AÇÃO E CONTEMPLAÇÃO – Há muitos que se interrogam sobre o que é ser cristão. Será que o essencial está em repetir muitas orações, frequentar muitas liturgias e ter tempo de silêncio contemplativo? Ou ser cristão está muito mais numa ação constante para, em toda a parte, poder anunciar o Evangelho?
A liturgia deste domingo procura dar resposta a esta interrogação, apresentando a vida de Jesus, modelo da vida cristã, como uma síntese da ação e contemplação. Se a vida do cristão está na comunhão total com Deus e com os irmãos, então, o suporte da ação está sem dúvida na oração, na relação com Deus. Mas o testemunho da relação com Deus está certamente no evangelizar, isto é, numa ação pastoral que a todos revele o Evangelho da Caridade. O cruzamento da vida ativa com a vida contemplativa constitui, sem dúvida, o essencial da vida cristã.
No Livro de Job está o retrato da natureza humana. Job reconhece-se como um soldado, um mercenário ou um servo, figuras secundárias na construção do mundo. A sua confiança em Deus está posta à prova. É a história da natureza humana (primeira leitura)
Jesus repartiu a sua vida pública pela ação e contemplação. Em Cafarnaúm, multiplicou as curas, mas depois foi para um lugar deserto para dialogar com o Pai (Evangelho).
Paulo sente a necessidade da oração, mas acaba por confessar: «Ai de mim se eu não evangelizar» (segunda leitura).
A liturgia deste domingo acaba por afirmar que a verdadeira vida cristã tem tempos fortes de oração, mas tem também a responsabilidade da ação, numa evangelização eficaz.
Monsenhor Vitor Feytor Pinto
***************************************************
LITURGIA DA PALAVRA:
«De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu.
Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar.
Quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram».
Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas,
a fim de pregar aí também,»
(Mc 1, 35-37)
I LEITURA – Job 7, 1-4.6-7
«Recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura.»
Leitura do Livro de Job
Job tomou a palavra, dizendo: «Não vive o homem sobre a terra como um soldado? Não são os seus dias como os de um mercenário? Como o escravo que suspira pela sombra e o trabalhador que espera pelo seu salário, assim eu recebi em herança meses de desilusão e couberam-me em sorte noites de amargura. Se me deito, digo: ‘Quando é que me levanto?’. Se me levanto: ‘Quando chegará a noite?’; e agito-me angustiado até ao crepúsculo. Os meus dias passam mais velozes que uma lançadeira de tear e desvanecem-se sem esperança. – Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade».
Palavra do Senhor.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 146 (147), 1-2.3-4.5-6 (R. cf. 3a ou Aleluia)
Refrão: Louvai o Senhor, que salva os corações atribulados. Repete-se
Ou: Aleluia. Repete-se
Louvai o Senhor, porque é bom cantar,
é agradável e justo celebrar o seu louvor.
O Senhor edificou Jerusalém,
congregou os dispersos de Israel. Refrão
Sarou os corações dilacerados
e ligou as suas feridas.
Fixou o número das estrelas
e deu a cada uma o seu nome. Refrão
Grande é o nosso Deus e todo-poderoso,
é sem limites a sua sabedoria.
O Senhor conforta os humildes
e abate os ímpios até ao chão. Refrão
II LEITURA – 1 Cor 9, 16-19.22-23
«Ai de mim se não anunciar o Evangelho!»
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Anunciar o Evangelho não é para mim um título de glória, é uma obrigação que me foi imposta. Ai de mim se não anunciar o Evangelho! Se o fizesse por minha iniciativa, teria direito a recompensa. Mas, como não o faço por minha iniciativa, desempenho apenas um cargo que me está confiado. Em que consiste, então, a minha recompensa? Em anunciar gratuitamente o Evangelho, sem fazer valer os direitos que o Evangelho me confere. Livre como sou em relação a todos, de todos me fiz escravo, para ganhar o maior número possível. Com os fracos tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo. E tudo faço por causa do Evangelho, para me tornar participante dos seus bens.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Mt 8, 17
Refrão: Aleluia. Repete-se
Cristo suportou as nossas enfermidades
e tomou sobre Si as nossas dores. Refrão
EVANGELHO – Mc 1, 29-39
Jesus quer levar a Boa Nova a toda a parte e esta sua acção é acompanhada de gestos concretos; no entanto perante as manifestações do povo, por esse Seu poder messiânico, procura um lugar ermo para aí orar ao Pai.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.
Palavra da salvação.