1. A Festa da Páscoa constitui o núcleo central de toda a vida cristã. A Igreja inteira, nas suas comunidades, preparou-se para celebrar a Ressurreição de Jesus, através dos 40 dias da Quaresma, com inúmeros exercícios espirituais. O coração de cada cristão foi-se abrindo à extraordinária misericórdia de Deus para aceitar a Ressurreição de Jesus e, depois, viver dela em todas as situações da vida. Para serem ressuscitados como Cristo, inspirados no mistério da Páscoa, foi necessário redescobrir a liberdade interior como indispensável para o encontro permanente com Jesus que voltou à vida. Sinais dessa liberdade foram, sem dúvida, o jejum, a oração e a esmola, padrões da renovação interior. A Quaresma foi tempo de caminho para a liberdade integral, a vitória sobre todas as mortes. Na Semana Santa e no Tríduo Pascal viveram-se os mistérios de Jesus feito homem. Cheio de amor, deu a vida por aqueles que amava. Deixou-se pregar na Cruz, após um julgamento iníquo, abandonando-se ao projecto do Pai, para a Redenção da humanidade. Na Vigília Pascal, porém, a Igreja inteira celebra a Ressurreição, a vitória definitiva sobre as mortes. A Ressurreição de Cristo tornou-se o centro de toda a fé cristã. Se a fé consiste numa identificação plena e perfeita com Cristo, o Cristo em que se acredita está vivo, uma vez que ressuscitou de entre os mortos. Para os cristãos, é então indispensável acreditar na Ressurreição, proclamar a Ressurreição e viver a Ressurreição. É este o mistério da fé.
2. Acreditar na Ressurreição através dos séculos. Há muitos que consideram a ressurreição como um acontecimento impossível. Para alguns o corpo de Jesus desapareceu porque houve um tremor de terra que abriu fendas na rocha, a ponto de engolir o corpo de Jesus. Outros afirmam que o corpo de Jesus ou foi roubado ou os discípulos o esconderam. Não é difícil, porém, verificar pela narrativa evangélica que na manhã de domingo o sepulcro está vazio. O Anjo do Senhor disse às mulheres: “Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus o Crucificado; não está aqui, pois ressuscitou como havia dito” (Mt. 28, 5-6). Jesus apareceu aos onze e a muitos outros e também as comunidades cristãs, através dos séculos, acreditaram e proclamaram a Ressurreição. Ele está vivo, Ressuscitou!
. O sepulcro vazio tem as ligaduras e o sudário arrumados como tendo sido dobrados por alguém. Não houve terramoto, nem roubo. Os discípulos andavam dispersos.
. As 11 aparições são contadas quer pelos evangelistas, quer por Paulo na 1ª Carta aos Coríntios; muitos dos que viveram com Jesus tinham perdido a esperança, como os discípulos de Emaús, e outros até perseguiam os seguidores do Nazareno, como Saulo, na Estrada de Damasco.
. O testemunho de todos os cristãos do mundo inteiro que fundamentam na ressurreição de Cristo o essencial da sua fé; quem lê os textos dos primeiros séculos sabe a força que teve a ressurreição, na afirmação desses cristãos.
Cristo ressuscitou, “está vivo, não o procurem entre os mortos” (Lc 24, 5). Com Jesus ressuscitado, os cristãos são os Apóstolos da Ressurreição de todos os povos. As mortes, quaisquer que sejam, serão vencidas.
3. Proclamar a Ressurreição foi a missão assumida pelos Apóstolos. Sempre que se dirigiam às comunidades judaicas, em qualquer parte do mundo, afirmavam que aquele que os príncipes dos Sacerdotes tinham rejeitado e levado à crucifixão, ao terceiro dia voltara a viver, estava vivo. Foi assim com Pedro, com Paulo, com João.
. Os 5 discursos de Pedro nos Actos dos Apóstolos, são hinos maravilhosos a Jesus Cristo Ressuscitado. Com tanta convicção Pedro falava que os ouvintes reagiram de uma forma surpreendente: “então, se é assim, o que temos de fazer?”
. As Cartas de Paulo exaltam sempre a Ressurreição de Jesus; o texto mais significativo encontrase no capítulo 15 da 1ª Carta aos Coríntios, em que Paulo, falando de todas as aparições de Jesus Ressuscitado, acabou por revelar que também lhe apareceu a ele que é quase um “aborto”.
. As catequeses de João, no Apocalipse, levam-no a falar às sete comunidades da Ásia Menor, pedindo-lhes que não caiam na mediocridade e se renovem na fé profunda em Jesus Cristo Ressuscitado; é Jesus vivo que os ajuda a acreditar no amor como fonte de vida.
Reler todos estes textos maravilhosos em Pedro (Actos), em Paulo (as Cartas) e em João (Apocalipse), serão para todos os cristãos elementos fortes para crescer na fé, afirmando em toda a parte Cristo Ressuscitado. Também os cristãos de hoje têm o dever de proclamar o Ressuscitado.
4. Fazer da vida cristã uma verdadeira experiência de ressurreição. Não basta acreditar que Cristo ressuscitou, é necessário levar esta ressurreição para a vida, para a família, para o trabalho, para a preocupação pelos mais pobres, para o serviço a todos os outros. S. Paulo na Carta aos Colossenses, diz expressamente: “Se ressuscitastes com Cristo, amai o que é do Alto, procurai o que é do Alto, vivei o que é do Alto” (Col 3, 1-2).
. Viver como ressuscitados consiste em estar identificado em tudo com Cristo; referir-se a Cristo nas grandes decisões da vida; se Ele está vivo, porque não segui-l’O, em tudo e sempre?
. Quando Pedro começou a anunciá-l’O na manhã de Pentecostes, os 3 mil homens que o escutavam perguntaram: “Então, o que temos de fazer?” (Act 2, 37). O mesmo aconteceu com Paulo na Estrada de Damasco: “Assim sendo, o que tenho de fazer?” (Act 9). É esta preocupação que leva a ressurreição ao quotidiano e constitui a maior beleza da Páscoa.
. Superar tudo o que é negativo, com a capacidade de vencer o mal. Marcados pela esperança e certos da ressurreição, os cristãos são em tudo agentes do bem comum. O desafio está em descobrir o lado positivo das coisas – oferecer a esperança a todos os que se cruzam connosco no caminho.
A fé só é verdadeira quando se afirma nas obras. Se à volta dos cristãos há sinais de morte, a missão deles está em vencer todo o mal para que, em Cristo Ressuscitado, toda a gente seja feliz.
5. Resta-me desejar aos membros da nossa comunidade paroquial do Campo Grande um tempo de Ressurreição na alegria desta Páscoa.
Pe. Vítor Feytor Pinto-Prior