1. A relação social, a proximidade, a capacidade de acolher, a solidariedade para com os que sofrem e até para com os mais pobres, tudo isto faz parte do ser humano, constantemente chamado ao encontro com os outros e, mesmo, à comunhão com eles. Todas as pessoas vivem numa comunidade. Pode ser a família, ou o lugar de trabalho, ou até a simples convivência com a vizinhança ou as pessoas que habitualmente se encontram no café. Toda a relação com os outros faz as pessoas felizes. Se esta é a característica fundamental da pessoa humana – a sociabilidade – há no entanto situações únicas de rotura e de divisão nas diversas comunidades em que qualquer um se encontra. Vive-se numa sociedade permanentemente em conflito.
.Na família, multiplicam-se as separações e os divórcios, a par de situações em que os filhos ficam ao abandono.
.Na vida social, agravam-se as diferenças entre pobres e ricos, entre pessoas privilegiadas e outras votadas à marginalidade.
.Na vida política, erguem-se muros entre as ideologias e os partidos, com a incapacidade de diálogo que favoreceria o bem comum.
.No mundo do trabalho, organizam-se movimentos que tornam impossíveis relações normais entre gestores e trabalhadores.
.Na comunicação social, impõe-se o contraditório, provocando a total incapacidade de chegar a acordo, nas causas mais simples do convívio humano.
.No âmbito da religião, torna-se muitas vezes impossível o respeito pela opção de cada um, não se aceitando o diálogo ecuménico e inter-religioso.
Este mundo de divisão não é novo. Ao longo dos séculos sempre aconteceram as brigas, as incompreensões, as violências e até as guerras entre os povos. Também foi assim nas comunidades cristãs, o que levou Paulo a dizer aos cristãos de Corinto: “Uns dizem que são de Pedro, outros de Paulo, outros de Apolo, outros de Cristo”, e acrescentou: “Por acaso Cristo está dividido?” Paulo fazia a pregação da comunhão até à unidade (cf 1Cor 1, 10).
2. A Palavra de Deus, centro de toda a acção pastoral das comunidades cristãs no Patriarcado (CSL 38), convida a viver em comunhão. De facto, Jesus escolheu 12 Apóstolos, depois chamou 72 discípulos, no Monte da Ascensão eram já 500 irmãos, mas a todos Ele pôde dizer: “Que todos sejam um, como Eu e o Pai somos um só e, por isso, creia o mundo que Tu me enviaste” (Jo 17, 20). É de notar que Jesus convida à comunhão na unidade, a grande fonte da evangelização. Esta unidade é o elemento-chave para o mundo acreditar.
.No início da Criação, Deus “fê-los homem e mulher para serem um só e através desta comunhão crescerem, multiplicarem-se e dominarem a terra” (cf. Gn 1, 27-28).
.Todos os profetas fizeram apelo à unidade. Inúmeras vezes Deus fala na relação de comunhão: “Vós sereis o meu Povo e eu serei o vosso Deus” (Ez 36, 28).
.Jesus proclama o amor até à comunhão total, convidando ao perdão, à reconciliação, à unidade sem fronteiras (cf. Mt 5 e Jo 13).
.A vida das primeiras comunidades cristãs eram a expressão desta unidade: “Todos estavam unidos na doutrina dos Apóstolos, na fracção do pão, nas orações e pondo tudo em comum” (Act 2, 42-47).
.A expressão muitas vezes repetida nos Actos e nos escritos dos Apóstolos é esta: “Um só coração e uma só alma” (Act 4, 32).
.Paulo repetia-o várias vezes: “ Uma só fé, um só Baptismo, um só Deus que é Pai de todos” (Ef 4, 5-6; 1Cor 8, 6), reafirmando a comunhão cristã, a Igreja como Corpo de Cristo, na mais profunda unidade e comunhão.
Ser discípulo de Cristo implica, necessariamente, viver em comunhão com Deus e com todos os outros. Para o cristão, unido à Pessoa de Jesus, só o amor conta. Por isso deve deixar a liberdade dos instintos como a libertinagem, idolatria, ódios, invejas, discórdias e ciúmes” (Gal 5, 20-21) e abrir o coração ao amor, à alegria, à paz, à comunhão total” (cf. Gal 5, 22).
3. A comunhão até à unidade tem sido uma das grandes preocupações do Patriarca de Lisboa nos últimos anos. D. José Policarpo não se cansava de repetir ser necessária uma comunhão profunda de cada um com Deus e com todos os outros. A Igreja Diocesana e todas as outras comunidades cristãs deveriam manter a plenitude da comunhão com o Bispo e com todos os outros cristãos, sacerdotes, religiosos ou leigos. D. Manuel Clemente, a partir do Sínodo Diocesano, pede uma comunhão vivida no quotidiano. Em mensagem pós-sinodal o Senhor Patriarca diz que: “a edificação comunitária e vivência da comunhão para o serviço do mundo” é essencial, lançando, depois, desafios extraordinários:
.Viver a misericórdia, rosto da comunhão e alma de missão (CSL – Constituição Sinodal de Lisboa 59).
.Fazer da Igreja uma rede de relações fraternas (CSL 60).
.Promover a consciência missionária dos baptizados (CSL 61), fazer discípulos missionários (63), com uma consciência missionária e vocacional (65).
.Promover a recomposição familiar da vida comunitária (CSL 66).
Esta proposta de comunhão até à unidade envolve a vida de todos os cristãos. O cristão não está isolado, está aberto a todos, de tal maneira que a todos acolhe, a todos serve, a todos ama.
4. A oportunidade da visita pastoral à Vigararia IV e à Paróquia do Campo Grande é um tempo privilegiado de comunhão. As pessoas, os movimentos, as diversas organizações da Paróquia ao nível da profecia, da liturgia e da caridade, têm de descobrir a importância da comunhão total. Não pode haver “capelinhas”, nem “pessoas mais importantes”, nem “marginalizados”. Todos têm de ser um só, como Jesus e o Pai são um só. Não se é de Pedro, de Paulo ou de Apolo (1Cor 1-10), todos são de Cristo e é Cristo que nos une, é Ele a referência única da nossa fé, é Ele a fonte do amor e é Ele o motivo de toda a evangelização. Que sejamos todos, com Ele, um só. A Paróquia do Campo Grande tem o Padre Hugo Gonçalves como primeiro pastor. Estejamos todos unidos a ele e, com ele, amemo-nos uns aos outros, para levarmos esta mensagem de amor a toda a parte.
Pe. Vítor Feytor Pinto