O SOFRIMENTO HUMANO E OS DONS DE DEUS – A vida humana tem momentos de grande alegria mas é povoada também por situações de muito sofrimento. Pode ser sofrimento físico, causado por doenças, ou sofrimento moral, radicado no abandono, ou sofrimento social, provocado por marginalizações. É perante o sofrimento humano que se torna mais urgente a solidariedade necessária. De facto, sobretudo neste tempo de crise, são muitas as pessoas que se sentem sós, postas à margem do caminho. As doenças também, muitas vezes, são surpresa por inesperadas. Hoje há mesmo novas “lepras” que atingem multidões: os cancros, os acidentes vasculares, as crises cardíacas, a par do alzheimer ou do parkinson. Todas estas situações são motivo de sofrimento e angústia. E, quem se sente marcado pela dor, tem vontade de gritar: Vem Senhor, “se quiseres podes curar-me” (Mc 1, 40). A doença nunca é um castigo de Deus, nem pode ser querida por Deus, porque Deus é Pai e um pai não abandona o seu filho. O mesmo se dá com a pobreza e a exclusão social. Tais coisas não são queridas por Deus. Tudo isto são limites humanos, causados pela debilidade da natureza ou pela maldade social. Na liturgia de hoje, compreende-se tudo isto, na marginalização dos leprosos, descrita pelo Levítico (1ª leitura), ou na recomendação de Jesus ao leproso que O procurava e a quem Jesus pediu que, segundo a lei, se fosse mostrar aos sacerdotes (Evangelho). Perante as atitudes de Jesus compreende-se o grito de Paulo: sede meus imitadores, como eu sou de Jesus Cristo (1 Cor 11, 1 – 2ª leitura). Paulo aprendeu com Jesus a ser solidário com os marginais (cf Fil).
1. A exclusão social
As normas que a lei impunha para os leprosos, na maneira de vestir ou no lugar onde habitar, não são apenas critério do Antigo Testamento. Hoje há inúmeras pessoas marcadas pela mesma exclusão social. Os sem-abrigo, os pobres a viverem nos bairros de lata, os migrantes, os deficientes, sem solução para o seu problema, a par das prostituídas, dos ex-reclusos, dos desempregados, são outros tantos excluídos sociais que estão à beira do caminho a pedir aos cristãos que os reintegrem na sociedade. Há hoje até novos pobres que se auto excluem por terem vergonha da situação difícil em que caíram. Jesus soube acolher contrariando as normas do Levítico. Será que os cristãos serão capazes também de ter atitudes novas perante as dificuldades dos outros?
2. Vai mostrar-te aos sacerdotes
Jesus tem sempre iniciativas originais. Sabe que há leis a cumprir mas sabe também que há sofrimentos a superar. Se Ele pode, com uma palavra, curar o leproso que chamou por Ele, sabe também que a plena reintegração social exige o cumprimento de regras que até não são difíceis. Então, retoma a lei antiga e diz ao leproso: “vai mostrar-te aos sacerdotes, para que reconheçam que tu estás curado”. O homem cumpriu o que Jesus lhe pedira, mas não foi capaz de guardar silêncio, dada a maravilha que nele se operara, a cura total. Quando se faz o bem, queiramos ou não, ele é proclamado por cima dos telhados. Jesus tornou-se mais conhecido e todos O procuravam. Este é um desafio para os cristãos, se praticarem o bem, serão conhecidos e “darão razão da esperança que neles habita” (1 Pd 3, 15).
3. Afirmar a esperança
Paulo centra toda a sua acção na Pessoa de Jesus Cristo, tudo para glória de Deus. Implica porém, que a sua vida seja o primeiro fundamento da adesão à Pessoa de Cristo. Por isso vai dizer aos seus colaboradores: “sede meus imitadores como eu sou de Cristo” (1 Cor 11, 1). Compreende-se que Paulo cuide dos que sofrem, reintegre os que estão à margem, anuncie o amor gratuito, revele em tudo a Pessoa de Jesus.
Monsenhor Vítor Feytor Pinto
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LITURGIA DA PALAVRA:
” «SE QUISERES, PODES CURAR-ME»
JESUS, COMPADECIDO, ESTENDEU A MÃO, TOCOU-LHE E DISSE:
«QUERO: FICA LIMPO».”
(Mc 1, 40-41)
I LEITURA – Lev 13, 1-2.44-46
A dura legislação de Moisés a respeito dos leprosos.
Leitura do Livro do Levítico
O Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo: «Quando um homem tiver na sua pele algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada, que possa transformar-se em chaga de lepra, devem levá-lo ao sacerdote Aarão ou a algum dos sacerdotes, seus filhos. O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’. Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento».
Palavra do Senhor.
SALMO – 31 (32), 1-2.5.7.11 (R. 7)
Refrão: Sois o meu refúgio, Senhor;
dai-me a alegria da vossa salvação. Repete-se
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o Senhor
não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano. Refrão
Confessei-vos o meu pecado
e não escondi a minha culpa.
Disse: Vou confessar ao Senhor a minha falta
e logo me perdoastes a culpa do pecado. Refrão
Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos,
fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor,
exultai, vós todos os que sois rectos de coração. Refrão
II LEITURA – I Cor 10, 31 – 11, 1
Procurando imitar Jesus, S. Paulo vive, unicamente, para servir os irmãos, e pede-lhes que sigam o seu exemplo.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus. Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente, não buscando o próprio interesse, mas o de todos, para que possam salvar-se. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.
Palavra do Senhor.
ALELUIA – Lc 7, 16
Refrão: Aleluia. Repete-se
Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo. Refrão
EVANGELHO – Mc 1, 40-45
A cura do leproso.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.
Palavra da salvação.