QUINTA–FEIRA DA CEIA DO SENHOR – A festa mais importante dos judeus era a Páscoa, que comemorava a passagem da escravidão no Egipto para a liberdade na Terra Prometida e a revelação de Deus no Sinai. Celebrava-se, não no Templo nem nas sinagogas, mas em cada casa, no contexto de uma ceia presidida pelo chefe de família. Os discípulos, que se consideram uma família, perguntam a Jesus onde é que Ele quer fazer a festa. (Mt 26, 17-19).
Jesus advinha que o Sinédrio resolveu prendê-lo e condená-lo à morte. Manda preparar a ceia em casa de um seu conhecido, na véspera ou na antevéspera, da data oficial. (A data oficial era a noite de sexta para sábado, mas certos grupos tinham o costume de a antecipar. A escolha de Jesus não parecia pois demasiado insólita). De resto, no pensamento de Jesus, esta ceia transcende a festa dos judeus. Será a Ceia da Nova Aliança, a Ceia da sua despedida, a Ceia da sua presença.
Os discípulos estavam habituados a sentar-se à mesa com Jesus. Conheciam o seu gesto de abençoar o pão e o vinho da refeição. (Será nesse gesto que os discípulos de Emaús o irão reconhecer). Mas, nessa tarde, Ele acrescentou um elemento novo.
“Antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. (…). Decorria a Ceia. Jesus, sabendo que o Pai tudo pusera nas suas mãos, que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, (…) e começou a lavar os pés aos discípulos. (…). Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Ora se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. (…) Uma vez que sabeis isto, felizes de vós, se o puserdes em prática» ”. (Jo 13, 1-17). O Antigo Testamento exigia que o homem se purificasse antes de se dirigir a Deus, S. Paulo vai recomendar ao cristão que se examine a si próprio antes de comungar (I Cor 11, 28). Neste gesto do lava-pés, o Senhor ensina-nos que a purificação começa com a disposição de “lavar os pés” aos irmãos.
Os judeus acreditavam que Deus tinha firmado com o seu povo uma Aliança, inaugurada com a vocação de Abraão e confirmada no Sinai. Aguardavam o Messias, que levaria a Aliança à perfeição. O Pai envia como Messias o seu próprio Filho, Jesus. Mas os judeus não o aceitam. E Ele inaugura a Nova Aliança, firmada no Sangue da cruz, aberta a todos os homens e nações. “Este cálice é a Nova Aliança no meu Sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de Mim”. (I Cor 11, 25. Cf. Mt 26, 26-29; Mc 14, 12-16; Lc 22, 7-13).
Muitas civilizações tinham oferecido a Deus sacrifícios. O sacrifício era um dom simbólico, a exprimir a nossa gratidão e obediência. A vinda de Cristo vem abolir esses sacrifícios. Ele próprio é o dom real e definitivo. O dom de Cristo (a Epístola aos Hebreus volta a chamar-lhe sacrifício, Heb 5, 1-10; 9, 11-26) é o seu amor até ao fim, até ao extremo da cruz.
A Eucaristia será mais do que um simples cear na presença de Jesus. É comunhão com Ele, no seu Corpo e Sangue, o Corpo que vai sofrer, o Sangue que vai ser derramado na cruz. Será, por isso, participação real na sua vida, na sua morte, na sua ressurreição. S. Paulo vai escrever: “Sempre que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha” (I Cor 11, 26).
Era a despedida: “Eu vos digo que não mais a comerei até que ela se realize no reino de Deus” (Lc 22, 16). Era a presença, connosco, para sempre. Só acessível à fé.
(Um texto do Padre João Resina in a “Palavra no Tempo II”)
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CEIA DO SENHOR
Missa Vespertina
Com a Ceia Pascal, os judeus recordavam, todos os anos, a libertação do Egipto. Imolavam um cordeiro e louvavam a Deus
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias, o Senhor disse a Moisés e a Aarão na terra do Egipto: «Este mês será para vós o princípio dos meses; fareis dele o primeiro mês do ano. Falai a toda a comunidade de Israel e dizei-lhe: No dia dez deste mês, procure cada qual um cordeiro por família, uma rês por cada casa. Se a família for pequena demais para comer um cordeiro, junte-se ao vizinho mais próximo, segundo o número de pessoas, tendo em conta o que cada um pode comer. Tomareis um animal sem defeito, macho e de um ano de idade. Podeis escolher um cordeiro ou um cabrito. Deveis conservá-lo até ao dia catorze desse mês. Então, toda a assembleia da comunidade de Israel o imolará ao cair da tarde. Recolherão depois o seu sangue, que será espalhado nos dois umbrais e na padieira da porta das casas em que o comerem. E comerão a carne nessa mesma noite; comê-la-ão assada ao fogo, com pães ázimos e ervas amargas. Quando o comerdes, tereis os rins cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Comereis a toda a pressa: é a Páscoa do Senhor. Nessa mesma noite, passarei pela terra do Egipto e hei-de ferir de morte, na terra do Egipto, todos os primogénitos, desde os homens até aos animais. Assim exercerei a minha justiça contra os deuses do Egipto, Eu, o Senhor. O sangue será para vós um sinal, nas casas em que estiverdes: ao ver o sangue, passarei adiante e não sereis atingidos pelo flagelo exterminador, quando Eu ferir a terra do Egipto. Esse dia será para vós uma data memorável, que haveis de celebrar com uma festa em honra do Senhor. Festejá-lo-eis de geração em geração, como instituição perpétua».
Palavra do Senhor.
SALMO -115 (116), 12-13.15-16bc.17-18 (R. cf. 1 Cor 10, 16)
Refrão: O cálice de bênção é comunhão do Sangue de Cristo. Repete-se
Como agradecerei ao Senhor
tudo quanto Ele me deu?
Elevarei o cálice da salvação,
invocando o nome do Senhor. Refrão
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias. Refrão
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor,
na presença de todo o povo. Refrão
II LEITURA – 1 Cor 11, 23-26
S. Paulo recorda a instituição da Eucaristia pelo Senhor e a sua entrega à Igreja, para que esta a celebre até ao fim dos tempos.
Leitura da Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.
Palavra do Senhor.
ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO – Jo 13, 34
Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. Repete-se
Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor:
Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Refrão
EVANGELHO – Jo 13, 1-15
Jesus «deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura». Com este gesto Jesus manifesta-nos a Sua realidade de «Servo».
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. No decorrer da ceia, tendo já o Demónio metido no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a ideia de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai Lhe tinha dado toda a autoridade, sabendo que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-Se da mesa, tirou o manto e tomou uma toalha, que pôs à cintura. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cintura. Quando chegou a Simão Pedro, este disse-Lhe: «Senhor, Tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «O que estou a fazer, não o podes entender agora, mas compreendê-lo-ás mais tarde». Pedro insistiu: «Nunca consentirei que me laves os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se não tos lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro replicou: «Senhor, então não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu-lhe: «Aquele que já tomou banho está limpo e não precisa de lavar senão os pés. Vós estais limpos, mas não todos». Jesus bem sabia quem O havia de entregar. Foi por isso que acrescentou: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, Jesus tomou o manto e pôs-Se de novo à mesa. Então disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque o sou. Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
Palavra da salvação.
TRÍDUO PASCAL:
CEIA DO SENHOR – 29 de Março às 19,00h.
CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR– 30 de Março às 15,00h
VIGILIA PASCAL – 31 de Março às 22 horas