ACEITAR PERDER PARA GANHAR – Os critérios do mundo são completamente diferentes dos critérios de Deus. O importante para o mundo é ter bens materiais, é exercer poder nos grupos humanos em que se está inserido, e usufruir o máximo prazer de todas as situações que a vida oferece. Ter, poder e prazer são critérios do mundo. Não é assim para o cristão. Mais importante do que ter é saber partilhar com os que não têm. Em vez de dominar os outros pelo poder que se exerce, é descobrir que o serviço e o amor são valores que permitem fazer os outros felizes. Também não se pode centrar a vida no prazer que dela se tira, pois é no sacrifício que se enriquece a relação com os outros, fonte de felicidade para todos. Estas atitudes cristãs, a partilha, o serviço, o sacrifício, parecem perda aos olhos do mundo, mas são mais-valia aos olhos de Deus. Perder para ganhar é o desafio da Palavra de Deus neste domingo.

  1. O profeta Jeremias estabelece o confronto entre os critérios do mundo e os critérios de Deus. «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança» e «bendito quem confia no Senhor e nEle põe a sua esperança» (Jo 17, 5.7). A partir das duas afirmações, com rasgos de poesia, em expressão simbólica, o profeta fala da árvore plantada à beira da água, da folhagem verdejante e do fruto que irá a seu tempo acontecer. O homem feliz, confiante no Senhor, dEle recebe os bens simbolizados na frescura da água, na beleza da cor e na alegria de frutificar os dons sempre mais valiosos.
  2. Os habitantes de Corinto, intelectuais como eram, discutiam o problema da Ressurreição e muitos deles consideravam que ela não era possível. Paulo, homem de cultura, aceita debater a questão e fá-lo com extraordinária inteligência: «Alguns dizem que não há ressurreição dos mortos. Mas se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou.» (1Cor 15, 12.16) As consequências são absolutamente comprometedoras para os cristãos, porque, então, a sua fé não tem sentido, permanecem no pecado e são os mais infelizes dos homens. Paulo, porém, faz logo depois a proclamação da sua fé: «Mas Ele ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram.» (1Cor 15,20) A ressurreição de Cristo tornou-se, por isso, o fundamento da fé, a primeira referência para a vida, o que a tudo dá sentido. NELE todos ressuscitamos.
  3. Quem lê esta página do Evangelho descobre uma outra ordem de valores. Felizes os que têm  um coração de pobre, os que têm um coração que perdoa, os que têm um coração sincero, os que têm um coração capaz de construir a justiça e fabricar a paz. São Lucas, na pegada de Jeremias, acrescenta uma série de imprecações: ai de vós os ricos, os saciados, os que estão sempre a rir, os que só recebem elogios. A página do Evangelho confirma que a perda recebida com serenidade é mesmo a única fonte de  alegria e de paz.

Monsenhor Vitor Feytor Pinto

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LITURGIA DA PALAVRA:

I LEITURA – Jer 17, 5-8 

«Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança.»

Leitura do Livro de Jeremias
Eis o que diz o Senhor: «Maldito quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor. Será como o cardo na estepe, que nem percebe quando chega a felicidade: habitará na aridez do deserto, terra salobre, onde ninguém habita. Bendito quem confia no Senhor e põe no Senhor a sua esperança. É como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para a corrente: nada tem a temer quando vem o calor e a sua folhagem mantém-se sempre verde; em ano de estiagem não se inquieta e não deixa de produzir os seus frutos».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 1, 1-2.3.4.6 (R. Salmo 39, 5a)

Refrão: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor. Repete-se

Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite. Refrão

É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo
e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido. Refrão

Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição. R.

II LEITURA – 1 Cor 15, 12.16-20

«Se Cristo ressuscitou dos mortos, porque dizem alguns no meio de vós que não há ressurreição dos mortos?

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
Irmãos: Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, porque dizem alguns no meio de vós que não há ressurreição dos mortos? Se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, ainda estais nos vossos pecados; e assim, os que morreram em Cristo pereceram também. Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Lc 6, 23ab

Refrão: Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor,
porque é grande no Céu a vossa recompensa. Repete-se

EVANGELHO – Lc 6, 17.20-26

As bem-aventuranças

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, Jesus desceu do monte, na companhia dos Apóstolos, e deteve-Se num sítio plano, com numerosos discípulos e uma grande multidão de toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e Sidónia. Erguendo então os olhos para os discípulos, disse: Bem-aventurados vós, os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação. Ai de vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. Ai de vós, que rides agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar. Ai de vós, quando todos os homens vos elogiarem. Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos profetas.
Palavra da salvação.