar, tentando logo depois resolver a dificuldade que é fonte do seu sofrimento.
Quando o Senhor está a chegar, Ele vem aos nossos corações e tudo passa a viver-se em comum, num só coração e numa só alma. A vida cristã exige a pertença a uma comunidade cuja missão consiste no serviço aos outros.
5. Na proximidade do Natal desejamo-nos uns aos outros um tempo de alegria, de serenidade e de paz. Que o Natal de cada um e que o Natal da nossa Comunidade Paroquial seja mesmo diferente, seja melhor!
Pe. Vitor Feytor Pinto – Prior