A liturgia deste domingo faz apelo à oração que os cristãos devem manter constantemente ao longo da sua vida. A oração é encontro pessoal com Deus, é também um diálogo vivo que interpela e compromete e é finalmente, uma experiência vital de Deus. O Evangelho refere a insistência dos discípulos que tinham sentido a necessidade de fazer oração. Eles fazem referência ao facto de João Baptista ter ensinado os seus discípulos a orar. É perante esta insistência que Jesus lhes fala da maneira concreta de comunicar com Deus. Toda a oração implica uma relação pessoal com Deus a quem os cristãos podem chamar Pai. Por isso, o modelo de oração apresentada por Jesus começa com esta expressão: “Pai-nosso que estais no céu”.

O modelo do Pai-Nosso implica três atitudes de relação com Deus numa total e profunda comunhão e três grandes compromissos de solidariedade com os outros. Actos de adoração são estes: o desejo do Reino de Deus, o abandono à vontade do Senhor, e a santificação permanente do Seu nome. Os compromissos são expressão de solidariedade: o pão que se reparte para todos terem pão, o perdão até ao esquecimento de qualquer ofensa e a liberdade interior perante as eventuais tentações do dia a dia. O Pai-nosso é expressão do encontro, do diálogo e da experiência vital de Deus.

Importa, porém, orar sempre sem nunca desanimar. Esta constância na oração é referida no Evangelho, quer através da estória do homem que bate à porta do seu amigo pela meia-noite, para lhe pedir pão, quer, sobretudo, com a insistência referida nestas três palavras “pedi e dar-se-vos-à, batei e abrir-se-vos-à, buscai e achareis (cf Lc 11,9). Esta fidelidade à oração é a expressão de um amor que encontra em Deus o sentido de uma verdadeira paternidade.

Toda a oração tem quatro dinamismos: a adoração, a súplica, o perdão, a acção de graças. Pela liturgia de hoje nós compreendemos melhor o perdão de Deus, referido no diálogo de Abraão que oferecia a fidelidade de dez justos para a salvação de todo o povo. A súplica está bem expressa na insistência que a oração contém, na lindíssima versão do capítulo 11 de S. Lucas. A adoração e a acção de graças são referidas por S. Paulo aos Colossenses em que os cristãos, sepultados e ressuscitados com Cristo, se identificam com Ele no caminho da fé e nas atitudes de caridade.

Monsenhor Vitor Feytor Pinto
***************************************************************************

«SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR»

(Lc 11, 1)

I LEITURA – Gen 18, 20-32

Abraão negoceia com Deus a salvação de Sodoma.

Leitura do Livro do Génesis
Naqueles dias, disse o Senhor: «O clamor contra Sodoma e Gomorra é tão forte, o seu pecado é tão grave que Eu vou descer para verificar se o clamor que chegou até Mim corresponde inteiramente às suas obras. Se sim ou não, hei-de sabê-lo». Os homens que tinham vindo à residência de Abraão dirigiram-se então para Sodoma, enquanto o Senhor continuava junto de Abraão. Este aproximou-se e disse: «Irás destruir o justo com o pecador? Talvez haja cinquenta justos na cidade. Matá-los-ás a todos? Não perdoarás a essa cidade, por causa dos cinquenta justos que nela residem? Longe de Ti fazer tal coisa: dar a morte ao justo e ao pecador, de modo que o justo e o pecador tenham a mesma sorte! Longe de Ti! O juiz de toda a terra não fará justiça?». O Senhor respondeu-lhe: «Se encontrar em Sodoma cinquenta justos, perdoarei a toda a cidade por causa deles». Abraão insistiu: «Atrevo-me a falar ao meu Senhor, eu que não passo de pó e cinza: talvez para cinquenta justos faltem cinco. Por causa de cinco, destruirás toda a cidade?». O Senhor respondeu: «Não a destruirei se lá encontrar quarenta e cinco justos». Abraão insistiu mais uma vez: «Talvez não se encontrem nela mais de quarenta». O Senhor respondeu: «Não a destruirei em atenção a esses quarenta». Abraão disse ainda: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei mais uma vez: talvez haja lá trinta justos». O Senhor respondeu: «Não farei a destruição, se lá encontrar esses trinta». Abraão insistiu novamente: «Atrevo-me ainda a falar ao meu Senhor: talvez não se encontrem lá mais de vinte justos». O Senhor respondeu: «Não destruirei a cidade em atenção a esses vinte». Abraão prosseguiu: «Se o meu Senhor não levar a mal, falarei ainda esta vez: talvez lá não se encontrem senão dez». O Senhor respondeu: «Em atenção a esses dez, não destruirei a cidade».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 137 (138), 1-3.6-8 (R. 3a)

Refrão: Quando Vos invoco,
sempre me atendeis, Senhor. Repete-se

De todo o coração, Senhor, eu Vos dou graças,
porque ouvistes as palavras da minha boca.
Na presença dos Anjos hei-de cantar-Vos
e adorar-Vos, voltado para o vosso templo santo. Refrão

Hei-de louvar o vosso nome
pela vossa bondade e fidelidade,
porque exaltastes acima de tudo o vosso nome
e a vossa promessa.
Quando Vos invoquei, me respondestes,
aumentastes a fortaleza da minha alma. Refrão

O Senhor é excelso e olha para o humilde,
ao soberbo conhece-o de longe.
No meio da tribulação Vós me conservais a vida,
Vós me ajudais contra os meus inimigos. Refrão

A vossa mão direita me salvará,
o Senhor completará o que em meu auxílio começou.
Senhor, a vossa bondade é eterna,
não abandoneis a obra das vossas mãos. Refrão

II LEITURA – Col 2, 12-14

Pelo baptismo a nossa vida ficou intimamente unida à de Cristo. Com Ele somos chamados à ressurreição, depois de termos morrido para o pecado.

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses
Irmãos: Sepultados com Cristo no baptismo, também com Ele fostes ressuscitados pela fé que tivestes no poder de Deus que O ressuscitou dos mortos. Quando estáveis mortos nos vossos pecados e na incircuncisão da vossa carne, Deus fez que voltásseis à vida com Cristo e perdoou-nos todas as nossas faltas. Anulou o documento da nossa dívida, com as suas disposições contra nós; suprimiu-o, cravando-o na cruz.
Palavra do Senhor.

ALELUIA – Rom 8, 15bc

Refrão: Aleluia. Repete-se

Recebestes o espírito de adopção filial;
nele clamamos: «Abá, ó Pai». Refrão

EVANGELHO – Lc 11, 1-13

O poder da oração.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo, estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’». Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa. Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».
Palavra da salvação.