DURANTE MUITO TEMPO, Deus foi considerado como o Senhor da justiça que julgava e, muitas vezes, condenava quem estava em falta para com Ele e para com os outros. O Evangelho revela-nos, porém, que em Jesus Cristo, Deus é rico em misericórdia e perdão. O nosso Deus é um Deus de amor que convida todos à comunhão. A nota dominante da liturgia deste domingo aparece no Evangelho quando Jesus diz: “Ninguém te condenou? Também eu te não condeno. Vai em paz.” (Jo 8, 11).

No diálogo de Jesus com esta mulher há pormenores que merecem reflexão: a presença dela diante de Jesus é uma provocação dos judeus que não se preocupam minimamente com o que é bem ou o que é mal, pretendendo apenas apanhar Jesus em contradição; Jesus mantém-se em silêncio e escreve na terra, uma forma singular de os orientais darem tempo à reflexão; depois, Jesus interpela os fariseus: “quem de vós está sem pecado atire a primeira pedra; a nota mais saliente surge agora: “todos se afastaram, a começar pelos mais velhos”; com isto, Jesus obrigou os acusadores à autocrítica que eles não aguentaram, por isso foram embora.

Jesus estabelece com a mulher um diálogo de perdão. Não acusa, não condena, refere apenas a capacidade de entender as debilidades humanas, “ninguém te condenou, também eu te não condeno, vai em paz”.

São estes os caminhos novos, abertos através do deserto da vida, de que fala com tanta beleza, Isaías na primeira leitura. O profeta acrescenta que esta capacidade de perdão é própria de um Deus que ama o seu Povo. Paulo vai completar esta parábola do perdão, com referência à Pessoa de Jesus Cristo, na ação de qualquer evangelizador. Referindo-se a Cristo, como razão de ser da sua vida, o cristão corre para a meta, certo de que ao chegar ao fim não será condenado, mas receberá o prémio da vida eterna.

A Palavra de Deus é hoje facilitadora na relação de conversão que todos os cristãos fazemos neste tempo de Quaresma. Qualquer que seja o nosso caminho, está à nossa espera, em Cristo, um Deus que perdoa e salva. É da tradição de que na proximidade da Páscoa, os cristãos se preparem pelo sacramento da Reconciliação. Quando se chamava Confissão, este sacramento levantava inúmeros problemas na consciência de muitos. Supunha-se que o sacramento era o escancarar da própria vida perante um desconhecido. Felizmente, a Reconciliação é sobretudo o reconhecer a própria debilidade, com a certeza de que, da parte de Deus por Cristo, a única palavra é a do perdão. Vai em paz e não peques mais, é um convite que respeita a privacidade de cada um e que, ao mesmo tempo, estimula para os caminhos novos que cada um quer percorrer. Curiosamente, quem acolhe é um sacerdote, também ele pecador, a quem Jesus deu a graça de reconhecer o perdão que Deus dá quase sem condições. Condição única é o desejo de mudar a vida e corresponder ao Deus que tanto ama.

Monsenhor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA:

I LEITURA – Is 43, 16-21

«O Senhor abriu outrora caminhos através do mar. Agora, fará brotar água no deserto». No deserto dos nossos corações.

Leitura do Livro de Isaías
O Senhor abriu outrora caminhos através do mar, veredas por entre as torrentes das águas. Pôs em campanha carros e cavalos, um exército de valentes guerreiros; e todos caíram para não mais se levantarem, extinguiram-se como um pavio que se apaga. Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados, não presteis atenção às coisas antigas. Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes? Vou abrir um caminho no deserto, fazer brotar rios na terra árida. Os animais selvagens – chacais e avestruzes – proclamarão a minha glória, porque farei brotar água no deserto, rios na terra árida, para matar a sede ao meu povo escolhido, o povo que formei para Mim e que proclamará os meus louvores».
Palavra do Senhor.

SALMO – 125 (126), 1-6 (R. 3)

Refrão: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor. Repete-se

Ou: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo. Repete-se

Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo. Refrão

Diziam então os pagãos:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria. Refrão

Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria. Refrão

À ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta, vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas. Refrão

II LEITURA – Filip 3, 8-14

Conhecer a Cristo, para S. Paulo, é entrar em relação pessoal com Ele, é estabelecer uma união vital com Aquele que passou da morte à vida.

Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos: Considero todas as coisas como prejuízo, comparando-as com o bem supremo, que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor. Por Ele renunciei a todas as coisas e considerei tudo como lixo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar, não com a minha justiça que vem da Lei, mas com a que se recebe pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e se funda na fé. Assim poderei conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, configurando-me à sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos. Não que eu tenha já chegado à meta, ou já tenha atingido a perfeição. Mas continuo a correr, para ver se a alcanço, uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus. Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido. Só penso numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta, em vista do prémio a que Deus, lá do alto, me chama em Cristo Jesus.
Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO

Refrão: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai. Repete-se

Convertei-vos a Mim de todo o coração,
diz o Senhor;
porque sou benigno e misericordioso. Refrão

EVANGELHO – Jo 8, 1-11

A mulher adúltera.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, Jesus foi para o monte das Oliveiras. Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele. Então sentou-Se e começou a ensinar. Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus uma mulher surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar. Mas Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão. Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão. Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos, e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio. Jesus ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
Palavra da salvação.